Dona de um pacote tecnológico único para agricultura tropical no Hemisfério Sul, a direção da empresa acredita que, finalmente, terá condições de negociar parcerias e vender conhecimento a qualquer país.
Segundo Silvio Crestana, presidente da Embrapa, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) ampliará em quase 50% o orçamento atual. A previsão é uma verba do Tesouro de mais R$ 500 milhões. Hoje, o orçamento da empresa é de R$ 1,17 bilhão. Além disso, poderá ter mais gente para acelerar as pesquisas. Por ano, a Embrapa lança entre 50 e 60 novas variedades agrícolas e o plano é acelerar esses lançamentos.
O pacote de apoio definirá metas institucionais e científicas, que terão de ser cumpridas num prazo de três anos. A meta é acelerar as pesquisas de novas variedades e estudar problemas atuais, como mudanças climáticas e os efeitos sobre a agricultura brasileira e a agroenergia. A Embrapa já criou uma divisão para o setor que estuda variedades de oleaginosas para a produção de biodiesel e pretende iniciar pesquisas para produção de etanol a partir de celulose.
Os Estados Unidos estão empenhando bilhões de dólares para dotar o país de capacidade de produção de etanol de vários tipos de biomassa. Há estudos no Brasil, mas entre os especialistas em bioenergia há consenso de que os esforços aqui ainda engatinham.
Empresa de negócios
O PAC da Embrapa não trará apenas recursos financeiras e humanos. A idéia é abrir a empresa aos negócios. A partir do pacote, a empresa quer criar a Embrapa Participações e a Embrapa Internacional. Crestana avalia que as alterações na lei que criou a empresa em 1973 serão flexibilizadas para que se permita acordos com empresas privadas.
Com a Embrapa Participações, o objetivo é formar empresas com parceiros para explorar nichos de mercado. Um dos primeiros negócios que podem ser viabilizados é a criação de uma empresa para desenvolver tecnologia de álcool celulósico. "A Embrapa fica com a agenda de ciência e tecnologia e o parceiro privado com a agenda do negócio", diz Crestana.
A Embrapa Internacional terá dois focos distintos: humanitário e de negócios em países similares. No front humanitário, a empresa planeja participar de iniciativas de reconstrução de países pobres. Atuará, segundo Crestana, com pacotes tecnológicos capazes de viabilizar a agricultura de subsistência, em regiões pobres e em apoio a instituições como a FAO e o Banco Mundial.
No campo dos negócios, a empresa acha que, além de deter tecnologia adaptada a zonas tropicais, poderá levar consigo empresas brasileiras de bens de capital, como máquinas e implementos, e de desenvolvimento de sementes, por exemplo. A expectativa é que o PAC amplie a relação de investimento e retorno. Em 2007, cada real aplicado na Embrapa gerou outros R$ 13,20 em retorno. "Essa relação pode ser ainda maior", afirma Crestana.