Redação (13/06/2008)- A inflação acelerada, sobretudo em commodities como petróleo, minerais e produtos agrícolas, corrói a rentabilidade das indústrias, que já começam a fazer repasses de preços para o varejo. De acordo com Josué Christiano Gomes da Silva, presidente da Coteminas, a alta nos preços de insumos utilizados pelo setor têxtil já não pode ser contrabalançada com aumento de produtividade. "Quando o preço do petróleo sobe, aumentam os custos com transporte, com embalagens, com aditivos químicos à base de polímeros. Tudo tem subido de preço", observa. Silva afirma que a Coteminas tem tentado negociar preços com seus fornecedores para evitar repasses mais fortes nos preços, mas que "reajustes pontuais" vêm sendo feitos.
Sônia Hess, presidente da confecção Dudalina, de Blumenau (SC), diz que a chegada do frio e a demanda aquecida no mercado doméstico contribuíram para facilitar a alta de preços para o varejo. Mas os custos crescentes das matérias-primas ainda preocupa. "A inflação dá sinais de que vai comprometer mais a atuação das indústrias", afirma. Segundo a executiva, o mercado consumidor aponta uma leve desaceleração neste mês, reflexo, segundo ela, da pressão inflacionária.
A Dudalina produz 2,6 milhões de peças por ano em cinco fábricas. Sônia diz que a falta de convergência entre a política industrial e a política macroeconômica impede um avanço mais expressivo do setor têxtil. "Hoje, 90% da farda produzida para as Forças Armadas é importada da China. É um volume de produção que poderia empregar 50 mil pessoas, mas a paridade cambial hoje torna a importação mais competitiva que a produção local", critica. A empresária participou, ontem, do Congresso da Indústria Paulista, organizado pela Federação das Indústrias no Estado de São Paulo (Fiesp).
No setor químico a situação mostra-se semelhante. A Henlau, de Garça (SP), reajustou os preços de cosméticos e artigos de limpeza entre 7% e 16%. Norberto Luiz Afonso, diretor-comercial da empresa, que produz cosméticos e itens de higiene e limpeza, diz que os reajustes compensaram em parte a alta nos custos de insumos, que são importados e aumentaram em torno de 60% em dólar desde dezembro. Um dos itens mais utilizados pelo setor, o ácido fosfórico, subiu 130% nos últimos 12 meses. "Por conta da expansão da agricultura no mundo, houve um desvio da oferta de ácido fosfórico para o setor de fertilizantes, o que tem dificultado muito às indústrias brasileiras obterem o produto, que é importado", observou Afonso. Segundo o executivo, os reajustes das indústrias do setor têm situado na faixa de 12% a 16%.
A Vitopel do Brasil, quinta maior empresa no mundo em produção de filmes flexíveis (utilizado, por exemplo, para a produção de embalagens), está aproveitando o cenário de demanda aquecida no país para repassar parte da alta nos custos de produção, afirma José Ricardo Roriz Coelho, presidente da empresa. Segundo o executivo, a alta do petróleo, principal matéria-prima para filmes flexíveis, é um dos principais fatores para a elevação nos custos produtivos. "A carga tributária, os encargos trabalhistas, os juros altos, tudo faz com que a produção do setor no Brasil tenha um custo 27% mais alto que nos países concorrentes. O que a política industrial traz de positivo para o setor, como investimentos a juros mais baixos, se perde com a política monetária", afirmou.
Na área de aviação, no entanto, o cenário de inflação e a alta nos preços de commodities siderúrgicas e do petróleo não traz preocupação à Embraer. "O cenário é de uma inflação de commodities, que afeta todo o mundo, mas é uma situação temporária. A economia brasileira está mais forte e essa readequação nos preços das commodities deve ser concluída sem grandes problemas", afirma Frederico Pinheiro Fleury Curado, presidente da Embraer. Segundo ele, no mercado externo, a retração de demanda mais crítica está nos Estados Unidos. "Lá três ou quatro linhas aéreas já reduziram a sua capacidade de operação. Nos demais países, a desaceleração da economia americana não trouxe impacto aos demais países, principalmente no que se refere ao setor de aviação comercial", afirma.
Luciano Coutinho, presidente do BNDES, reconheceu que a inflação é preocupante, sobretudo porque os índices de preços no atacado seguem sob pressão. Mas sugere aos empresários paciência e confiança em relação ao governo. "A intenção do Banco Central é manter a inflação sob controle, preservando o ciclo de investimentos que está em curso. Acredito que será possível conciliar as duas coisas."
Segundo ele, o BNDES é um termômetro do nível do confiança empresarial e já detecta uma tendência crescente dos investimentos, o que significa que a capacidade de oferta está em ascensão e vai ajudar a combater o processo inflacionário. "A inflação não vai escapar ao controle."