Redação AI (22/02/06) – O Brasil, assim como todos os demais países do continente americano, corre o risco de registrar casos de infecção de aves com o vírus H5N1, o tipo mais letal da influenza aviária.
Essa é a avaliação de especialistas ouvidos pela BBC Brasil, como Joseph Domenech, veterinário-chefe do FAO (o fundo da Organização das Nações Unidas para a agricultura e a alimentação), em Roma: “Não podemos prever quando o vírus atingirá países específicos, mas podemos dizer que nenhum país está livre do risco e todos devem estar preparados. O risco está lá”.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), desde o início deste mês mais 13 países da Ásia, Europa e África já confirmaram a contaminação de aves com o H5N1.
É só uma questão de tempo para que a doença alcance a América, como diz a pesquisadora da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Liana Brentano, doutora em virologia animal na Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos.
“Esse risco existe, mas ninguém sabe quando e como ocorrerá. O contágio, muito provavelmente, será através de aves silvestres migratórias. Uma prova disso é o fato de a doença estar se disseminando da Ásia para a Rússia e da Europa agora para a África. É um padrão previsível”, diz.
Migração
Existem oito rotas principais de migração de aves silvestres, segundo a FAO: Américas-Pacífico, Américas-Atlântico, Américas-Mississipi, Atlântico Leste, Mediterrâneo-Mar Negro, Ásia Central, Ásia Ocidental-Leste da África e Austrália-Ásia Oriental.
É possível, por exemplo, que aves que estão na Rússia cheguem ao continente americano pela Groenlândia.
“Quando começar a migração de aves do hemisfério norte, por volta de abril até setembro, aumenta o risco para a gente”, afirma Liana Brentano, da Embrapa.
Ainda se sabe muito pouco sobre os pássaros infectados que representam uma ameaça e qual a rota que percorrem, como diz Juan Lubroth, perito em saúde animal da entidade.
“Ainda estamos começando a fazer pesquisas na África e na Europa para conhecer quais são as aves silvestres que poderiam introduzir o vírus em continentes novos”, diz Lubroth.
A chegada do vírus H5N1 na América pode ocorrer por meio da migração de aves silvestres, mas também através do comércio de aves seja para alimentação ou domesticação, essa última ainda pode ficar longe da mira da fiscalização em decorrência do contrabando de animais.
Andre Farrar, porta-voz da Royal Society for the Protection of Birds (RSPB), de Londres, diz que a “forma que mais preocupa é o movimento migratório de aves silvestres, porque qualquer tipo de ave pode ser contaminada com o vírus”.
“Na teoria, é possível que as aves migratórias carreguem o vírus em longas distâncias, mas as evidências para isso não são conclusivas”, observa.
“Isso significa que a América estaria relativamente isolada desse movimento, mas isso não isola a América das outras formas de transmissão.”
Prevenção
Evitar que o H5N1 alcance a América por meio da migração aviária é uma tarefa impossível, mas os especialistas garantem que há medidas de prevenção para evitar que as aves domésticas sejam afetadas.
“O que tem de ser feito é o controle da avicultura comercial para que não haja contato com aves silvestres. Aí entra o governo e a própria iniciativa privada. É preciso ser ágil”, alerta Liana Brentano.
“Uma das precauções do aviários comerciais é cercá-los com telas de proteção. É uma medida de controle importante, embora seja cara.”
O Ministério da Agricultura anunciou, em janeiro, que irá investir R$ 100 milhões na prevenção da doença, com campanhas educativas, reaparelhamento de laboratórios e implantação de barreiras sanitárias nas fronteiras estaduais.
“Embora o país seja livre da influenza aviária, governo e setor privado vêm antecipando medidas de prevenção e provável controle do vírus para preservar seu status de maior exportador mundial de carne de aves”, declarou Marcelo Mota, coordenador do Programa Nacional de Sanidade Avícola do Ministério da Agricultura.
Em 2005, o Brasil exportou 2,8 milhões de toneladas de carne de frango para mais de 150 países, um comércio de US$ 3,5 bilhões.
Nesta terça-feira, o governo brasileiro submeteu à consulta pública, por 30 dias, um Plano Nacional de Prevenção da Influenza Aviária.
Entre as diversas medidas, a serem adotadas em caráter voluntário, está prevista a modificação dos requisitos sanitários exigidos à importação e à exportação de aves vivas, material genético, produtos e subprodutos avícolas.