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Avicultura e Suinocultura pedem freio na exportação de milho

Reunidos na Avesui , feira que acontece em Florianópolis até o dia 15, os segmentos também querem que o governo libere as importações de milho transgênico.

Redação (14/05/2008)- Representantes da cadeira produtiva de carnes, sobretudo de aves e suína, defenderam ontem a restrição das exportações de milho pelo Brasil, a fim de garantir o abastecimento interno nos próximos meses. Reunido na Avesui , feira que acontece em Florianópolis até o dia 15, o segmento também quer que o governo libere as importações de milho transgênico.

"O setor vive um momento delicado por conta da alta de preços dos insumos, especialmente do milho, e também pela falta de perspectiva imediata de vislumbrar estoques suficientes para atender a essa demanda toda [externa e interna]", disse o novo presidente da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frango (Abef), Francisco Turra.

Embora o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, já tenha dito que o governo não pretende impor limitações como essa, Turra mostrou-se preocupado com o risco de desabastecimento em um momento em que o Brasil tem a possibilidade de ampliar mercados. Para ele, o governo tem que intervir nessa situação do milho, já que ele também tem interesse, uma vez que o aumento dos insumos deverá levar ao aumento de preços das carnes e pressionar a inflação.

No mercado nacional, as empresas em geral informaram que repassaram pouco do aumento dos custos aos preços porque a competição com outras carnes, como a suína e a bovina, impediu que o frango subisse acompanhando a alta dos custos, sob pena de ser substituído na alimentação.

Na Sadia, o aumento até agora no mercado interno foi entre 5% e 10%. Para Turra, um avanço maior de preços deve ocorrer no segundo semestre: "A tendência é de aumento porque se agora, que estamos durante a safrinha, já se percebe a dificuldade com os custos, imagina quando daqui a pouco ocorrer a entressafra do milho?".

O diretor de relações internacionais da Sadia, José Augusto Lima de Sá, afirma que a empresa está conseguindo equilibrar a situação de pressão de custos com aumento de preços em dólar – 40% no primeiro trimestre no mercado externo -, hedge cambial e algum aumento de preços no mercado doméstico.

"Com essa forte alta do milho de novo, certamente vai ser preciso repassar para o preço senão não se faz resultado. E se o dólar continuar também neste patamar de R$ 1,65, sem dúvida, isso será preciso. Acho que pode ser até de 40% novamente no mercado externo", disse ele, citando entre 5% e 10% de novo aumento previsto no mercado nacional no segundo trimestre.

Lima de Sá também defendeu restrições às exportações de milho como forma de contornar o problema de custos para as agroindústrias. "O país deve taxar um pouco o milho. Exportar a US$ 150 ou US$ 200 a tonelada de milho gera menos emprego e riqueza no campo do que exportar frango a US$ 2 ou suíno a US$ 3. O milho transformado em carnes rende muito mais".

Na avaliação de Ariel Mendes, vice-presidente técnico científico da União Brasileira de Avicultura (UBA), o cenário de pressão de custos deve permanecer nos próximos meses. "Estamos trabalhando hoje com o preço do milho a R$ 28 a saca, em plena safra, e não há perspectiva de isso diminuir no curto prazo", diz. Segundo ele, o custo de produção está mais alto do que o preço de venda no Brasil e o produtor não está conseguindo repassar o preço pela competição com as outras carnes.

Mendes diz achar muito difícil que o governo permita no curto prazo a importação de milho transgênico, produzido em larga escala na Argentina, embora a UBA já tenha pedido, sem sucesso, autorização para importação de 2 milhões de toneladas no ano passado e tenha reforçado a demanda por duas vezes em 2008. "Isso é um processo demorado (…) Mas não existe disponibilidade de milho não-transgênico disponível no mundo. Estamos em um beco sem saída. O ideal era segurar o milho brasileiro no mercado interno".

Para o vice-presidente da UBA, ainda que medida de restrições de exportações, como a que ocorreu na Argentina, tenha gerado protestos dos produtores, "alguma coisa o governo brasileiro vai ter que fazer". Apesar dos problemas com custos e rentabilidade, para a Abef a forte demanda mundial por frangos deverá levar o setor ao fim do ano próximo a 4 milhões de toneladas exportadas, totalizando US$ 6 bilhões, um patamar acima da projeção inicial da associação (US$ 5,3 bilhões).