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Consumo chinês de carne é exemplo de pressão sobre preços

Em 1980, cada chinês comia por ano cerca de 20 quilos de carnes. Atualmente, a média anual per capita está acima dos 50 quilos, segundo dados da FAO.

Redação (05/06/2008)- Um dos aspectos que vem ganhando cada vez mais espaço na discussão da crise mundial dos alimentos é o impacto do aumento de consumo sobre o mercado internacional.

Na sexta-feira passada, como parte dos preparativos para a reunião que está ocorrendo em Roma, na Itália, a FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação) apresentou um relatório em que reconhece o fenômeno.

O Agricultural Outlook 2007-2017 afirma que o aumento dos preços dos grãos no cenário mundial está associado a vários fatores, inclusive o "crescimento da renda popular e a mudanças na dieta de economias emergentes, em particular China e Índia".

A China é o exemplo mais extremo do que está ocorrendo em vários países. Em 1980, cada chinês comia por ano cerca de 20 quilos de carnes. Atualmente, a média anual per capita está acima dos 50 quilos, segundo dados da FAO.

O volume por pessoa na verdade não é alto. Nos Estados Unidos, maior consumidor per capita de carne do mundo, o volume total é mais do que o dobro. A China – assim como a Índia – faz a diferença por causa do tamanho de sua população, de mais de 1,3 bilhão de habitantes.

De acordo com dados da FAO, em 2007, a China consumiu 85 milhões de toneladas de carne, enquanto os Estados Unidos consumiram 38 milhões, e o Brasil, 16,7 milhões.

Impacto no campo

O aumento do consumo de carne também se reflete no aumento do consumo de grãos. Na média mundial, a produção de um quilo de carne suína, a mais consumida na China, demanda pelo menos quatro quilos de grãos, segundo a FAO – até 70% da ração dos suínos criados no China é composta de milho.

"Na medida em que as pessoas têm mais renda, elas consomem mais carne, e isso demanda mais grãos para alimentar os animais, então certamente isso vai ter um impacto nos preços globais como um todo", diz Wallace Tyner, especialista em economia agrícola da Universidade de Purdue, nos Estados Unidos.

O país está ampliando a sua produção de alimentos para poder suprir a demanda, mas não tem conseguido responder à velocidade com que o consumo tem crescido.

Entre 2005 e 2006, por exemplo, a produção doméstica de suínos aumentou em 3,72%. Mesmo assim, apenas no primeiro semestre de 2007, as importações do produto aumentaram em 73%.

Para piorar a situação, recentemente o país tem sofrido problemas com a sua indústria. Em 2007, uma severa epidemia da Síndrome Respiratória Reprodutiva Suína, a doença "da orelha azul", matou milhões de porcos. Nevascas rigorosas exterminaram outros 800 mil animais no começo deste ano.

Atualmente, teme-se que o recente terremoto em Sichuan possa vir a desestabilizar novamente a oferta, pois 1,5 milhão de suínos morreram no desastre, segundo dados do governo. Sichuan produz 60 milhões de porcos por ano e é a líder do país em carne suína, responsável por 10% da oferta nacional.

”Sem culpa”

Chineses e especialistas no país defendem que, apesar dos dados sobre aumento do consumo, o país não deve ser visto como vilão da crise atual.

Para o diretor do escritório do Banco Mundial em Pequim, David Dollar, o aumento dos preços da carne na China é um fator secundário no cenário da alta mundial de preços dos alimentos.

"De fato, a classe média emergente está enriquecendo num ritmo acelerado, mas a produção também está aumentando. Demanda e oferta crescem juntas gradualmente no mercado doméstico. O ano passado foi o ano em que a China mais produziu alimentos em toda a sua história", afirma Dollar.

"As altas repentinas de 100% no valor de certos produtos agrícolas não podem ser causadas pela classe media emergente", defende.

Zheng Fengtian é professor da faculdade de economia e desenvolvimento agrícola na Universidade Renmin em Pequim e afirma que "é difícil precisar qual a parcela de responsabilidade que a classe média emergente tem pela alta dos preços globais".

Mas Zheng avalia que os países ricos devem olhar para outro lugar na hora de procurar soluções. "Certamente, os chineses são menos responsável (pela atual crise) do que a classe média dos paises desenvolvidos."