Redação AI (21/02/06) – Com os primeiros sinais concretos de queda da demanda externa após a disseminação da gripe das aves na Turquia e em países da União Européia, os principais frigoríficos exportadores do país passaram a considerar a doença o maior fator de pressão sobre os negócios neste ano. Nos “Estados avícolas” mais importantes do país, tal pressão já começa a se traduzir em números. Negativos.
É o caso do Paraná, que na avicultura foi o principal Estado produtor em 2005. Por conta do cenário desfavorável, aprofundado pelo câmbio adverso às exportações, a indústria local engatou a ré e já começou a diminuir em até 15% alojamentos de pintos de corte e abate de aves. A decisão deve afetar o segmento em geral, mas especialmente as cooperativas que viram na atividade uma forma de diversificar a atuação para reduzir riscos, como estiagem e cotação dos grãos.
Como a atual safra de grãos (2005/06) também não é promissora, tais cooperativas terão de encarar queda na receita nas duas frentes em 2006. “A avicultura estava satisfeita e feliz, mas agora não vive um bom momento”, lamenta Alfredo Lang, presidente da C.Vale, que em abril de 2005 inaugurou em Palotina (oeste do Paraná), a segunda etapa de seu complexo avícola, que absorveu aporte de R$ 240 milhões.
O objetivo da C.Vale era atingir a atual capacidade de abate instalada, de 300 mil frangos por dia, até o fim do ano. Em vez disso, há um mês reduziu o abate diário de 210 mil para 185 mil aves. Com isso, quando esperava contratar, demitiu 260 pessoas.
Em 2005, 54% da produção avícola da C.Vale foi exportada e a atividade representou 20% de um faturamento total que atingiu R$ 1,13 bilhão. “O mercado está muito retraído e novos ajustes podem ser necessários”, diz o executivo. Segundo ele, para a C.Vale não é possível negociar o frango inteiro a R$ 1 o quilo, preço que está sendo aceito por alguns fornecedores.
Outra cooperativa paranaense que pisou no freio foi a Coopavel, de Cascavel, que abatia 140 mil frangos por dia – 50% deles para exportação. Pelos planos iniciais, deveria estar sendo estudada atualmente a ampliação do frigorífico de aves, mas a análise do projeto foi adiada para 2007. Agora o presidente da cooperativa, Dilvo Grolli, está adaptando a estrutura para um tombo da produção.
“Reduzimos 10% em janeiro e serão mais 10% em fevereiro”, revela. “O mercado nacional não tem como absorver tudo o que se está deixando de exportar”. A Coopavel faturou R$ 680 milhões em 2005 e, segundo Grolli, 25% disso foi gerado pela avicultura, implantada em 1995. De acordo com ele, entretanto, “não é um momento de desespero, mas de tomar providências”.
A Copacol, de Cafelândia, que ocupa o topo do ranking das cooperativas, com abate de 300 mil frangos por dia, informou por meio de sua assessoria de imprensa que reduziu os alojamentos e pretende ofertar ao mercado 15% menos em dois meses. Pioneira na busca dessa alternativa de renda para os associados, a Copacol entrou na avicultura há 24 anos. Hoje a atividade representa cerca de 55% de seu faturamento, que foi de R$ 634 milhões em 2005. Ela destinava 30% da carne para exportação, fatia que deverá cair para 20%.
Outras duas cooperativas paranaenses com operações no segmento são a Lar, de Medianeira, e a Copagril, de Marechal Cândido Rondon. A Lar abate aproximadamente 190 mil frangos por dia e pretendia passar para 240 mil, mas o plano foi abortado. Já a Copagril entrou no ramo no ano passado, está abatendo 85 mil aves diariamente e tinha planos para chegar a 160 mil até dezembro próximo.
Robson Mafioletti, assessor técnico e econômico da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), contou que esses grupos ainda encaram a situação com normalidade, como algo sazonal. Segundo ele, as cooperativas representam 30% da produção estadual de frango. Em 2005, as exportações paranaenses totalizaram US$ 953 milhões, quase 40% mais que em 2004. No mercado, estima-se que o faturamento total do setor no Estado tenha superado a marca de R$ 3 bilhões no ano passado.
Dados do Sindicato da Indústria Avícola do Paraná (Sindiavipar) mostram que, em 2005, foram abatidas no Estado 1 bilhão de cabeças de aves, ou 22% da produção nacional. Do total produzido, 41% foi exportado. “A avicultura é ágil nos acontecimentos”, diz o presidente do sindicato, Domingos Martins. Ele prevê que a queda em 2006 pode chegar a 20% tanto em faturamento como em volume.
“Questões sazonais e sanitárias, somadas à greve dos fiscais agropecuários do fim do ano passado, acabaram desestabilizando a demanda e os embarques internacionais. Por isso é necessário ajustar a produção”. Martins lembra que a redução está acontecendo em todo o Brasil e que o alojamento de pintos, que em janeiro foi de 414 milhões, deverá recuar para 360 milhões por mês.
Ele evita comentar se outros Estados também estariam reduzindo a produção, ação que costuma enfrentar forte resistência dos produtores mas cada vez mais aconselhada por especialistas. A própria Associação Brasileiras dos Produtores de Pintos de Corte (Apinco) admite que em 2006 não haverá redução da produção em relação a 2005, mas sim um avanço menor que o previsto.
Alfredo Kaefer, presidente da Associação dos Abatedouros e Indústria Avícola do Paraná (Avipar), defende uma redução desde o ano passado, quando diversos produtores iniciaram projetos de ampliação. “Nesse momento de prejuízo, todos devem reavaliar investimentos”, disse ele, que não descarta a necessidade de uma redução maior.