Redação (25/04/2008)- É verdade que esse negócio de “país do futuro” faz algum tempo que nos aflige e vem desde o início da era militar. Até o ex-ministro Mailson da Nóbrega dedicou 400 páginas sobre esse assunto, num de seus livros, ainda em final de 2005. Nele, em síntese, destaca que, com alguns retoques, o futuro que esperávamos é esse mesmo que temos aqui.
Uma pergunta, porém deve nos deixar instigantes. Do jeito que o país conduz as coisas no campo da tecnologia, sabido notoriamente um definidor do futuro, este nos conduzirá ao futuro que desejamos ou mesmo necessitamos? Será que o alcançaremos dessa forma?
Duas pesquisas, uma sobre o Ranking Tecnológico e outra sobre a Propriedade Intelectual, que apontam anualmente o nível tecnológico nos países nos dão mostras de que o Brasil cresce a passos lentos e em alguns pontos até é capaz de regredir.
No caso do Ranking Tecnológico Mundial, elaborado pelo Fórum Econômico Mundial. Dos 175 países que figuram nessa lista, o Brasil vem caindo desde 2005 quando ocupava a 52ª posição, 2006 passou para 53º e agora, na edição de 2007, passou para 59º, atrás de países vistos com desdém por muitos brasileiros, com a Turquia, México, China, Jamaica, Índia e até Barbados.
Entre os países latino-americanos estamos significativamente atrás do Chile, que ocupa a 34ª. posição e muito longe dos primeiros do ranking que são Dinamarca, Suécia, Suíça, Estados Unidos e Cingapura.
De acordo com o Índice de Competitividade Global do Fórum 2007/2008, o Brasil apresenta avanço significativo no preparo tecnológico de empresas e do governo, porém, deixa a desejar na excessiva regulação de mercados, a má qualidade dos sistemas educacionais, apoiado pelo baixo nível de investimento em pesquisa e desenvolvimento (P&D).
Esses dados, na prática mostram que nós (indivíduos, empresas e governo) temos baixa capacidade para usar e aproveitar as tecnologias da informação e comunicação (TIC) denotando reservada possibilidade de implementação real das últimas tecnologias de comunicação e informação disponíveis.
Não é de se estranhar que num país que ocupa a 114ª. posição no ensino de matemática e ciências, e a 117ª. posição na qualidade do sistema educacional, a população não tenha capacidade para tirar proveito da tecnologia que o mundo possui.
Em resumo, se evidenciam os países que possuem decisivo investimento em educação. No Brasil, o destaque está no uso de tecnologias no setor privado onde ocupa a 36ª. posição no ranking e a 28ª. na utilização da internet.
O segundo indicador, em relação à Propriedade Intelectual Internacional, o desempenho do Brasil também é vexatório. Segundo a OMPI (Organização Mundial de Propriedade Intelectual), órgão da ONU que congrega 138 países do Tratado de Cooperação de Patentes, em 2007, o Brasil cresceu 15% em relação ao ano anterior, mas somente 384 patentes foram registradas por pessoas ou empresas brasileiras. Com esse desempenho ocupa a 24ª. posição, ficando atrás dos outros 3 países do BRIC.
Desse modo podemos concluir que o modelo de desenvolvimento brasileiro deixa a desejar principalmente no investimento em pesquisa e desenvolvimento, o que em última análise está apoiado na educação, além de um modelo econômico ainda centrado na exploração de matérias-primas em detrimento a manufatura e tecnologia.
Não é de se estranhar, pois no primeiro governo Lula, o INPI (Instituto Nacional de Propriedade Intelectual), órgão responsável por garantir o nosso processo inovativo, ficou o primeiro ano todo sem ter sequer um presidente. Se não bastasse isso, para quem quer garantir uma marca ou um produto, registrando para isso a sua patente, pode levar até 10 anos. Sem falar em outras questões cruciais para o avanço tecnológico em que a ciência muitas vezes fica emperrada por dogmas religiosos com interesses nem sempre bem explicados.
*Eleri Hamer é Mestre em Agronegócios, Professor de Graduação e Pós-Graduação do CESUR, desenvolve Palestras, Educação Executiva e Consultorias em Gestão Empresarial e Agronegócio.