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Conflito agropecuário na Argentina favorece e prejudica o Brasil

A greve dos ruralistas sobre comercialização de cereais para a exportação e a política oficial de restringir as vendas sob o argumento de abastecer o mercado local primeiro afetam nosso País.

Redação (24/06/2008)- O conflito agropecuário argentino tem desvantagens, mas também vantagens para o Brasil. O impacto negativo acontece sobre os produtos dos quais o Brasil precisa para o seu mercado e tem na Argentina o seu principal fornecedor. São produtos cujas exportações estão restritas pelo governo argentino como trigo e laticínios. A greve dos ruralistas sobre comercialização de cereais para a exportação e a política oficial de restringir as vendas sob o argumento de abastecer o mercado local primeiro afetam o Brasil.

"No caso do trigo, proibir as exportações é uma forma de pressionar o setor empresarial a baixar os preços internos", conta Dante Sica, diretor da consultoria Abeceb, especializada em Mercosul e nas relações comerciais com o Brasil.

O Brasil passou a ser o principal investidor na Argentina. Os investimentos de capitais brasileiros representam 25% dos investimentos estrangeiros no país. Empresas no setor da carne como os frigoríficos JBS e Marfrig, no curto prazo, foram afetados pelas proibições de exportação de carne.

Fora isso, o conflito argentino traz vários benefícios indiretos para o Brasil. Para os olhos do mundo que demanda alimentos, o Brasil é o contraste da Argentina.

"Fica muito clara a diferença entre a política brasileira e a argentina. Isso faz do Brasil um fornecedor muito mais confiável do que a Argentina para o mundo. Até pode fazer o Brasil ganhar mercado internacional onde a Argentina está perdendo", acredita Sica.

No que se refere aos investimentos, a vantagem brasileira é dupla. A Argentina está entre dois países com grau de investimento: Chile e Brasil.

"O contraste é tão forte que os capitais que querem vir à região têm escolhido o Brasil e não a Argentina. A corrente investidora extra-regional instala-se no Brasil ou no Chile", aponta. E conflitos como o que se vive atualmente acentuam esse contraste. "A Argentina se isola cada vez mais do mundo", conclui.

A segunda vantagem é que o empresário brasileiro fica mais à vontade para entrar no mercado argentino.

"Dos grandes investimentos, hoje não há ninguém que queira investir na Argentina a não ser o Brasil. Os capitais europeus e americanos cada vez vêm menos. O Brasil decodifica muito melhor a política pública argentina do que o resto dos países. Parece estar mais acostumado. Isso lhe permite uma posição muito importante em termos de compras de empresas", avalia.

Desde 2002, as mais de 100 empresas brasileiras na Argentina investiram cerca de US$ 10 bilhões em investimentos e grandes aquisições como Petrobras (PeCom), Ambev (Quilmes), Camargo Correa (Loma Negra e Alpargatas), JBS (Swift e outros frigoríficos) e Marfrig (Quickfood).