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Crédito agrícola dispara nos bancos

Desde 2007, o setor rural vem se recuperando após ter passado por períodos de instabilidade, especialmente nos anos 2005 e 2006, quando houve quebras de safra, seca em parte do País e aumento de custos.

Redação (06/05/2008)- Diante de um quadro de maior demanda e encarecimento dos preços dos alimentos no cenário mundial, os bancos privados brasileiros têm ampliado sua atuação no crédito ao agronegócio, setor que passa por um momento de retomada de investimentos. Para este ano, o Santander – cuja carteira subiu 15% no primeiro trimestre, a R$ 3 bilhões – pretende fechar 2008 em R$ 4 bilhões, apostando em produtos diferenciados. A Nossa Caixa quer ampliar a carteira de R$ 1,1 bilhão para R$ 1,5 bilhão, e o Bradesco tem a intenção de emprestar mais R$ 4 bilhões até junho.
Desde 2007, o setor rural vem se recuperando após ter passado por períodos de instabilidade, especialmente nos anos 2005 e 2006, quando houve quebras de safra, seca em parte do País e aumento de custos. Com a alta dos preços das commodities no mercado internacional a partir do ano passado, a renda do campo melhorou. "Houve aumento da área plantada e da produtividade. Subiu a demanda internacional por soja e milho, usado para a produção do etanol nos Estados Unidos", explica Josué Augusto Pancini, diretor do departamento de empréstimos e financiamentos do Bradesco. Para ele, o período da última safra foi determinante para criar uma maior necessidade de investimentos por parte do produtor rural. "Daí a necessidade de mais crédito", completa.
Pancini projeta para 2008 e para os próximos anos um aumento do crédito oferecido ao agronegócio no País, que ainda tem volumes pequenos perto do total de crédito no sistema financeiro. Segundo dados do Banco Central, o saldo de crédito rural com recursos direcionados, ou seja, apenas repassados pelos bancos, atingiu R$ 66,6 bilhões até março, alta de 20,2% nos últimos 12 meses. Já o saldo de crédito com recursos livres (dos próprios bancos) atingiu R$ 1,995 bilhão em março, crescimento de apenas 2,9% na comparação com o mesmo período do ano passado. O sistema financeiro como um todo já está próximo de R$ 1 trilhão em saldo de empréstimos.
No Bradesco, a projeção de Pancini já começa a se materializar. A carteira de financiamento ao agronegócio pessoa física, ou seja, a produtores menores, atingiu R$ 3,384 bilhões até março, crescimento de 69% em 12 meses.Na pessoa jurídica, que engloba produtores maiores, a carteira atingiu R$ 3,190 bilhões, avanço de 20,8%. A projeção é oferecer ao menos R$ 4 bilhões em novas operações até junho. "Percebemos uma retomada do investimento, especialmente do pequeno produtor", diz Pancini. No total, o banco repassou, nos três primeiros meses do ano, R$ 2,945 bilhões de créditos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Segundo a legislação vigente, os bancos são obrigados a destinar 25% do total de depósitos à vista ao crédito rural, que é o financiamento ao custeio. A maior parte desses recursos é especialmente destinada a pequenos produtores, que têm determinados limites de crédito estabelecidos por lei. Os grandes produtores, por contratarem volumes maiores, tomam mais crédito com recursos livres por não haver limites, explica Pancini.
"Hoje, somos líderes entre os bancos privados, com 21,88% nos empréstimos", completa o executivo. O líder entre privados e públicos é o Banco do Brasil, com 58% do mercado e uma carteira de R$ 52 bilhões. No caso do Bradesco, o foco é o pequeno e médio produtor. "Atendemos mais fortemente a pecuária; em seguida, as cooperativas, o setor de soja, milho, arroz e suínos."
O Santander também está dando mais atenção ao agronegócio após o bom momento da última safra e a alta demanda por alimentos no mundo. A estratégia é atender o produtor rural e a agroindústria de uma forma ampla, oferecendo empréstimo e consultoria, afirma Walmir Segatto, superintendente comercial de agronegócio. "Os financiamentos ao setor têm crescido porque, depois de anos de dificuldades com baixa na produção e adversidades climáticas, o agronegócio passa por um momento de alta da receita."
Do total da carteira do Santander, de R$ 3 bilhões, 50% são destinados ao crédito para custeio, que cumpre a exigibilidade perante o Banco Central, e os demais 50% para investimentos, como compra de máquinas e equipamentos. Para 2008, a meta é atingir R$ 4 bilhões.
Apesar do crescimento, Segatto lembra que, na última safra, o setor bancário não atendeu suficientemente à demanda por crédito por parte do produtor. "O empresário precisou buscar recursos no mercado de commodities, antecipando receitas ou até recorrendo ao fornecedor. Isso pode ser melhorado", comenta.
O perfil do cliente do Santander é variado. Segundo ele, o banco conta com clientes de mais de 87 atividades agropecuárias. Para atingir a meta crescimento, a instituição investe na diversificação de produtos, como a Cédula de Produto Rural (CPR), que permite a antecipação das receitas antes da comercialização da safra.