Redação (19/06/2008)- Desgraça de uns, sorte de outros. Com os alagamentos nas lavouras de milho nos Estados Unidos, em apenas duas semanas o Brasil fechou a negociação para exportar 300 mil toneladas do cereal. E, além disso, conseguiu vender o produto a um preço maior: de US$ 250 para US$ 290 a US$ 300 a tonelada. Agora, analistas de mercado são unânimes em afirmar que o "mundo terá de vir ao País comprar milho" e, com isso, as estimativas iniciais, de embarques de 11,5 milhões de toneladas, podem ser superadas.
"Quando os importadores se derem conta que os Estados Unidos vão ter uma quebra de safra significativa, vão procurar uma segunda opção. E, neste caso, o Brasil", diz Paulo Molinari, da Safras & Mercado. Para ele, o limite dos embarques será o tamanho da safrinha – estimada, atualmente, em 18 milhões de toneladas. Isto porque as geadas desta semana e da seguinte podem quebrar a produção no Paraná, diminuindo a disponibilidade de grão. Ele lembra que até agora, os embarques tinham sido de negócios fechados no ano passado – os novos devem começar a ser enviados no mês que vem.
O entusiasmo dos analistas de mercado se justifica não só pelo cenário atual, mas também pelo crescimento das vendas a partir de maio. No acumulado do ano, o País embarcou 2,57 milhões de toneladas – 8,1% a mais que no mesmo período de 2007 – e, apenas no mês passado, 693,7 mil toneladas. "A tendência é que a partir de agora deslanche", diz Leonardo Sologuren, sócio da Céleres.
Segundo ele, os três principais exportadores – Estados Unidos, Argentina e Brasil – detêm 85% do mercado mas, a safra americana está com problemas e os argentinos têm as limitações governamentais. Apesar disso, o País não deve superar o volume embarcado pela Argentina – que até o momento já tem registradas 16 milhões de toneladas. "Mas é uma questão de tempo, em dois a três anos, já empatamos", afirma Carlos Cogo, diretor da Cogo Consultoria Agroeconômica. Ele acrescenta que, além de disponibilidade de terra, o País ainda tem como ganhar em produtividade.
Diante de um cenário mais apertado no mercado internacional, Sologuren aposta que os importadores terão de pagar mais para garantir a oferta. Atualmente, o preço praticado pelo produto brasileiro está abaixo do americano, avaliado em US$ 315 a tonelada. Mas, de acordo com Molinari, a tendência é que, a partir de setembro o ágio comece a ser positivo.
"O cenário que já estava bom, agora fica ainda melhor, diz Jacqueline Bierhals, analista da AgraFNP. Segundo ela, diante de uma quebra estimada em 10 milhões de toneladas – por enquanto – os Estados Unidos vão ter de escolher entre exportar menos milho ou produzir menos etanol e, neste caso, o Brasil também seria beneficiado (ver matéria abaixo). Sologuren diz que o Brasil tem espaço para absorver o que os Estados Unidos venderiam, mas isto vai depender da produção da safrinha de milho. "E se o importador quiser pagar mais, pois hoje o mercado é mais favorável para o doméstico".
O produto brasileiro está sendo negociado a R$ 27 a saca (60 quilos) no porto, segundo dados da 0Cogo Consultoria Agroeconômica, quando saia a R$ 23,50 antes do problema dos Estados Unidos. Molinari acrescenta que o preço do milho – com a quebra da safra americana – pode bater os US$ 8 o bushel (27,2 quilos) na Bolsa de Chicago (CBOT) – atualmente gira em torno de US$ 7,4. Isto elevaria a paridade de exportação.
"O aumento da venda de milho do Brasil é conseqüência natural, assim como a voracidade na soja", afirma Cogo, lembrando que a alta na paridade do porto já é reflexo disso. Na sua avaliação, por um motivo diferente, o cenário deste ano tende a repetir o do ano passado, quando as vendas começaram a ser mês a mês maiores. Naquela época, havia um desabastecimento de trigo para ração na Europa, substituído por milho brasileiro. Agora, o problema é a quebra na produção do cereal nos Estados Unidos. Em 2007, as exportações de junho chegaram a 802 mil toneladas e romperam 1 milhão de toneladas no mês seguinte. "Por isso, não é impossível o Brasil exportar mais que se imaginava".
O diretor da Cogo Consultoria Agroeconômica acrescenta ainda que o maior volume embarcado não irá provocar desabastecimento no mercado interno. Segundo ele, se o Brasil vender 11,5 milhões de toneladas ainda terá um estoque de passagem suficiente para 84 dias de consumo – 10 milhões de toneladas. "A diferença é que os consumidores internos terão de pagar mais". Para o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), Odacir Klein, o abastecimento está garantido, mas o Brasil tem também de aumentar a sua produção, com ganho de produtividade pois, segundo ele, cada vez mais haverá necessidade por milho por conta da demanda mundial por proteína animal.
am definidos antes dos acontecimentos recentes e, portanto, não consideram a alta das cotações dos últimos dias.