Redação AI (14/02/06) – Segundo a OD Consultoria, Planejamento e Estratégia de Mercados Ltda, hoje os países considerados a “espinha dorsal” da demanda têm estoques para até mais de três meses de consumo, quando o normal são estoques equivalentes a 30 dias.
O levantamento, baseado em informações de mercado nessas regiões, mostra que a Rússia tem estoques para 90 dias e o Oriente Médio, para 60 dias. No Japão, os estoques equivalem a 100 dias de consumo. No total, são cerca de 300 mil toneladas de carne de frango a mais que estão nos estoques desses importadores.
Esse quadro está relacionado ao crescimento da demanda abaixo do esperado, efeito do pânico gerado pelo avanço da gripe aviária, afirma Osler Desouzart, proprietário da OD Consultoria.
A expectativa em setembro do ano passado era de um aumento de 3% na demanda mundial por carne de frango este ano, alcançando 83,9 milhões de toneladas, conforme cálculos baseados nos números da FAO, a agência para agricultura e alimentação das Nações Unidas (ONU).
Mas os estoques atuais indicam que o consumo deve crescer 2,5% sobre 2005, quando foi de 81,4 milhões de toneladas. “Como a demanda mundial estava estimada em 83,9 milhões de toneladas e cada ponto percentual significa 840 mil toneladas, o mercado deixou de crescer 420 mil toneladas em números anualizados”, explica Desouzart. Ele afirma que a situação pode se agravar caso a queda no consumo não seja estancada.
Ontem, a italiana Federação de Agricultores Coldiretti disse à Reuters que as vendas de frango caíram mais de 50% no fim de semana na Itália após a notícia de que o vírus H5N1 da gripe aviária foi descoberto em cisnes no Sul do país, nas regiões de Puglia, Calábria e Sicília. Segundo especialistas disseram à Dow Jones Newswires, os cisnes saíram dos Bálcãs, provavelmente empurrados para o sul pelo clima frio.
Desde que a gripe das aves apareceu na Turquia, em outubro passado, o consumo vem recuando na Europa. Chegou a cair 20% e começou a se recuperar no fim de janeiro, segundo o consultor. A notícia da influenza na Itália, no entanto, deve segurar a recuperação.
Segundo a Reuters, as vendas de carne de frango caíram 10% na Itália em 2005 devido aos temores de contaminação com a gripe aviária, o que fez o governo lançar uma campanha publicitária garantindo que os frangos italianos eram seguros para o consumo. Uma outra associação de produtores italiana, a CIA, estimou que o medo da gripe pode custar mais de ? 1 bilhão à indústria de frango do país.
Se preocupa a Itália, a chegada da influenza à Europa também é uma dor de cabeça para os exportadores brasileiros de frango. As associações que reúnem produtores já defendem um freio na produção de frango, que cresceu 11% ano passado, para 9,34 milhões de toneladas. As exportações corresponderam a 30% desse volume.
Para este ano, a previsão é de aumento de 6% na produção. José Carlos Godoy, secretário-executivo da Apinco – Associação Nacional dos Produtores de Pintos de Corte, afirma que “todo mundo está reduzindo um pouquinho”. Ocorre que essa redução se dá sobre o que se esperava crescer e não sobre o resultado de 2005, afirma. Para ele, se o setor não parar de crescer, haverá uma crise. Júlio Cardoso, da Assertive Consultoria acha que ela já chegou. “Vivemos uma crise de superoferta num mercado com consumo em queda”, diz.
Mas o Brasil não sofre os efeitos da gripe aviária apenas no mercado europeu. No Oriente Médio, o consumo também recuou e no Japão, importadores aproveitam para derrubar preços. Segundo Carlos SantAnna, da área de carnes da Comexport, a tonelada do peito de frango para exportação à Europa saiu de US$ 2.100 CIF no fim do ano para US$ 1.800 hoje. A perna de frango sem osso para o Japão, que custava US$ 2.300/tonelada em outubro caiu para US$ 1.600. “Infelizmente, a tendência não é de retomada [de preços]”, afirma.