Redação (20/05/2008)- Em cinco anos, as exigências em relação a rastreabilidade e saúde animal deixarão de ser uma opção para se tornarem condição na exportação de carne para os principais mercados consumidores. A União Européia e países como Japão e Reino Unido, que já possuem critérios rígidos em relação à importação de carne bovina, suína e de aves, estão se tornando ainda mais rigorosos em itens como procedência da carne e o bem-estar animal.
“Para exportar para 70% do mercado, hoje, já é obrigatório que essas questões sejam observadas. Nos próximos cinco anos, serão exigências formais, que podem efetivamente fechar o acesso aos chamados mercados de alto valor”, explica o especialista em saúde animal Ralph Ashmead, da consultoria canadense Serecon Management.
A conclusão faz parte do estudo “Comparação dos sistemas de saúde animal e segurança dos alimentos nos EUA, Canadá, Austrália, União Européia e Reino Unido”, elaborado pelo especialista a pedido do Departamento do Agronegócio da Fiesp e do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone).
A pesquisa mapeia os principais mercados produtores e consumidores de carne bovina, suína e de aves e analisa os sistemas de saúde animal em uso nesses países.
“O impacto de doenças como a vaca louca e a febre aftosa tornaram mercados importantes, como o do Reino Unido, muito mais protecionistas. E o mundo todo caminha no sentido de exigir mais e mais itens de controle e rastreabilidade”, explica Ashmead. Segundo ele, medidas como um sistema de rastreamento da carne mais eficiente, que leve em consideração as características regionais da criação de gado no País serão imprescindíveis se o Brasil quiser se manter entre os maiores exportadores mundiais de carne.
O sistema de rastreabilidade da Austrália, que tem três diferentes níveis de complexidade, poderia ser uma inspiração para os países do Mercosul. “Não basta ter a tecnologia mais avançada de rastreamento. Ela tem de funcionar e levar em conta itens como transporte do gado em longas distâncias”, diz.
De acordo com Ashmead, as exigências para importação de carne não partem só da legislação, como é o caso da UE. A tendência parte também de grandes compradores, como redes de restaurantes, que exigem o cumprimento de itens referentes ao bem-estar animal. Isso inclui restrições ao uso de hormônios e antibióticos, cuidados no transporte e abate e até mesmo em relação ao que os animais comem. “Cadeias como McDonald’s, Burger King e Wendy’s, pressionadas por consumidores, estão aumentando seu nível de exigência”, diz.
MUDANÇA
O rebanho mundial de gado é estimado pelo estudo em 1,3 bilhão de cabeças, sendo que 275 milhões são abatidas para fins de produção de carne, anualmente. Dez países, entre eles Brasil, EUA, Austrália e China, respondem por 68% da produção mundial.
Em termos de consumo, no entanto, o cenário está mudando. Em tradicionais mercados como EUA e Canadá, o consumo de carne está estável. Mas a Ásia, especialmente Japão, China, Coréia do Sul e Vietnã, desponta como grande tendência. “Esses países podem ser uma estratégia de longo prazo para o produto brasileiro”, avalia André Nassar, diretor do Icone. “Conquistar 5% do mercado japonês já seria algo imenso para o Brasil”, diz Ashmead.
As recomendações do estudo foram apresentadas ontem para a indústria de carnes e rações, na sede da Fiesp, em São Paulo. A idéia é elaborar uma estratégia de longo prazo para o setor de carnes brasileiro, que poderá ser discutida com o Ministério da Agricultura.
RECOMENDAÇÕES AO EXPORTADOR
Referência: A rastreabilidade é um item indispensável, e os sistemas devem ser confiáveis. Estudo sugere que o Brasil busque inspiração em sistemas já implementados por países como Austrália e Canadá, respeitando aspectos específicos locais
Análise de custos: Para arcar com esses custos, o estudo sugere uma análise de custos por parte do governo e da iniciativa privada. O objetivo é definir os custos e benefícios da implantação de um sistema de saúde animal. Se isso não for feito, o processo pode demorar e a perda de credibilidade pode ser irreparável
Integração e padronização: Os países do Mercosul podem trabalhar no desenvolvimento de um sistema integrado de rastreabilidade nos próximos cinco a dez anos. O sistema poderia seguir normas padrões, de modo a facilitar acesso aos mercados exigentes