Da Redação 06/10/2004 – Em um período de intensas negociações multilaterais para a liberalização do comércio mundial, marcadas pelo temor dos países desenvolvidos com o potencial de crescimento das exportações agropecuárias brasileiras, projeções da consultoria MB Associados confirmam que, desde que o país equacione seus gargalos e evite novas formas de protecionismo externo, este avanço deve ser significativo ao longo da próxima década.
Levando-se em conta hipóteses como crescimento econômico mundial de 2,4% ao ano até 2005 e de 3,2% ao ano entre 2006 e 2013, com inflação global igual ou menor que 2,5% ao ano, preço do petróleo com variação pouco acima da inflação e fertilizantes sem grandes alterações de valores, a MB fez projeções para a participação dos embarques brasileiros nas exportações globais de soja, café e algodão, além das carnes suína e de frango. Em todos os casos, que também consideram informações da Conab e do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), a fatia nacional tende a aumentar.
A soja, principal item da pauta de exportações do país, é o produto, no universo pesquisado, que tende a alcançar a maior participação até a safra 2013/14. Para a temporada 2003/04 , que está em fase final de comercialização, a MB calcula que a participação brasileira nas exportações mundiais de 67,2 milhões de toneladas chega a 30,3%. Com mais uma década, a fatia poderá atingir 43,5% de exportações totais de 96,6 milhões de toneladas. Glauco Rodrigues Carvalho, economista da MB, explica que o cenário para o produto leva em conta uma política americana que já pende para o milho em razão das estimativas de maior demanda por álcool nos EUA e um consumo global de proteínas vegetais em alta depois da ocorrência de doenças como “vaca louca”.
Entre as condições internas necessárias para permitir o avanço, Carvalho cita investimentos em infra-estrutura logística, cuidados fitossanitários para evitar problemas como os que foram observados na China no primeiro semestre (cargas barradas com grãos contaminados com fungicidas), solução para o impasse que cerca a liberação dos transgênicos e continuidade da aposta em rotação de culturas, apesar da maior liquidez do grão no mercado internacional.
No caso do algodão, que voltou a ganhar destaque na balança comercial do país, participação brasileira, prevista em 6% em 2003/04, pode chegar a 10% em 2013/14. No período, acredita a MB, os embarques mundiais passarão de 7 milhões para 7,8 milhões de toneladas – as vendas brasileiras, portanto, sairiam de 400 mil toneladas, em 2003/04, para 800 mil. Carvalho acredita que a crescente produtividade da produção no cerrado, a liberação de variedades transgênicas e o desenvolvimento de novas variedades – que também foi fundamental para o avanço da soja – são as atuais vantagens do país, que enfrentará, contudo, acirrada competição externa para conseguir seguir avançando.
Para o café, o cenário desenhado pela MB prevê aumento da participação brasileira nas exportações mundiais de 29,7%, em 2003/04, para 35% em 2013/14 – no intervalo, os embarques globais passariam de 86,3 milhões para 104,2 milhões de sacas de 60 quilos. Para isso, contudo, o país, que já vem investindo em melhorias de qualidade, também precisaria, conforme Glauco Carvalho, elevar a aposta em marketing internacional.
No setor de carnes, para o frango as projeções indicam aumento da fatia de 33,7% em 2003/04 para 38% em 2013/14 e do suíno de 11,6% para 15%. Nas duas áreas, diz Carvalho, o Brasil apresenta custos competitivos e elevada produtividade, mas é preciso diversificar mercados e evitar barreiras sanitárias como a recentemente erguida pela Rússia, ainda em vigor por conta da descoberta de um foco de febre aftosa no Amazonas. “Sanidade é o novo nome do protecionismo”, concorda Carvalho. A MB estima, para 2013/14, exportações mundiais de carne de frango de 8 milhões de toneladas e de carne suína de 5,8 milhões de toneladas.
De uma maneira geral, governo e agroindústrias concordam e trabalham com este cenário, com investimentos públicos e privados em qualidade, rastreabilidade e defesa sanitária. Em evento na semana passada em São Paulo, por exemplo, o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, afirmou que também para a produção “o potencial do agronegócio brasileiro é fantástico”, em razão da conjunção entre terras disponíveis, melhorias tecnológicas e capacitação de recursos humanos. Rodrigues lembrou, entre outros dados, que nos próximos 15 anos 30 milhões de hectares deixarão a condição de terras de pastagem e serão incorporados à produção agrícola.
No critério do ministério, que leva em conta desde a produção nas fazendas até o varejo, o agronegócio, segundo Rodrigues, responde por 34% do Produto Interno Bruto (PIB) do país, bem como por 37% dos empregos e 43% das exportações. Em 2004, previu, os embarques do setor alcançarão até US$ 36 bilhões, com um superávit comercial de US$ 32 bilhões.