Redação (21/02/06) – Os efeitos do aparecimento de gripe aviária nos mercados asiático, europeu e africano começam a ser sentidos no Brasil. A queda no consumo mundial de frango já derruba as vendas externas, inclusive de Minas Gerais, onde estão instalados quatro grupos exportadores: Pif Paf, Sadia, Rivelli e Cossisa. Há exportador que fala até em demissão, caso a retração no consumo no mercado mundial persista.
Por outro lado, o consumidor se beneficia com a elevação da oferta no mercado interno. Nos supermercados de Belo Horizonte, os preços do quilo da carne de frango recuaram 10,1% entre os dias 5 de janeiro e 16 de fevereiro, passando de R$ 2,77 para R$ 2,49, em média, aponta pesquisa semanal da Secretaria Municipal de Abastecimento (Smab).
Segundo o gerente comercial da granja Rivelli, Marcelo Assunção de Oliveira, as exportações de carne de frango da empresa, da ordem de 1,5 mil toneladas/mês, praticamente deixaram de ser feitas nos últimos dois meses. “Está sendo preciso eliminar matrizes e quebrar ovos para evitar o nascimento dos pintinhos. Isso devido à queda da demanda”, observa, acrescentando que ainda está sendo possível administrar os estoques.
“Infelizmente há muita falta de informação sobre essa doença, pois a gripe não tem correlação com a saúde humana. O fato é que, se a situação persistir, teremos demissões. O momento está mais propício é para o consumidor, que deve aproveitar os preços baixos e encher o freezer”, comenta o gerente da Rivelli, que emprega 1,1 mil funcionários. Conforme ele, além da retração do consumo de carne de frango no mundo, a desvalorização do dólar tem influenciado negativamente as vendas externas.
Outro importante exportador de carne de frango do Estado, a Pif Paf, que exporta mil toneladas/mês e emprega 4.900 pessoas, prevê retração das exportações entre 15% e 20% em fevereiro. Por enquanto, diz o diretor comercial da empresa, Edvaldo José Campos, os efeitos ainda não foram sentidos. “Estamos cumprindo contratos antigos”, esclarece. Na avaliação do executivo, o problema sanitário, que neste primeiro momento prejudica o volume embarcado, pode, futuramente, contribuir para o aumento das vendas externas. “O consumo per capita, agora, caiu. Acontece que o Brasil não foi afetado pela doença e pode, com isso, ganhar mercado mais tarde. Os importadores estão restringindo os mercados fornecedores e isso pode ser favorável ao Brasil”, observa. Para ele, os preços ao consumidor devem subir em três meses.
De acordo com a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), o faturamento com as exportações de carne de frango em 2005 foram de US$ 98 milhões, ante US$ 94 milhões apurados com a carne bovina. Em volume exportado, as vendas mineiras de frango atingiram 93,6 mil toneladas, contra 41,3 mil toneladas de carne de boi. O faturamento do segmento avícola no ano passado representou 15% do total apurado pelo setor de carnes, que foi de R$ 8,7 bilhões em Minas.
Receita de vendas externas tem retração de 22%
SÃO PAULO e GENEBRA – As exportações de carne de frango em janeiro somaram 213.720 toneladas, volume 13% menor que o embarcado em dezembro (241,5 mil toneladas). A receita cambial das vendas externas no período, de US$ 280,8 milhões, também caíram 22% em relação ao mês anterior.
De acordo com o presidente da Associação Brasileira dos Exportadores de Frango (Abef), Ricardo Gonçalves, a queda tanto do volume exportado quanto da receita cambial em relação a dezembro de 2005 já é efeito da redução do consumo internacional da carne de frango por causa do aparecimento de casos de gripe aviária na Ásia, África e Europa. “Temos notícias de que em alguns países houve redução de até 15% no consumo, entre o final do ano passado e janeiro”, disse Gonçalves.
Em relação a janeiro de 2005, as vendas externas de carne de frango cresceram 14% sobre as 187.916 toneladas, e a receita cambial aumentou 41,5% na comparação com o faturamento de US$ 198,4 milhões daquele período.
A Ásia continua como o principal mercado para a carne de frango brasileira. O Brasil vendeu para a região 69.781 toneladas de carne de frango, com crescimento de 39% em relação a janeiro do ano passado. A receita apresentou incremento de 59% e atingiu US$ 93,156 milhões.
A Organização Mundial do Comércio (OMC) anunciou ontem que a União Européia (UE) tem até 27 de junho para ajustar suas normas sobre importação de peito de frango, questionadas por Brasil e Tailândia, dois grandes exportadores do produto. A UE foi condenada em setembro por seu regime de importação, as na época a OMC não chegou a dar um prazo para que os europeus adotassem as medidas corretivas.
Peitos de frango desossados, congelados, com quantidade de sal superior a 1,2%, estão sujeitos a uma tarifa alfandegária de 102,4 euros por 100 kg para entrar na UE. Quando eram classificados como “carne salgada”, pagavam somente 15,4%.
Governo confirma 6 focos de aftosa no Paraná
BRASÍLIA – Subiu para 40 o número de casos de febre aftosa diagnosticados no rebanho do país desde outubro do ano passado, quando um surto do vírus interrompeu um período de mais de um ano sem registro da doença em território nacional. Ontem, depois de quase quatro meses de indefinição, o Ministério da Agricultura informou que foram diagnosticados mais seis casos da doença no Paraná. Um primeiro caso de aftosa no Estado foi descoberto em outubro. Outros 33 foram diagnosticados no extremo sul do Mato Grosso do Sul.
Os novos casos do Paraná foram confirmados em propriedades rurais dos municípios paranaenses de Bela Vista do Paraíso, Grandes Rios, Maringá e Loanda. No entanto, nenhum deles ocorreu fora das áreas em que a doença já havia sido encontrada.
Protesto
A União Democrática Ruralista (UDR) distribuiu ontem 8,7 mil quilos de carne bovina de graça para a população durante ato de protesto, em Presidente Prudente, no Oeste de São Paulo, contra crise da pecuária. Mais de 7 mil pessoas, escolhidas por 63 instituições assistenciais da cidade, receberam senhas para ganhar saquinhos com 1,1 kg de vários tipos de carne de segunda.
A distribuição teve início por volta das 14h30 na praça Nove de Julho, no Centro Comercial da cidade, onde foi montado um palanque no qual lideranças rurais e deputados de vários estados discursaram condenando o Governo federal por não combater um suposto cartel formado pelos frigoríficos, que derruba o preço da arroba do boi pago ao produtor e encarece o preço da carne vendida ao consumidor. Cerca de 400 produtores rurais assistiram aos discursos.