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Bunge fecha indústria com sede em Cuiabá (MT)

Os resultados negativos da Bunge no Brasil no ano passado tiveram reflexo direto em Mato Grosso.

Redação (15/02/06) – A empresa confirmou o fechamento de uma de suas esmagadoras de soja com sede em Cuiabá. Na quinta-feira passada (09-02), a Bunge divulgou o encerramento de 14 empresas, entre elas a de Mato Grosso. A combinação entre câmbio e preços desfavoráveis às exportações e quebra de safra de grãos na região Sul foram os principais motivos para o fechamento das indústrias.

Em dezembro, anunciou o fechamento de sete de suas 35 unidades de fertilizantes no país, que acabou se concretizando na semana passada. Alberto Weisser, chairman e CEO da multinacional com sede em White Plains, Nova York – controladora da Bunge Brasil – reiterou que as unidades de adubos fechadas no Rio Grande do Sul, São Paulo (três), Minas Gerais (duas) e Bahia poderão ser reativadas – não neste ano – dependendo do futuro do mercado.

Mas as fábricas de soja de Cuiabá (MT) e São Francisco do Sul (SC) não voltarão mais. No total, as demissões reduziram o número de funcionários da empresa no país em 10%, para cerca de 10 mil. Atualmente, a empresa conta com 11 mil funcionários no Brasil, divididos entre mais de 300 instalações: fábricas, portos, centros de distribuição e silos de grãos em 16 estados brasileiros.

Para analistas que acompanham os passos da gigante, a crise no campo brasileiro em 2005 apenas acelerou um ajuste que seria necessário de qualquer forma, uma vez que a Bunge cresceu em grande parte com aquisições. E, ao informar que sua capacidade de processamento de soja no país tende a ser mantida apesar do fechamento de duas fábricas, a empresa reforça a tese. Weisser nega.

Com o fechamento das nove fábricas e as demissões, além de outras medidas de contenção, a Bunge espera reduzir custos em até US$ 80 milhões por ano no país. Os recursos para financiar seus fornecedores de grãos na próxima safra (2006/07) deverão ser mantidos – a empresa costuma gastar de US$ 1 bilhão a US$ 2 bilhões por ciclo nesse sentido -, mas Weisser diz que o rigor para a concessão de crédito será redobrado e que 2006 não será um ano de grandes aportes no Brasil, exceto em logística.

Nesta área, já estão em curso as obras dos terminais de grãos (TGG) e fertilizantes (Termag) no porto de Santos e a empresa, por meio da divisão Bunge Fertilizantes, entrou na disputa pelo controle da Brasil Ferrovias, sua parceira no projeto santista.

Weisser admite que é pouco, principalmente porque os investimentos em outros mercados são crescentes. Na China, por exemplo, foram adquiridas duas esmagadoras de soja nos últimos meses. Outros projetos estão em curso na Espanha, na Rússia e em vizinhos do Leste Europeu. E a Argentina, onde opera a maior processadora de soja do mundo (capacidade para 19 mil toneladas por dia) e também realiza investimentos atualmente, tende a aumentar seu peso para o grupo.

Mas, ainda que a expansão em outras fronteiras em grande medida compense os problemas no Brasil, o executivo antevê sérios riscos caso os obstáculos cambial e tributário – que limita a produção de derivados de soja e estimula a exportação do grão – em sua maior base mundial não sejam transpostos. “O Brasil é primeiro mundo em agronegócios e não pode se contentar em ser apenas um exportador de matérias-primas. E mesmo na produção de grãos é o único país ainda com grande potencial de crescimento”. A Bunge corre para recobrar seu “pulmão”.

Expectativa é de resultado ruim em 2006:

A erosão dos resultados da Bunge no Brasil em 2005 e a expectativa de mais desgastes no país este ano mudaram o humor de Alberto Weisser, chairman e CEO da multinacional com sede em White Plains, Nova York. Talvez a irritação do executivo, que é brasileiro, tenha uma compreensível face patriótica. Mas não é a principal. Fundado na Holanda em 1818, o grupo desembarcou na Argentina em 1884 e em 1905 já estava no Brasil, país onde construiu os alicerces de sua atual estrutura.

Problemas no mercado brasileiro, portanto, têm grandes proporções para a Bunge, e isso ficou claro nos resultados de 2005, divulgados na quinta-feira. Contaminada pela crise de liquidez dos grãos no país, a receita líquida mundial do grupo caiu 4% sobre 2004, para US$ 24,275 bilhões, enquanto o lucro operacional consolidado recuou de 46%, para US$ 456 milhões.

É verdade que a gestão financeira do conglomerado garantiu um aumento de 13% do lucro líquido global, que atingiu US$ 530 milhões, mas o salto não aliviou as preocupações de Weisser. Com o avanço em mercados como Argentina, Ásia e Leste Europeu, é natural que o Brasil perca peso nos resultados mundiais da Bunge. Isso não significa, porém, andar em marcha à ré no país.

Em 2004, a fatia brasileira na receita líquida global de US$ 25,168 bilhões do grupo foi de 29,1%. No lucro líquido do ano, que foi de US$ 469 milhões, a participação foi ainda mais expressiva e chegou a 67,6%. O balanço da Bunge Brasil em 2005 ainda não foi divulgado, mas o quinhão do país já pode ter sido menor.