Da Redação 25/08/2005 – A quebra da última safra brasileira de grãos, determinada por uma prolongada estiagem na região Sul, obrigou as empresas de logística que apostam na movimentação de cargas do agronegócio a traçar novas estratégias e a investir em parcerias para manter a rentabilidade de seus negócios ligados ao setor. Boa parte delas, com isso, apurou no primeiro semestre de 2005 resultados surpreendentemente positivos tendo em vista a crise em algumas lavouras.
A América Latina Logística (ALL), que atua principalmente na região Sul atendendo os portos de Paranaguá (PR), Rio Grande (RS) e São Francisco do Sul (SC), viu sua movimentação de commodities agrícolas cair quase 13% em volume no primeiro trimestre. Entretanto, os preços dos contratos de transporte firmados no início do ano tiveram aumento médio de 10%, o que contribuiu para um crescimento de 11%, para R$ 301 milhões, do faturamento da empresa no setor no primeiro semestre.
Segundo Eduardo Pelleissone, diretor de commodities agrícolas da ALL – área que representa cerca de 50% da receita e do volume transportado pela empresa -, a queda do volume refletiu a baixa na demanda por fertilizantes até junho. Mas também colaborou a quebra da safra gaúcha de grãos, que causou baixa drástica na movimentação de cargas no Estado.
No segundo trimestre, a “queda agrícola” da ALL em Rio Grande foi de 47% sobre o mesmo período de 2004, e a companhia, segundo Pelleissone, optou por transferir vagões e locomotivas para a parte norte da sua malha ferroviária em busca de cargas. O resultado foi a recuperação de parte do volume no segundo trimestre, reduzindo no fim do semestre a 6% a “queda agrícola” total na comparação com igual intervalo de 2004, para 4,689 milhões de toneladas.
Grande parcela dessa recuperação se deve ao aumento de 97% do transporte de açúcar, um dos principais produtos da empresa (junto com a soja e seus derivados). No primeiro semestre de 2005, foram transportadas 410,5 mil toneladas de açúcar, ante 208 mil em 2004.
O avanço do açúcar também favoreceu a Brasil Ferrovias. Segundo seu presidente, Elias Nigri, a movimentação de açúcar consolidada pela holding (que envolve três empresas) chegou a 1,3 milhão de toneladas de janeiro a junho, ante 900 mil no mesmo período de 2004. A meta, segundo o presidente, é duplicar os volumes de açúcar no ano que vem.
Conforme Nigri, a Brasil Ferrovias aumentou em 20% sua movimentação de cargas agrícolas, que respondem por 70% dos negócios da holding. Ele acredita que o volume pode crescer 40%, por conta das posições “estratégicas” de suas ferrovias, que ligam o Centro-Oeste e o interior paulista ao porto de Santos. “Estamos em um corredor estratégico onde o Brasil mais tem crescido, e ele acaba se tornando um caminho natural para a produção daquelas regiões”. Segundo ele, o grupo investirá, neste e no próximo ano, R$ 500 milhões em capacitação de vias e firmou parceiras com gigantes como Cargill, ADMe Copersucar que garantem mais cerca de R$ 500 milhões em vagões e locomotivas.
Para a MRS Logística, as parcerias também foram um elemento importante para a receita bruta total da empresa, que cresceu 31,6% na primeira metade de 2005, para R$ 938,7 milhões. Neste ano, a MRS e os moinhos Santo André, Santa Clara e Anaconda fecharam um acordo para o transporte de trigo por trilhos, que envolveu a adaptação da frota para o produto. Segundo Valter Luís de Souza, diretor comercial da MRS, a idéia ainda está em desenvolvimento no Brasil, mas gerou a movimentação de 90 mil toneladas de trigo no primeiro semestre, ante 64 mil no mesmo período de 2004. Souza calcula que, até o fim do ano, serão transportados 200 mil toneladas de trigo, 105 mil a mais que em 2004.
No caso da MRS, com foco no Sudeste, o volume agrícola movimentado subiu de 3,8 milhões de toneladas nos primeiros seis meses de 2004 para 4,2 milhões em 2005, em parte devido ao incremento das cargas de soja e açúcar. Como a MRS está mais ligada ao transporte de minérios, o setor agrícola representa pouco para o total de cargas (10% do volume e 8% do faturamento), mas Souza diz que a empresa tem desenvolvido negócios na área e novas opções de rota em São Paulo, principalmente as que têm como destino o porto de Sepetiba, no Rio de Janeiro.
Já para a movimentação de cargas da Vale, o setor agrícola representa cerca de 25% da movimentação e do faturamento. Segundo Mauro Dias, diretor de comercialização e logística da companhia, o segmento agrícola é o que mais cresce. De janeiro a junho deste ano, o volume de cargas agrícolas transportado chegou a 5 milhões de toneladas, 12% mais que no mesmo intervalo de 2004.
A movimentação da Vale está concentrada na rota que liga Goiás, Espírito Santo e Minas ao porto de Tubarão (ES), mas a empresa também opera no Nordeste, tendo o porto de Itaqui (MA) como destino. Segundo Dias, a “boa performance” da produção de soja no Norte e Nordeste elevou em 8% a movimentação da commodity em relação ao primeiro semestre de 2004. Já a movimentação do açúcar cresceu de 156 mil toneladas na primeira metade de 2004 para 343 mil em 2005, e a de fertilizantes aumentou 1,5%, “mesmo com a instabilidade do mercado”. Segundo Dias, o crescimento reflete investimentos . No primeiro semestre, foram aplicados US$ 760 milhões em melhorias na frota e na malha ferroviária, segundo Dias. A área de logística representa cerca de 10% do faturamento da Vale