Redação (23/06/2008)- Chegamos na metade de 2008 e, acreditamos que é hora de refletirmos sobre o que nos aguarda os últimos meses do ano, bem como, compartilhar as expectativas futuras do mercado.
Atualmente no Brasil o mercado da estrutiocultura industrial está em pleno e franco desenvolvimento. É bem verdade que as vendas de matrizes e reprodutores cairam vertiginosamente e os preços das mesmas são bem mais inferiores que os praticados no início da atividade, porém, pela lei de oferta e procura, isto é perfeitamente compreensível. Não obstante, nossa afirmação tem visão sistêmica, sendo alicerçada na cadeia produtiva, uma vez que a colocação dos produtos do avestruz no mercado brasileiro, vem crescendo fortemente ano a ano. Os números são taxativos neste aspecto. Em pouco mais de quatro anos, os abates anuais que não ultrapassavam a soma de 2.000 aves, atingiram em 2007 o patamar de 30.000 aves.
Estimativas da ACAB, embasadas em fontes confiáveis do mercado (associações, cooperativas e empresas do setor), mostram para este ano de 2008, que pela primeira vez, nosso plantel apresentará uma queda de seu rebanho em pelo menos 25 %, passando de 450.000 para aproximadamente 335.000 exemplares. O motivo está aliado ao aumento significativo de abates dos últimos anos, mas principalmente, ao fato da saída sistemática de muitos investidores e produtores do setor, associado à atitude reservada que muitos criadores assumiram, de reduzir drasticamente a incubação da sua produção de ovos, aguardando por um melhor momento do mercado.
A consequência desta conjuntura de fatores nos permite vislumbrar uma futura falta de produtos do avestruz no mercado brasileiro. Nota-se de imediato que já há grande escassez de peles salgadas, o que frustra os compradores internacionais que há um certo tempo, vinham frequentemente visitando o Brasil e levando toda a produção dos criadores.
A indústria do carnaval, conforme já noticiado em mídia jornalística, este ano sofreu escassez de plumas de avestruz, principalmente devido ao fato do grande produtor mundial, a África do Sul, ter sua produção embargada pelo governo brasileiro, medida esta de rigor sanitário, para evitar que zoonoses avícolas que normalmente atingem aquele país, sejam trazidas para o Brasil, buscando assim, resguardar a maior avicultura industrial do planeta.
No caso da carne de avestruz, continuamos presenciando uma autofágica disputa comercial entre os agentes do mercado, que se precipitam em realizar preços insanos do ponto de vista da cadeia produtiva, na ânsia de escoar o seu produto e se fixar no mesmo.
Este comportamento é perfeitamente explicado, mais uma vez, com as estatísticas do segmento. Há três anos, a produção industrial passou de 50 ton para 900 ton, um aumento considerável de 1800%, o que seria uma conquista fabulosa para o setor, caso este crescimento de produção tivesse simetria na outra ponta da cadeia, ou seja, no aumento proporcional do consumo da carne pela população brasileira.
Infelizmente isto não ocorreu, pois, a carne de avestruz continua uma franca desconhecida da grandíssima maioria do público, uma vez que cronicamente, em todos estes anos de colocação da carne de avestruz no mercado, o setor falhou em não se organizar e produzir uma campanha nacional de popularização da carne de avestruz.
Não obstante, esta selvageria comercial estabelecida no desbravamento do mercado da carne de avestruz serviu para um grande aprendizado empírico, que muitos já sinalizavam sabiamente: diminuir o preço de um produto não significa aumentar o seu consumo ! Não quando o consumidor desconhece as funcionalidades e características específicas do produto ofertado.
Desta forma, mais do que nunca é hora de redimensionarmos nossas próximas ações, mas com uma certeza inexorável em nossas cabeças, ou investimos de forma mais profissional e articulada na divulgação e promoção da carne de avestruz, ou a falta de sua liquidez poderá travar perigosamente toda a cadeia produtiva do avestruz.
Neste aspecto, a exportação surge providencialmente como uma válvula de escape para o estrutiocultor brasileiro, pois, no mercado europeu (principal mercado mundial de consumo deste produto), há forte demanda e a oferta está bem aquém de satisfazê-la.
A ACAB em comunhão com todo o setor, já traçou os caminhos para conquistar a entrada da carne de avestruz brasileira no mercado europeu, que passa pela mesma estar sendo controlada pelo Plano Nacional de Controle de Resíduos e Contaminantes – PNCRC, uma exigência sanitária do bloco europeu.
As ações institucionais que o Grupo de Exportação da ACAB – GEA, vem realizando junto ao Ministério da Agricultura e laboratórios de análise de resíduos, mostram que muito possivelmente nossa carne de avestruz deverá estar atravessando o atlântico, rumo ao velho continente, entre o final de 2008 e início de 2009, respeitando os prazos das análises e de toda a inércia burocrática documental entre o governo brasileiro e a comunidade européia, mas é importante dizer neste momento para todo o setor, que as ações e trâmites causais já foram vencidos e, que a exportação da carne de avestruz será em breve uma mera consequência dos mesmos.
Este cenário anuncia pela frente um grande revés na atividade deste agronegócio, que a curto prazo verá a necessidade de reativar a sua produção, provisionando investimentos renovados nos criatórios, que devem buscar novas tecnologias e manejos que possibilitem uma maior competitividade, ou seja, menores custos com maior produção; paralelamente a um providencial aumento de recursos financeiros em ações de marketing, visando a manutenção do mercado conquistado, assim como, suprir ano a ano, uma previsível taxa de crescimento na procura pelos derivados do avestruz, uma vez que a inércia de consumo de um produto novo, só se altera envidando esforços na divulgação e promoção do mesmo (dada a sua falta de cultura), o que não temos a menor dúvida que ocorrerá, em virtude da perseverança e perspicácia dos empreendedores do setor, ancorada na espetacular qualidade dos produtos pecuários do avestruz.