Por Pedro Arantes
Redação (03/06/2008) – Os combustíveis fósseis não estão com seus dias contados como as notícias fazem parecer, numa análise superficial da matriz energética. Mas em decorrência de seus níveis atuais de preço e seus efeitos negativos sobre o meio ambiente, principalmente, sobre a poluição da atmosfera, as alternativas energéticas serão buscadas cada vez com mais intensidade.
O mundo conviverá, nos próximos anos, com uma acelerada oferta de energia limpa, não-poluidora ou que produza um mínimo de poluição, cuja matéria-prima para sua produção tem origem animal ou vegetal, seja em forma de etanol ou biodiesel. Essa energia limpa não colocará em risco a produção de alimentos, mas contribuirá para a sustentabilidade da produção agrícola ao seqüestrar carbono. Quando se trata de cultura permanente arbustiva, como é o caso do dendê e da mamona, haverá também a vantagem de permitir a fixação de nitrogênio ao solo, elemento fundamental à produção de leguminosas como a soja e a canola.
Assim, a produção de energia limpa dará uma contribuição dupla ao meio ambiente, no processo produtivo e na queima do combustível em forma de biodiesel. Sem contar a contribuição para maior durabilidade dos motores que não precisão passar por qualquer adaptação para uso deste combustível.
Outro ponto positivo na produção de biodiesel é descentralização, pois quase todos os países do mundo têm condições climáticas para o plantio de alguma das matérias-primas básicas, gerando renda e emprego local e fugindo da grande dependência dos poucos países, em zona conflituosa, que fazem do petróleo um instrumento de pressão política.
A experiência com diesel de origem vegetal já vem de muito tempo. Em 1900, numa feira realizada em Paris, foi apresentado um motor com funcionamento à base de óleo de amendoim. Mas a abundância e os baixos preços do petróleo no mundo – menos de US$ 4 o barril até a primeira grande crise do setor em 1974 – não viabilizou o desenvolvimento de combustíveis alternativos até a virada do século vinte.
Ainda assim, muitos países continuaram suas pesquisas e hoje estão à frente em produção e consumo, como é o caso do Brasil, Alemanha e Estados Unidos. O Brasil fez seus primeiros testes com biodiesel na década de vinte. Criou vários programas de incentivo à produção de combustíveis alternativos nas décadas de 80 e 90 e, atualmente, já tem 40 unidades instaladas com uma capacidade para produzir 750 milhões de litros de biodiesel.
Quantidade ainda não suficiente para atender à mistura de 2% de biodiesel ao diesel correspondente a 880 milhões de litros. A projeção é de que em 2010 o porcentual de mistura suba para 5%, o que totalizará uma demanda de 2,5 bilhões de litros de biodiesel.
Porém, se forem implantadas todas as plantas industriais que estão no papel ou já em construção – são 18 em construção e 32 projetadas – chegaremos em 2010 com uma produção de 3,9 bilhões de litros de biodiesel. As matérias-primas serão soja, girassol, mamoma, pinhão manso, babaçu e dendê. É possível utilizar, ainda, gorduras de origem animal e reaproveitar resíduos das frituras com óleo de cozinha.
O mundo produziu em 2006, 10 bilhões de litros de biodiesel e em 2007 a produção saltou para 16,7 bilhões de litros. Os Estados Unidos e a Comunidade Européia foram os destaques. Com 77 indústrias em operação, os Estados Unidos produziu 6,5 bilhões de litros de biodiesel à base de soja. Já a Comunidade Européia produziu 6,9 bilhões de litros em suas 120 plantas que utilizam como matéria-prima a canola (colza). A Alemanha é a maior produtora do bloco europeu, correspondendo a 44% da região, seguida da Itália e França.
O Grande desafio para o pleno sucesso do biodiesel é o aumento da produtividade das matérias-primas na lavoura e o rendimento do teor de óleo delas. Atualmente, estima-se uma produção média em torno de 700 litros por hectare, fazendo necessário, para que o biodiesel se torne mais competitivo, uma elevação para acima de dois mil litros por hectare, que é uma combinação entre o volume colhido de matéria-prima por hectare e o teor de óleo.
*Economista formado pela Faculdade de Economia e Finanças do Rio de Janeiro. Especialista em Administração de Empresas pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Mestre em história das sociedades agrárias pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Analista de mercado da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg).