Redação (13/06/2008)- Partindo de batido chavão, é pública e notória a existência de uma exceção na onda inflacionária que, justificadamente ou mesmo sem razão aparente, vem determinando alta generalizada nos alimentos. E a exceção está na carne de frango.
Nos últimos 12 meses, para citar apenas as carnes (preços do dia 10 de junho de 2008 em relação ao preço médio de junho de 2007 no atacado de São Paulo) a carne bovina registrou evo-lução de 100,77%, a carne suína de 62,54% e a de frango de apenas 20,46% (gráfico abaixo).
Frente a esse comportamento distinto dos demais, a indústria do frango mereceria aplausos não fosse estar sujeita a um fator que coloca em risco a própria sobrevivência do setor: o exacerbado aumento de vários de seus custos específicos de produção – que não afetam, por exemplo, o boi “de capim”. E não se trata, aqui, apenas de milho e soja, mas dos vários insumos essenciais à produção de um frango (gráfico a seguir, mostrando a variação média de preços registrada entre maio de 2007 e maio de 2008).
A um primeiro exame, não há razões visíveis para o distanciamento da carne de frango das demais carnes, pois:
1)As exportações caminham excepcionalmente bem e registram recordes de volume e de receita cambial, além de acompanharem a evolução de preços do mercado internacional;
3)O mais importante: frente à desaceleração na produção e ao extraordinário desempenho das exportações, a oferta interna de carne de frango vem sendo negativa em relação a 2007 ou, mesmo, aos meses anteriores (dados do bimestre abril/maio apontam queda de disponibilidade de 3% em relação ao mesmo período do ano passado e de 6% em relação ao bimestre feverei-ro-março de 2008, como demonstra o gráfico a seguir).
Cálculos preliminares indicam que no último bimestre (abril-maio de 2008) a oferta interna de carne de frango caiu em relação ao ano passado e ao bimestre anterior (fevereiro-março de 2008). Aqui, considerou-se a oferta de um bimestre, pois nas exportações de maio passado foram computados “saldos” do mês anterior (abril de 2008). A avaliação por bimestre elimina a eventual distorção daí decorrente. Valores do gráfico em mil toneladas
Então, qual é o problema?
Aparentemente, o único motivo para a forte depreciação do frango (que a esta altura deveria registrar, no mínimo, evolução igual à da carne bovina, pois seus custos de produção justificam) é a falta de organização dos “players” do mercado que, inclusive, padecem de um problema que vem custando caro para a indústria do frango (mais caro, talvez, que o próprio aumento de custos): a falta de credibilidade mútua.
Como todo produto agropecuário, o frango também tem seu período de safra e entressafra, de perdas e ganhos (primeiro e segundo semestre). Desta vez, porém, corre-se o risco de não se recuperar no segundo semestre tudo o que está sendo perdido neste semestre, apenas pela ausência de organização e desconfiança mútua.
Mais do que nunca, o frango precisa ser valorizado – para que as empresas sobrevivam e continuem cumprindo seu papel social de produzir alimentos em suficiência. Para isso, é indispensável que todos – empresas, diferentes segmentos produtivos, diferentes estados – trabalhem conjunta e unissonamente. Acima de tudo, a credibilidade mútua precisa ser recuperada. E isso passa, necessariamente, por um comprometimento conjunto.
As entidades de classe da avicultura brasileira são convidadas e instigadas a participar desse mutirão pela preservação do setor.