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Créditos de carbono

Mecanismos de negociação poderão ser entendidos dia 22, durante inauguração de Biodigestores da Granja Rancho Alegre, em Campo Grande (MS).

Redação SI 17/10/2005 – Um mercado que vai movimentar mais de US$ 30 bilhões no mundo todo, até 2012, encontra na suinocultura um forte aliado. E, no Brasil, não é diferente. Com um plantel estimado em mais de 35 milhões de cabeças de suínos, o setor pode ajudar o país a abocanhar até 10% dos recursos vinculados às negociações de “créditos de carbono” que serão negociados através de projetos que se enquadrem nos Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL), ou seja, que promovem reduções dos chamados Gases do Efeito Estufa (GEEs) — leia abaixo sobre o Tratado de Quioto.

Uma mostra de como funciona esse mecanismo poderá ser vista dia 22 de outubro na Suinocultura Rancho Alegre, localizada a 47Km da cidade de Campo Grande (MS). Nesta data, os proprietários do empreendimento, o casal Jussara Feltrin Moraes e Arão Antonio Moraes, inaugura um moderno sistema de tratamento de dejetos suínos. Além de franquear o acesso da granja aos recursos gerados pela venda dos “créditos de carbono”, o investimento representa um marco no sentido de desenvolvimento sustentável, ao permitir a produção de suínos de maneira correta, sem agredir o meio ambiente.

O ponto alto da programação será a apresentação do sistema de biodigestores da Granja Rancho Alegre, desenvolvido pela empresa Agcert. Trata-se, na verdade, de tanques fechados usados na fermentação dos dejetos gerados pelos suínos. Como resultado, obtém-se energia para movimentar a fábrica de ração, por exemplo, e adubo para fertilizar a plantação de milho, soja, sorgo etc. Além de proporcionar receita financeira por meio da negociação dos créditos de carbono, uma vez que o gás (CO2) gerado será queimado, evitando a emissão atmosférica.

A inauguração dos biodigestores, agora no próximo dia 22, é resultado de um trabalho que teve início em novembro de 2004. Nesta época fomos informados pela cooperativa de São Gabriel do Oeste/MS (COASGO), da qual somos sócios, que estavam sendo feitos os contratos de crédito de carbono com a empresa Agcert, explica Jussara. “Como tínhamos em mente fazer um aproveitamento dos dejetos suínos, tanto de aproveitar a água para o solo, como solucionar problemas com o meio ambiente, este Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) veio nos ajudar”.

Segundo Jussara, a Suinocultura Rancho Alegre recebeu grande apoio de seus parceiros na suinocultura, em particular das empresas Genetiporc (genética) e Vitagri (nutrição e tecnologia de produção), que embora não tenham se envolvido diretamente no desenvolvimento dos biodigestores, aconselharam positivamente sobre a implantação dos mesmos. Jussara explica que coube a empresa Agcert oferecer toda a infra-estrutura, entregando pronto o sistema.

“Como resultado, temos hoje a satisfação imensa de estar com este projeto concluído, com tecnologia de primeiro mundo”, diz Jussara. “Dessa forma, contribuímos com o meio ambiente e também minimizamos custos com a energia elétrica e vários outros fatores. Com esta implantação irá aumentar a rentabilidade da granja, em todos o setores”, calcula.

Inaugurada em 1985, a Granja Rancho Alegre tem 1700 matrizes, e emprega 40 colaboradores diretos e 20 indiretos, enumera Jussara. “Possuímos uma fábrica que produz toda ração para granja, isto é, 10 mil toneladas/ano, com misturadores de última geração. Vale frisar que mais de dois terços (cerca de 70%) da energia elétrica consumida pela fábrica passa a ser gerada pelos biodigestores. Atualmente produzimos 36 mil cabeças (terminados) ano, com uma previsão de 40 mil até o final do ano de 2006. Cerca de 50% da produção é comercializada no Mato Grosso do Sul, e o restante por meio de frigoríficos de outros estados”, conclui Jussara.

Serviço

Inauguração dos biodigestores da Granja Rancho Alegre

Data e hora: 22 de outubro de 2005, às 8 horas

Local: Fazenda Rancho Alegre – BR 163 KM 437 – Campo Grande – MS

Mais informações pelo fone: (67) 382-3172 / (67) 9985-2642

Tratado de Quioto

Estimativas de especialistas em meio ambiente indicam que são despejadas na atmosfera anualmente cerca de 7 bilhões de toneladas de gases causadores do efeito estufa (aquecimento artificial da terra), principalmente o gás carbônico (CO), o mais nocivo ao meio ambiente, segundo explica o professor Emilio La Rovere, coordenador do Programa de Planejamento Energético da Coordenação dos Programas de Pós-graduação de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ). A metade deste volume, segundo La Rovere, cerca de 50%, é seqüestrada pela própria biosfera – por meio dos oceanos e das florestas -, o que evita que boa parte dos gases vá se acumular na atmosfera, agravando ainda mais o efeito estufa. Mesmo assim, o aquecimento global continua sendo uma ameaça e, para tentar minimizar esse problema, como explica o professor, cerca de 141 países de todo o mundo, inclusive a maioria dos países desenvolvidos – à exceção dos estados Unidos e da Austrália – ratificaram o Tratado de Quioto, que começou a vigorar em fevereiro deste ano. O acordo torna obrigatória a redução da emissão dos gases causadores do efeito estufa. Como essa obrigatoriedade pode ser contornada se a empresa ou governo se associa a um projeto que esteja realizando a redução, por meio dos “créditos de carbono”, cria-se no mundo um mercado que poderá movimentar até 2012 cerca de US$ 30 bilhões. As estimativas fazem parte de um estudo realizado pela Coope para o Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, como afirma o professor La Rovere. Segundo ele, o Brasil poderá abocanhar até 10% destes recursos. “As estimativas são muito dinâmicas: o Tratado de Quioto foi ratificado agora em fevereiro deste ano e já é muito diferente hoje a situação do mercado em relação ao ano passado. Agora, as estimativas falam, para o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, de um mercado da ordem de US$ 30 bilhões.” O coordenador diz que o estudo da Coppe mostra que só as iniciativas já em andamento no Brasil podem render um fluxo anual de US$ 300 milhões para o país. “Claro que, para que isso ocorra, nós vamos ter que nos organizar para pleitear os créditos de carbono”, diz ele. Segundo La Rovere, a estimativa considera o preço atual da tonelada de gás carbônico, entre US$ 5 e US$ 7. Na avaliação de La Rovere, porém, o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo é um mercado como outro qualquer, por isso, “a participação do Brasil vai depender da nossa eficiência de apresentar bons projetos a bons preços”. Ele explica ainda que o mercado está ligado a outros fatores: “Por exemplo: quanto os países industrializados vão precisar comprar fora de suas fronteiras – o que depende diretamente de o quanto eles vão conseguir reduzir suas emissões dentro de casa”. “Naturalmente, o elevado potencial de crescimento deste mercado, e é bom deixar isto bem claro, vai depender de nós termos alguma segurança.” Para garantir essa segurança, La Rovere lembra que será preciso prosseguir com as negociações, no âmbito da Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas. A próxima reunião da convenção, segundo ele, acontece entre novembro e dezembro deste ano, em Montreal (Canadá) — Fonte: Agência Brasil.