Redação (14/04/2008)- As doenças animais transfronteiriças são a maior ameaça à produção pecuária mundial. A região da América Latina e Caribe é a maior produtora mundial de carne de gado, ave e ovos e a terceira produtora mundial de carne de porco. Isso faz com que a pecuária seja uma atividade de grande relevância na região. Representa cerca de 13% da produção mundial e tem uma taxa de crescimento anual de 4,5%. Por esse motivo, a prevenção, o controle e a erradicação das doenças transfronteiriças serão alguns dos temas prioritários de debate na 30ª Conferência Regional da FAO para América Latina e Caribe, que acontecerá de 14 a 18 de abril em Brasília.
Nos últimos dois anos, a produção de carne na América Latina cresceu a uma taxa anual muito superior à média mundial de 2,1%. E espera-se que essa tendência se mantenha no próximo biênio. O produto mais importante continua sendo a carne bovina, que representa 40% do valor da produção pecuária regional, seguido pelo forte dinamismo da produção avícola. Esse crescimento tem sido acompanhado por um acesso maior dos produtos pecuários da América Latina ao mercado global, situação liderada pela América do Sul, que tem uma indústria voltada para o mercado externo. As exportações de carne da Argentina, Brasil, Colômbia e Uruguai, em 2005, alcançaram 246,8 milhões de toneladas. No entanto, também se intensificaram as exigências dos mercados internacionais em termos sanitários e de qualidade dos produtos pecuários, o que torna indispensável e urgente fortalecer os sistemas nacionais de saúde animal.
"A luta contra as doenças transfronteiriças é um desafio que devemos enfrentar em conjunto: por sua natureza, elas não respeitam fronteiras nacionais. É tarefa de toda a região erradicar e controlar esses males, que podem ter enormes impactos económicos e sociais", ressalta o Representante Regional da FAO, José Graziano da Silva.
Doenças prioritárias
A FAO apresentará na próxima Conferência Regional um documento sobre as doenças transfronteiriças que indica melhorias nos serviços veterinários nacionais e nos programas de vigilância epidemiológica, diagnóstico e controle sanitário. "No entanto, essas melhorias não são idênticas em todos os sistemas nacionais de saúde animal da região, assim como tampouco há avanços equiparados nos programas de prevenção, controle e erradicação dessas doenças", afirma o Oficial Principal de Produção e Saúde Animal da Oficina Regional da FAO, Tito Díaz.
O documento também destaca as ações da FAO em relação a cinco doenças prioritárias:
Influenza Aviária de Alta Patogenicidade
A avicultura é um setor em expansão na região: entre 1990 e 2004 duplicou sua participação na produção pecuária regional, de 12% para 24%. Atualmente, o continente americano está livre da Influenza Aviária de Alta Patogenicidade H5N1 Asiática. Se ela chegasse à América Latina e ao Caribe, o que poderia acontecer pelo movimento migratório de aves silvestres ou pela introdução legal ou ilegal de aves infectadas, poderia ameaçar a segurança alimentar regional (as aves correspodem a 35% do consumo de carne da Região) e provocar graves prejuízos econômicos. E ainda, um risco para a saúde humana: até 5 março de 2008, 371 casos de H5N1 Asiático foram detectados em pessoas, principalmente na Ásia, com 235 vítimas fatais. Diante dessa ameaça, a FAO providenciou assistência técnica de emergência a 33 países da região, num investimento de dois milhões de dólares para prevenir e enfrentar seu possível aparecimento.
Febre Aftosa
A febre aftosa é a doença animal que mais afeta a economia dos países da América Latina e Caribe, por suas implicações no comércio internacional. Os surtos de febre aftosa na Argentina e Brasil em 2005 e 2006 resultaram em perdas econômicas superiores a 10 bilhões de dólares americans. Os surtos na Bolívia em 2007 e a presença contínua da doença no Equador e na Venezuela, onde foram registrados 25% e 60%, respectivamente, dos surtos de 2006, demonstram que apesar dos avanços no controle e da diminuição do número de surtos no Cone Sul ainda há um caminho a percorrer para erradicar a doença em 2009, meta do Plano Hemisférico para a Erradicação da Febre Aftosa (PHEFA).
Peste Suína Clássica
A FAO coordena os esforços de controle e erradicação da Peste Suína Clássica através do Secretariado Técnico do Plano Continental para a Erradicação da Peste nas Américas, que contribuiu para que 67% do continente esteja hoje livre da doença. Este Plano é apoiado oficialmente por 19 países da região e a meta de erradicação será alcançada em 2020. Para fortalecer as ações, a FAO pôs em funcionamento o Sistema de Informação para a Peste Suína Clássica no Continente Americano, que permite realizar análises epidemiológicas e avaliar os resultados obtidos de acordo com as metas estabelecidas pelos programas nacionais de erradicação.
Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB)
A presença da EEB em 2003 no Canadá e em 2005 nos Estados Unidos provocou um alarme regional e prejuízos econômicos estimados em mais de cinco bilhões de dólares. Existe o risco de que a doença chegue na América Latina e Caribe pela introdução de animais ou produtos de origem animal infectados, associada a práticas inadequadas de alimentação animal, razão pela qual a FAO, a pedido dos países, está prestando assistência técnica para fortalcer seus sistemas de prevenção.
Miíase (Bicheira)
Em 2002 as perdas estimadas provocadas pela doença nos países afetados do Caribe (Cuba, Haiti, Jamaica, República Dominicana, Trinidad y Tobago) passavam de US$ 135 milhões de dólares anuais. Na América do Sul, onde todos os países estão infestados à exceção do Chile, só em 2000, as perdas foram de quase US$3,6 bilhões. Atualmente os países da América do Norte, América Central e a grande maioria dos países do Caribe conseguiram erradicar a bicheira. A FAO continua apoiando e dando assistência técnica no controle e erradicação dessa doença. As informações são da assessoria de imprensa da FAO.