Redação (31/01/2008)- O Itamaraty não considera que a suspensão das importações de carnes brasileiras pela União Européia (UE), ditada ontem por Bruxelas, afetará a posição do Brasil na Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC), nem em uma eventual retomada das negociações do acordo de livre comércio entre o Mercosul e o bloco europeu. Diplomatas brasileiros avaliam que esse embargo deve ser considerado como um caso isolado nas relações bilaterais, uma vez que se trata de um volume de importações equivalente a apenas 5% da demanda européia. Mas acreditam que tanto a Rodada Doha quanto o acordo birregional poderão contornar essa e futuras tendências protecionistas da União Européia.
Para o Itamaraty, a decisão da UE foi largamente preanunciada e seria efetivada em qualquer momento, como medida camuflada de proteção aos produtores locais, sobretudo os da Irlanda. A resistência dos pecuaristas brasileiros em adotar um sistema de rastreabilidade do gado, conforme as exigências européias, teria alimentado a decisão final de Bruxelas. No momento, além do diálogo bilateral, as alternativas para romper esse embargo e preservar o mercado já cativado pela produção brasileira são reduzidas.
O governo brasileiro, de fato, mostra-se de mãos atadas para resolver essa questão. A pequena participação das carnes brasileiras no mercado europeu praticamente anula qualquer influência sobre a formação de preços ou a oferta – indicadores que poderiam gerar pressões internas em favor da abertura do mercado ao produto do Brasil.
Embora discriminatória, a medida adotada por Bruxelas não deverá estimular o País a pedir a arbitragem da OMC. Primeiro, porque esse processo se alongaria por, no mínimo, dois anos. Segundo, porque os europeus tenderiam a voltar seus holofotes para problemas reais ou fictícios da produção pecuária brasileira, fato que acarretaria em prejuízos para o setor em outros mercados.