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Água limpa

Os rios do sudoeste do Paraná recebem alta carga de dejetos das granjas de suínos da região. Uma boa alternativa para o problema é a instalação do biodigestor.

Redação SI 06/12/2004 – Cumprir a legislação ambiental é o principal problema dos agricultores do sudoeste do Paraná. A região é rica em nascentes que foram milhares de pequenos córregos que deságuam nos rios e que por sua vez alimentam o lago de Itaipu.

O desafio dos técnicos do Cefet é levantar todos os problemas ambientais da região. O trabalho, coordenado pela empresa Itaipu, recebeu o nome de Cultivando Água Boa. No final da vistoria das áreas eles vão elaborar um mapa de cada propriedade e elaborar um projeto técnico propondo a recuperação total da bacia que abastece o lago de Itaipu.

Dejestos suínos

Um dos problemas mais sérios do projeto é resolver a questão dos resíduos que saem das granjas de criação de suínos. Só na região sudoeste do Paraná existem 4.000 granjas, onde se cria 250 mil cabeças. No total são 1,75 milhão de litros de dejetos despejados no ambiente todos os dias. Uma parte ainda vai direto para os rios, causando muitos problemas.

A cidade de Medianeira, por exemplo, que tem mais de 40 mil habitantes, já teve que interromper o abastecimento de água mais de uma vez por causa da poluição.

Os resíduos das granjas também causam problemas para a produção de energia. Eles aceleram o desenvolvimento das plantas aquáticas. Em Itaipu ainda não chegou a causar problema, mas existem casos graves em outras usinas. “No reservatório de Jupiá eles pararam a produção de energia por causa das plantas aquáticas”, conta Simone Benassi, bióloga em Itaipu.

As granjas de suínos também estão sendo vistoriadas pelo projeto Água Boa para se adequar à lei. Uma delas, no município de Céu Azul, tem 5.000 porcos e produz 35 mil litros de dejetos por dia. Parte é jogada no rio e, por isso o dono, seu Darci Rieger recebeu uma multa de 15 mil reais do Instituto Ambiental do Paraná. Ele diz que até hoje não teve recursos para resolver o problema. “Já nos procuraram, fizeram um levantamento da nossa granja, não só da minha como de outras, de toda a nossa bacia, para nós podermos nos ajustar dento do que estamos fazendo errado”, diz ele. Instalar um sistema de tratamento dos dejetos e mudar o galpão para uma área distante do rio vai exigir investimento de 300 mil reais.

O diretor de coordenação da empresa Itaipu, Nelton Fraiderich, já visitou várias granjas para negociar uma solução para o problema. “Só vai ter solução com parceria. Entra o próprio suinocultor, que está poluindo, e ao mesmo a cooperativa, a prefeitura, o governo do estado, Itaipu e outras fontes que possamos buscar. Em grande parte a parceria já está fechada. Itaipu vai entrar com a parte dela, mas todos vão ter que participar, porque é um grande mutirão para zerar o passivo ambiental.”

Biodigestor

Mas tem produtores que saíram na frente e resolveram o problema da poluição. É o caso da família Menegueti, do município de São Miguel. Eles instalaram um biodigestor, sistema inventado pelos chineses que canaliza todos os dejetos para um tanque de cimento, cuja borda é fechada por uma campândula, que pode ser de ferro ou plástico.

Como lá dentro não existe oxigênio parte das bactérias morrem. Nesse processo, chamado de fermentação anaeróbica, o biodigestor produz o gás metano e o resíduo vira biofertilizante, um adubo líquido, que pode ser espalhado direto nas pastagens e lavouras.

Para instalar o biodegestor, eles financiaram R$ 45 mil em sete anos, com juros de 8,7% ao ano. Desde que foi instalado o biodigestor a granja passou a devolver água limpa para o rio.

O gás produzido no biodigestor é armazenado em balões e usado para alimentar um gerador de energia que alimenta a granja. Ele é ligado nas horas de pico da granja é suficiente para abastecer toda a granja e produz excesso de energia que pode ser devolvida para a rede.

A mágica é feita por um aparelho que regula o consumo. Quando o gerador produz mais energia que o consumo da granja, o excesso é automaticamente devolvido. Isso só pode ser feito no pico de consumo e com a autorização prévia da concessionária que fornece a energia. Significa uma economia de R$ 300,00 a R$ 400,00 reais por mês, revela José Meneghetti, agricultor.

Gás metano

Se não fosse usado na produção de energia, o gás metano, que contém carbono, na sua composição subiria para a atmosfera causando danos à camada de ozônio, como explica o engenheiro agrônomo Cícero Bley, contratado pela Itaipu para assessorar os agricultores. O gás metano é 21 vezes mais poderoso do que o gás carbônico no efeito estufa, na formação de uma estufa na atmosfera que vai elevando a temperatura média do planeta, diz ele.

Para evitar o efeito estufa, vários países assinaram o Protocolo de Kioto. Nesse documento ficou acertado que aqueles que não encontrarem uma solução para reduzir a emissão de carbono para a atmosfera terão que financiar projetos de que visem a redução dessas emissões em outros países. “A suinocultura representa uma imensa possibilidade de prestar esse serviço, de retenção do gás metano”, afirma Cícero.

A granja Meneghetti, por exemplo, que tem 200 matrizes, pode ter ganho extra anual de 2.500 dólares de crédito de carbono. “Os biólogos do Instituto de Tecnologia do Paraná já estão desenvolvendo um projeto para a gente poder se cadastrar para receber esses créditos”, revela José Meneguetti.

Na primeira fase do projeto de despoluição das granjas, coordenado por Itaipu, 40 produtores serão beneficiados com um crédito aprovado pelo Banco Mundial para a instalação de biodigestores.

A esperança é que num futuro muito próximo todos os produtores possam seguir o exemplo da granja Meneguetti, que já consegue conciliar a produção de alimentos, a geração de energia e a preservação do ambiente. A tudo isso os técnicos resolveram dar um nome bonito: desenvolvimento sustentável.