Redação AI (02/03/06)- Mesmo estando a quilômetros de distância de Mato Grosso e do Brasil, a gripe aviária começa a interferir na economia local. Os primeiros indícios de que a crise da avicultura já chegou a Mato Grosso são sentidos no agronegócio estadual, ou seja, para os produtores de soja, milho e para os próprios criadores de aves. Já estamos sentindo a redução do consumo dos grãos e das exportações e isso pode gerar uma onda de pânico, de medo, porque as notícias que vem da Europa e da Ásia não são animadoras, aponta o secretário de Desenvolvimento Rural, Cloves Vettorato.
O secretário conta que os exportadores de farelo de soja e farelo de milho já tiveram uma considerável redução de suas vendas após o surgimento de casos da gripe aviária. O número de animais exterminados em decorrência da doença, que afeta o ser humano e pode inclusive levar à morte, vai reduzir o apetite do mercado para a compra de aves, mesmo que, congeladas, não tenham restrições ao consumo.
Vetoratto disse ainda que não dá para se falar em problemas com relação à instalação de unidades de frigoríficos de frangos da Sadia e da Perdigão, mas acredita que o ritmo será diminuído até porque são investimentos de grande porte e que devem aguardar ainda o desenrolar da situação que já preocupa todos os países do planeta. Somente a Sadia anunciou R$ 1,5 bilhão, volume que será aplicado no Estado entre 2006 e 2009 em projetos de avicultura e suinocultura.
Vai sobrar farelo de soja no mercado. Isso quer dizer que haverá preços mais baixos e mais dificuldades para os produtores, que já contabilizam problemas com a desvalorização do dólar frente ao real, adverte Vettorato, acenando para possível redução na velocidade dos novos investimentos no setor estadual. Todos agora estão observando e acompanhando a situação para saber o que vai acontecer. As autoridades, os empresários, os compradores, enfim todos se preocupam com o desfecho da crise gerada pela gripe aviária, que não cessa, ressalta Vetoratto, apontando que a Perdigão e a Sadia são mega-investidores que visam os mercados externos quando olham para Mato Grosso e se o mercado não corresponder às expectativas fica difícil falar o que vai acontecer no futuro, inclusive as consequências para nosso Estado.
Mesmo com o aquecimento do segmento e das oportunidades no Estado, a avicultura mato-grossense não se apresenta como uma atividade organizada e não possui uma associação. Os números de abate e de plantel são estimativas e não há um dado oficial sobre o setor em Mato Grosso. A média de abates no ano passado foi contabilizada em 77 milhões de cabeças.
PREVENÇÃO — Barreiras fitossanitárias estão sendo analisadas para uma eventual contaminação da gripe aviária em Mato Grosso por causa da migração de aves, já que a doença tem se manifestado em outras aves como gansos. Falar que estamos preparados seria muito prematuro, mas já analisamos uma série de medidas que emergencialmente poderiam ser adotadas caso tivéssemos qualquer indício da manifestação da gripe aviária, explica o secretário de Desenvolvimento Rural.
Vettorato disse que o assunto preocupa mas poderá representar melhorias para os produtos brasileiros, já que está confirmada a liberalidade da carne de frango e outras aves no Brasil. Fica difícil se falar em retomar o consumo de aves no mundo, até porque a população está assustada, mas o provável é que esta fase passe e haja um controle sanitário maior entre os países onde a doença se manifestou, mas como a carne de aves no Brasil já sairia pronta para o consumo, não haveria problemas, acredita.