Redação (30/05/2008)- Em meio à disparada dos preços dos alimentos e a necessidade de encontrar soluções para conter os reflexos sobre a inflação, os governos do Cone Sul descobriram que faltam informações confiáveis sobre os custos de produção. Sem dados mais precisos, não conseguem tomar medidas efetivas capazes de garantir o equilíbrio entre a produção, o consumo doméstico e os excedentes exportáveis e ficam sujeitos à especulação.
O diagnóstico foi feito na quinta-feira em uma reunião extraordinária dos Ministros de Agricultura do Conselho Agropecuário do Sul (CAS), que reúne os quatro sócios do Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai), mais Chile e Bolívia.
Na reunião, realizada em Montevidéu (Uruguai), os ministros decidiram formar uma rede de informações próprias de cada país sobre a evolução de custos da cadeia de produção e distribuição, que melhore a capacidade de gerenciamento da crise.
Essa rede poderá ser integrada entre os países-membros no futuro. "Vamos criar um sistema de intercâmbio de informações, que é uma das maneiras de evitar a especulação", afirmou o ministro de Agricultura do Uruguai, Ernesto Agazzi. Segundo o ministro uruguaio, a questão foi colocada pelo representante argentino, o secretário de Agricultura José de Urquiza, e reforçada pelo brasileiro Reinhold Stephanes, que destacou a dependência em relação aos fertilizantes.
"Nossa maior importação é de potássio, fabricado por apenas quatro ou cinco empresas no mundo que também são as detentoras dos direitos de lavra, no Brasil e em outros países", afirmou Stephanes ao Valor. "Importamos 60% das nossas necessidades, mas temos jazidas que não são exploradas, empresas que são donas dos direitos de lavra e sentam em cima", criticou o ministro brasileiro.
Para o ministro paraguaio da Agricultura, Alfredo Molinas, "é preciso encontrar na região um equilíbrio, incentivando a produção de produtos da cesta básica".
Já o argentino Urquiza saiu da reunião sem falar com a imprensa. Seu país vive uma crise dupla com a agricultura. Além da luta para neutralizar a alta de preços internacionais, a Argentina passa por uma crise política de enfrentamento do governo com os agricultores por causa de um aumento nos tributos sobre exportações de grãos e esse teria sido o motivo da ausência de Urquiza durante a divulgação do documento ao fim da reunião, de acordo com os outros ministros.
Em um documento conjunto divulgado ao final do encontro, os ministros de Agricultura apontam a especulação com alimentos como uma das principais causas da recente disparada de preços, junto com o aumento do consumo de carnes e de cereais e oleaginosos, principalmente por parte da China, Índia e Rússia e a demanda de produtos agrícolas como matéria-prima para a geração de biocombustíveis como milho e canola.
"A demanda mundial está influenciada pela crise dos empréstimos subprime [imobiliários, nos Estados Unidos] que está levando a uma saída massiva de investimentos especulativos para o mercado de commodities agrícolas", afirmou a ministra de agricultura do Chile, Marigen Hornkohl.
Em uma clara mensagem a comunidade internacional, os ministros do CAS expressaram no documento a expectativa de que a alta dos preços dos alimentos ajude a destravar as negociações na Rodada Doha. Segundo o documento, "o incremento dos preços cria um ambiente favorável para a conclusão" da rodada, "com resultados positivos em termos de redução do protecionismo e dos subsídios que distorcem o comércio agrícola internacional".
Os ministros reunidos em Montevidéu também assinaram uma declaração para instituir políticas públicas de estímulo à produção de pequenos agricultores, em uma tentativa de incrementar a oferta de alimentos. Além disso, destacou o ministério brasileiro, o documento inclui como compromisso o fortalecimento dos sistemas destinados ao desenvolvimento da pesquisa e inovação tecnológica.