Redação (16/06/2008)- Primeiro, foram os alimentos a pressionar a inflação. Agora, os reajustes se dissiparam e atingem a maior parte da cesta de produtos que integra o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), do IBGE. Em maio, dos 465 itens pesquisados pelo índice oficial, 71,35% registraram alta. O percentual supera em quase dez pontos o de abril (61,98%).
Em maio do ano passado, o chamado índice de difusão era bem menor: 56,99%, segundo dados da Tendências. "Esse patamar de maio é bem alto. Se se configurar uma tendência, como parece, mostra uma disseminação da inflação que é preocupante", diz Marcela Prada, economista da consultoria.
Para ela, a pressão dos alimentos contamina outros preços. "Há um ambiente de aquecimento econômico propício para reajuste", afirma.
Em maio, o IPCA surpreendeu os especialistas e bateu em 0,79% -acima do 0,55% de abril. Foi a maior alta desde abril de 2005 (0,87%) e a mais elevada variação para um mês de maio desde o início do Plano Real, em 1994.
Diante do resultado, economistas já cogitam a possibilidade de o índice ultrapassar o teto da meta do governo para 2008, de 6,5%. Um dos motivos é a maior difusão da inflação que começa a tomar corpo.
A manicure Dircinéia dos Santos Lima, a Néia, 38, ilustra a situação recente. Ela cobrava R$ 15 para fazer a mão e o pé há um ano. Como seu orçamento ficou mais apertado e as clientes não reclamaram, conseguiu subir o preço para R$ 20.
Estão nessa lista serviços de conserto de transporte escolar (alta de 3,54% de janeiro a maio de 2008), estacionamento (3,16%), médicos e dentários (3,47%), costureira (3,30%), academia de ginástica (4,34%) e natação (2,93%).
Fazer as unhas passou a custar 4,58% mais neste ano. No salão de beleza, o recordista na alta de preços foi depilação (7,73%). O serviço superou o reajuste do hotel -5,07%. O aumento mais expressivo, porém, ficou com os ingressos de jogos esportivos -33,73%. Todos subiram acima do IPCA -2,88% de janeiro a maio.
Segundo Eulina Nunes dos Santos, coordenadora de índices de preços do IBGE, há um "claro movimento de alta, especialmente dos serviços pessoais". "Existem duas influências importantes: o reajuste do salário mínimo e mais recentemente a alta dos preços dos alimentos. Para quem é autônomo, a alimentação é muito sentida no orçamento, e a tendência é que se tente repassar os aumentos para o custo dos serviços", diz.
A economia aquecida, diz, propicia os repasses. "No caso de serviços como manicure, cabeleireiro, costureira, o consumidor é mais fiel. Não troca facilmente. Assim, o repasse é mais fácil. Os clientes aceitam mais os reajustes."
Para Carlos Thadeu de Freitas Filho, da SLW Corretora, a economia aquecida "dá sustentação aos repasses de custo", o que abre espaço para o reajustes dos serviços.
Essa tendência, diz, é mais notada em serviços nos quais o peso da mão-de-obra é maior e cuja expansão do consumo está atrelada ao aumento da renda. É o caso típico dos serviços do salão de beleza.
Alta de preço dos alimentos contamina outros produtos
Cresce difusão da inflação, ou seja, mais itens que integram o IPCA sobem de preço. Em maio, dos 465 itens pesquisados pelo IBGE, 71% registraram alta, contra 62% no mês anterior; instituto aponta reajuste nos serviços.