A contraofensiva da Ucrânia para retomar o território de Kherson, onde fica uma usina nuclear ocupada pela Rússia, dominou as atenções dos investidores no mercado do trigo, que encerrou o dia em forte alta na bolsa de Chicago. Os contratos do cereal para dezembro, os mais negociados, subiram 4,66% (37,50 centavos de dólar), a US$ 8,4275 por bushel.
“Acreditamos que o corredor de grãos continuará funcionando ao menos no curto prazo, a menos que haja uma grande mudança no curso da guerra. Os prêmios [de exportação pelo] Mar Negro provavelmente aumentarão porque o mercado foi lembrado da fragilidade da situação”, afirmou Andrey Sizov, da consultoria russa SovEcon.
Segundo Fábio Lima, consultor em gestão de risco de trigo da StoneX, a valorização do milho também ofereceu suporte ao trigo. Os dois cereais são “concorrentes” na indústria de ração animal. Pesam sobre as cotações, por outro lado, a melhora das perspectivas para o plantio de trigo de inverno nos Estados Unidos depois da ocorrência de chuvas nas principais áreas de cultivo no Meio-Oeste do país, disse Terry Reilly, da Futures International, à Dow Jones Newswires. Ele ressalva que o tempo continua seco em Nebraska e no Colorado.
Milho
O milho também avançou nesta segunda-feira, puxado pelas projeções da expedição Pro Farmer Crop Tour para a safra americana — os dados saíram na última sexta, após o fechamento da bolsa. Os papéis do cereal para dezembro subiram 2,82% (18,75 centavos de dólar), a US$ 6,83 por bushel.
A consultoria privada indicou que a colheita americana será de 349,5 milhões de toneladas em 2022/23, quase 15 milhões de toneladas a menos que a última previsão do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA).
“Sumiram 15 milhões de toneladas da oferta para o próximo ano, e isso pesa demais. É provável que o USDA também reduza suas projeções no relatório de setembro, mas não sei se o corte será como o da Pro Farmer. Os estoques de passagem também devem vir menores [do que no relatório de agosto]”, disse ao Valor o sócio-proprietário da Germinar Agronegócios, Roberto Carlos Rafael.
Segundo o analista Terry Reilly, a falta de chuvas em outras importantes regiões produtoras do mundo também oferece suporte às cotações. “Estima-se que metade da China esteja passando por algum tipo de seca. Na França, as plantações de milho em boas condições caíram de 50% para 47% do total”, afirmou. De aacordo com o escritório agrícola FranceAgriMer, em virtude da onda de calor que atinge a Europa, as condições das lavouras francesas de milho são as piores dos últimos dez anos. Em agosto de 2021, as lavouras em boas condições eram 91% do total, segundo a Reuters.
Soja
Nas negociações da soja, o contrato da soja para novembro caiu 1,61% (23,50 centavos de dólar), a US$ 14,3775 por bushel, e os lotes de segunda posição, para janeiro do ano que vem, recuaram 1,54% (22,50 centavos de dólar, a US$ 14,43 por bushel.
Os preços da oleaginosa também refletiram os números da Pro Farmer, que indicam que a colheita americana será de 123,4 milhões de toneladas em 2022/23, projeção similar à estimativa mais recente do USDA. “O mercado está percebendo que a soja não é um problema tão grande quanto se esperava”, afirmou Roberto Carlos Rafael.
Ele acrescenta que a perspectiva de safra volumosa fez os produtores americanos retomarem as vendas para evitarem o risco de negociar a produção por preços mais baixos que os atuais nos próximos meses.
De acordo o sócio da Germinar Agronegócios, pode ser cedo para descartar novos cortes nas projeções para produtividade da soja dos EUA. No país, o plantio da oleaginosa ocorre depois da semeadura do milho, o que expõe a cultura a problemas climáticos até meados de setembro.
O Commodity Weather Group alertou no fim da semana passado que o tempo continua seco em Dakota do Sul, Minnesota, Nebraska, Kansas, Iowa, Illinois, Indiana e Michigan. A previsão para os próximos dias é de ocorrência apenas de chuvas isoladas em algumas áreas de produção da soja.