Redação (01/04/2008)- A estimativa é que cerca de 500 mil a 600 mil toneladas contratadas antes do plantio tenham sido renegociadas – direcionadas para o mercado interno ou os prazos de embarque alongados para abril e maio deste ano. Mas, apesar disso, analistas de mercado são otimistas com as vendas externas e asseguram que o avanço da safra e alta do preço em Chicago vai reanimar as exportações do cereal, inclusive com a retomada das compras da Europa a partir de abril.
Segundo levantamento da Céleres, até o momento 34% da safra do grão foi colhida ante 48% no mesmo período do ano passado. Dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/USP) mostram que no início do ano, a diferença de preço no porto de Paranaguá e em Campinas, que estava maior desde setembro do ano passado, chegou a R$ 4 por saca. Atualmente está em torno de R$ 1 por saca.
"As chuvas atrasaram a colheita e o preço interno estava melhor. Por isso houve reprogramação", afirma Paulo Molinari, analista da Safras & Mercado. De acordo com o pesquisador Lucílio Alves, do Cepea/USP, parte das negociações feitas no ano passado já era em um sistema que possibilitava a internacionalização do produto – neste caso, sem multa. "Os agentes (tradings) veriam quais os mercados estariam mais rentáveis e tinham a opção de não-exportar", afirma.
Molinari lembra que apesar do movimento de reposicionamento ou wash out, isso não deve interferir no volume total a ser exportado. A previsão da consultoria é de embarques totais de 9 milhões de toneladas na safra atual. "Mas o câmbio e o clima da safrinha ainda são fatores determinantes para os embarques", acredita. Opinião semelhante tem o sócio-diretor da Céleres, Leonardo Sologuren: "o desempenho está atrelado ao desenvolvimento da safrinha".
Sologuren lembra que no ano passado, a maior média mensal de exportação ocorreu no segundo semestre, de compromissos cumpridos com a segunda safra. Segundo os números da consultoria, a média mensal do primeiro semestre ficou em embarques de 500 mil toneladas, enquanto chegou a 1,2 milhão de toneladas no segundo semestre. O sócio-diretor da Céleres acrescenta ainda que no ano passado, quando os preços do mercado interno começaram a ficar mais altos que a paridade de exportação, já havia ocorrido algum movimento de wash out.
Os embarques de fevereiro foram de 325 mil toneladas, de acordo com a Safras & Mercado. E a expectativa de analistas de mercado é que em março o número – que ainda não está fechado – tenha ficado neste patamar ou chegado a 400 mil toneladas.
O assessor de comercialização da Cooperativa Agropecuária Alto Uruguai Ltda (Cotrimaio), Marcelo da Silveira, diz que a cooperativa cumpriu seus compromissos assim que a colheita começou – foram embarcadas cerca de 15 mil toneladas – mas ainda não fechou novos contratos. "Estamos esperando para ver como o mercado vai acenar".
Para o analista Aedson Pereira, da AgraFNP, a movimentação de compras externas deve começar a ficar mais significativa a partir de abril e maio. Ele lembra que apenas no caso do Paraná, cerca de 40% da primeira safra foi vendida antecipadamente – mas que poderia ser tanto para o mercado interno quanto para o externo.
A perspectiva da retomada de embarques maiores a partir do próximo mês já pode ser verificada pelo movimento nos portos. De acordo com Alves, em Paranaguá existe um estoque de 55 mil toneladas no armazém e outras 300 mil toneladas estariam aptas a serem exportadas. Segundo os dados do Cepea/USP, os registros estariam saindo de compradores da Europa e este fato já estaria contribuindo para elevar as cotações do grão no porto de Paranaguá. Nos últimos 10 dias os preços naquela região aumentaram cerca de 2%.