Redação (28/01/2008)- O dólar e os juros em queda, aliados aos altos índices de consumo dos países asiáticos, devem garantir preços agrícolas em patamares elevados, mesmo diante do prenúncio de uma recessão nos Estados Unidos (EUA). Essa é a opinião dos analistas ouvidos pelo DCI na última semana. A maior preocupação do setor diz respeito à elevada posição ocupada pelos fundos de investimento nos contratos agrícolas.
O analista dos mercados de milho, soja e algodão da Agência Rural, Fernando Muraro Jr., não vê uma tendência de queda de preço expressiva para as commodities e acredita que a demanda pelos produtos agrícolas devem continuar alta. "Os mercados tendem a exacerbar quando têm esses problemas financeiros, mas hoje os fundamentos do mercado agrícola são sólidos e os índices de consumo chineses e americanos estão muito bons", avalia.
Para Muraro o alto volume de contratos agrícolas nas mãos de fundos de investimento é mais preocupante que uma possível retração na demanda. "Hoje eles têm uma posição de 320 mil contratos no milho e 130 mil na soja", diz. "Se os outros setores começarem a balançar eles podem voltar a tirar dinheiro das commodities. Esses mesmos fundos que estão na soja estão no subprime", garante o analista
Na avaliação do coordenador científico do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), Geraldo Sant"Ana de Camargo Barros, apesar da Bolsa de Chicago estar passando por oscilações bruscas com reflexos nos preços das exportações brasileiras para o mercado está claro que são choques temporários, razão pela qual estão adiando o fechamento de novos negócios.
"A recessão terá efeitos mais severos apenas se a crise for tratada com displicência ou com ineficiência. Havendo ação pronta como está acontecendo nos EUA a crise começará a ceder em um ano. A demanda por produtos agrícolas brasileiros será pouco afetada pela crise. Dólar e juros em queda favorecem as cotações de commodities". Para Barros uma série de fatores indicam que as commodities deverão ficar num patamar elevado. O principal é a manutenção de um alto consumo de alimentos entre os países emergentes, seguido pela agroenergia, que deve pressionar a produção de alimentos.
Barros aposta na tendência de que com a queda do dólar a renda dos países importadores será potencializada ajustando a cotação das commodities. "A demanda da Índia, China e de outros tantos, deverá manter-se firme, com efeito apenas moderado da crise. Além disso, o dólar desvalorizado vai aumentar o poder de comprar dos consumidores de produtos agropecuários", destaca.
Em 2007, as exportações agropecuárias para os EUA obtiveram uma receita da ordem de US$ 6,4 bilhões enquanto a Ásia, segundo maior bloco importador atrás apenas da União Européia, respondeu por US$ 11,2, só a China importou o equivalente a US$ 4,6 bilhões. Para o mercado interno Barros tem expectativas mais moderadas. "No Brasil, especialmente o consumo em alta das classes C, D e E deverá sofrer um pouco, mas a demanda permanecerá aquecida", diz.
O setor de agroenergia também foi apontado como foco de atenção pelos analistas. "A sustentação que o mercado de commodities tem hoje é fruto da questão bioenergética. O que mantém preços elevados é o alto preço do petróleo", ressalta o analista da Safras & Mercado, Miguel Biegai.
Café:
A cafeicultura é um dos setores que observam com maior preocupação o possível desdobramento de uma crise norte-americana. No ano passado o país foi responsável por gerar para o Brasil com as importações de café verde e solúvel uma receita de US$ 589,8 milhões e US$ 55,7, respectivamente.
Sérgio Carvalhaes, sócio do Escritório Carvalhaes, é um dos que acreditam que a crise norte-americana acaba atingindo as bolsas de commodities. "Os fundos acabam migrando de um mercado para outro com rapidez", diz.
O fato dos EUA ser o maior consumidor mundial é um agravante. "O consumo de outros países não seria o suficiente para gerar equilíbrio entre oferta e demanda", ressaltou.
Em boletim divulgado na última sexta-feira a empresa afirma que a crise na economia dos EUA levou o mercado a mais uma semana de incertezas e volatilidade. "O mercado de café oscilou bastante, mas no Brasil a flutuação do dólar frente ao real e a apertada situação dos estoques de café, acabaram ancorando os preços, evitando que eles oscilassem tanto como as bolsas de futuro", diz o documento.
Na última reunião da Organização Internacional do Café (OIC) o diretor executivo da entidade, Néstor Osorio, destacou o impacto da desvalorização do dólar. Os produtores brasileiros foram os mais prejudicados, o dólar saiu de R$ 3,08, em 2003, para R$ 1,90, em 2007, com perdas superiores a 38%.
Na contramão das perdas, produtores e concorrentes de Honduras, Vietnã, Indonésia e México registraram valorizações na conversão cambial.