Da Redação 08/03/2004 – 10h33 – Dentre as muitas mudanças ocorridas com a cadeia produtiva do milho nos últimos anos destacamos três principais:
– Aumento da produtividade, fruto do maior uso de tecnologia;( é por isso que o Brasil planta hoje uma menor área se comparado há 20 anos atrás e colhe o dobro!) Esse aumento em produtividade ( cerca de 150 sc/há) é decorrente da maior utilização de novas tecnologias pelos produtores de ponta, que acabam tomando o espaço daqueles menos tecnificados.
– Inserção no mercado mundial O Brasil começa a firmar pé no mercado internacional, e isso dolariza o preço do produto interno, o que muitas vezes é favorável. A médio-prazo, o potencial de exportação de milho Brasileiro deve aumentar muito, na medida em que a China passará de exportador a importador do produto, e o Estados Unidos, maior produtor e exportador mundial, terá seu próprio aumento de consumo interno, para suprir a produção de Etanol.
– Aumento da dependência da safrinha , limitação, e risco climático muito maior do que a safra verão. A safrinha, que até bem pouco tempo atrás não representava muito na oferta anual de milho, em 2002/03 foi responsável por 25% do total da produção. Embora uma alternativa muito atraente para o produtor, o plantio de milho pós-soja precoce, sob condições climáticas favoráveis, acaba sendo uma prática muito perigosa para o mercado, visto que a safrinha tem uma dependência
Tendência da safrinha em 2004
Para a safra 2003/04 a expectativa é de que a safrinha alcance novamente por volta de 25% do total esperado para o ano, ou por volta de 11/12 milhões de toneladas. Por conta dessa expectativa, e de uma boa safra de verão que começa a ser colhida agora, o mercado de milho se mostra estável, tendendo a diminuir em algumas regiões.
E é aqui que entra a história da safrinha, e para a qual o produtor deve estar muito atento nesses dias: A safrinha de 2004 não está começando de uma maneira muito favorável, pois já se é possível prever quebras significativas de produção em relação aos 12 milhões de 2003 e previstos para 2004. Os principais problemas da safrinha 04 até agora têm sido:
Atraso do plantio A época de plantio é fundamental para produtividade na safrinha. O grande desafio técnico da safrinha é formar a produção antes do final das chuvas no Centro Oeste, no Paraná e no sul do Mato Grosso do Sul. E também, antes das geadas, caso essas venham a acorrer. O milho responde a acúmulos de calor, ou seja, o desenvolvimento da cultura se dá em função da temperatura média. Assim, no sul do Brasil, ou nas terras altas do Brasil Central, a diferença de muito dias no plantio representará poucos dias na maturação do milho, pois o acúmulo de calor é baixo no início da safra e aumenta durante todo o verão. Na safrinha, acontece o oposto, ou seja, alguns dias mais quentes no final do verão, significam muitos dias de diferença no florescimento e maturação, devido à antecipação do plantio e do desenvolvimento inicial da cultura, fator crucial para a safrinha.
– Diminuição da área Devido ao atraso no plantio é provável que a área plantada seja bem inferior à sinalizada. Alguns movimentos de devolução/cancelamento de sementes compradas para safrinha já indicam essa tendência.
– Diminuição de tecnologia O atraso de plantio, entre outras desvantagens, geralmente gera um menor uso de tecnologia, seja pelo uso de menos adubo em cobertura, troca de híbridos mais tecnificados por híbridos mais baratos, pelo uso de população de plantas menores, etc…
– Aumento do risco Devido ao grande atraso do plantio, quando este ocorrer, será concentrado em poucos dias, o que acaba aumentando os riscos de uma determinada ocorrência climática vir a atingir a área total, pois as lavouras estarão todas numa mesma fase.
Conclusão
A combinação desses fatores pode levar a quebras significativas da produção de safrinha. Uma quebra na ordem de 4 a 6 milhões de toneladas é compatível com a situação descrita acima, e pode ter forte impacto no mercado de milho.
Além disso, o estoque mundial é um dos mais baixos se comparado a outros anos, e os preços internacionais estão em alta. Por isso, achamos que a famosa curva “M” do milho vai continuar; vimos os ótimos preços no final de 2002 e inicio de 2003 cederem durante o ano por conta da produção do verão e, principalmente, da produção recorde da safrinha de 2003. Agora, acreditamos, que a possibilidade de uma recuperação dos preços no segundo semestre, por conta da quebra de expectativa de produção da safrinha é bem real. Sendo assim, é saudável nesse momento não ter pressa para vender milho, principalmente em regiões onde os preços caíram muito. Apesar de não acreditarmos que os preços voltem aos patamares do início de 2003, é bem possível uma recuperação dos patamares atuais.
Em suma, recomendamos a todos ficarem mais atentos no desenvolvimento da safrinha, pois seu desenrolar, com certeza, irá impactar no preço do milho em 2004.