Redação AI (20/02/06)- O Japão e a Suíça já informaram que não pretendem mais importar frangos de produtores situados próximos à área onde o vírus foi detectado.
As autoridades francesas confirmaram no último sábado o primeiro caso de gripe aviária em um pato selvagem encontrado morto no centro-leste do país, nas proximidades de Bresse, uma das maiores regiões produtoras de frango da França.
Os frangos de Bresse têm um selo de qualidade especial e são renomados na gastronomia francesa, custando bem mais caro do que frangos de outras partes do país.
Foie gras
O Japão anunciou que passaria a importar agora somente carnes de aves de produtores situados a mais de 50 km da área onde a presença do vírus foi confirmada, o que exclui a região de Bresse.
As vendas do tradicional foie gras francês, patê de fígado de pato ou de ganso, também podem sofrer.
“Já registramos uma queda nas exportações de carne de aves desde o início do ano, sobretudo em relação a mercados importantes fora da União Européia, como o dos países do Oriente Médio, disse à BBC Brasil Christian Ligeard, chefe do serviço de Relações Internacionais do Ministério da Agricultura da França.
Países como a Arábia Saudita, que importam carne de frango da França, são também um importante mercado para as exportações brasileiras do produto.
Ele diz que o governo francês ainda não dispõe de números globais em relação à diminuição das exportações.
O principal sindicato agrícola do país, o FNSEA, informa que algumas regiões francesas já registrariam queda de 50% de suas vendas externas de carnes de aves desde o início do ano.
Na segunda-feira, a França soliticitou à Comissão Européia um aumento das subvenções às exportações de carne de aves para “restabelecer os fluxos normais de exportação para países fora da União Européia”, disse Ligeard.
A Comissão não aprovou a medida, mas segundo ele não teria também descartado totalmente sua aplicação, se necessário.
Na reunião da Organização Mundial do Comércio (OMC) em Hong Kong, em dezembro passado, a União Européia anunciou o fim total de seus subsídios às exportações a partir de 2014.
Competição com o Brasil
“Não fizemos nada de ilegal ao pedir o aumento da chamada restituição à exportação”, diz Ligeard.
Na prática, se aprovada, a medida representaria uma possibilidade para a França aplicar preços mais competitivos no mercado internacional e fazer uma concorrência direta com o frango brasileiro, reconhece Ligeard.
O Japão e os Estados Unidos já ameaçaram suspender as importações do produto em razão da gripe aviária.
A notícia levou o ministro francês da Saúde, Xavier Bertrand, a dizer que a iniciativa desses países “não corresponde a nenhum critério de saúde humana”.
A França exporta principalmente para a Alemanha, país da União Européia mais afetado pela gripe aviária até o momento, com cerca de 60 casos, além da Grã-Bretanha, Bélgica, Luxemburgo e Árabia Saudita, país que representa um importante mercado também para o Brasil.
Existem na França cerca de 30,6 mil avicultores. No ano passado, o país produziu, segundo o Ministério da Agricultura, 2 milhões de toneladas de carne de aves. O faturamento anual do setor é de 6 bilhões de euros (cerca de R$ 15 bilhões). As exportações representam quase 1 bilhão de euros desse total.
O governo francês já reconhece que o número de casos de gripe aviária deve subir rapidamente no país. Testes estão sendo realizados atualmente em 15 pássaros selvagens encontrados mortos em diferentes regiões da França.
Para Marc Hervouet, presidente da Federação Nacional do Comércio Atacadista de Aves, cada futuro anúncio relativo à presença do vírus no país provocará novas quedas nas vendas. “Estamos preocupados em relação ao que vai ocorrer nas próximas semanas”, diz ele.
O governo também anunciou que irá lançar em breve uma campanha de marketing para estimular o consumo de carne de aves no país.
As autoridades informaram dispor atualmente de 14 milhões de doses dos medicamentos Tamiflu e Relenza, contra a gripe aviária, e 250 milhões de máscaras respiratórias para evitar a contaminação humana.