Redação (01/07/2008) – A inflação no campo está superior à da cidade. Segundo levantamento da Scot Consultoria, os reajustes aos pecuaristas estão superiores aos índices oficiais. Os produtores de gado de corte e de leite têm perdido renda para a inflação e, por outro lado, os acréscimos verificados ao consumidor também estão abaixo dos verificados nos custos. Na prática, o custo da atividade está superior ao aumento do custo de vida do brasileiro.
No acumulado de 12 meses, segundo o estudo, o maior aumento nos custos ocorreu na pecuária de corte: 45,67%. No mesmo período, a inflação somou 13,64% (IGP-DI) e o reajuste médio da carne ao consumidor ficou em 24%. Apesar disso, o produtor conseguiu ganhar mais que o acréscimo no custo: 47,34%. "Mas é importante ressaltar que durante muito tempo o pecuarista amargou preços baixos", ressalva Maurício de Palma Nogueira, analista da Scot Consultoria.
Para a pecuária leiteira, os reajustes também estão superiores aos índices oficiais. Em 12 meses, os custos da produção aumentaram 27,11%. Mas o produtor teve um acréscimo inferior: 14,26%. Por sua vez, para o consumidor, os preços caíram 18% – no caso do longa-vida – e subiram para os queijos (25%). No caso do longa-vida, é importante ressaltar que no ano passado chegaram a valores de R$ 2 o litro, por isso houve a redução.
"Há uma inflação de fertilizantes e de alimentos pesando sobre os custos de produção", diz Nogueira. Ele lembra que o preço dos fosfatados estão 250% acima da média dos últimos 15 anos. Pelos dados da consultoria, em 12 meses, os fertilizantes estão, em média, 89% mais caros e os alimentos concentrados, 52%. No período, o farelo de soja sofreu reajuste de 67% e o de milho, 53%. Já o sal mineral se valorizou 132%.
Quando os valores são comparados entre semestres, a inflação no campo também é maior que a da cidade. Segundo o estudo da Scot Consultoria, os custos da pecuária de corte no primeiro semestre de 2008 estão 49% superiores aos do mesmo período de 2007. Já os do leite são 32% maiores. Mais uma vez o reajuste no gado de corte é maior porque, segundo o analista, a suplementação mineral tem um peso maior nesta atividade. Nogueira explica que a pecuária leiteira e de corte sofre com a inflação no campo: o reajuste do preço de um grão acaba por elevar os valores pagos por todos os alimentos e, por outro lado, a demanda por adubo aumenta as cotações do fósforo e fosfatados.
Nogueira lembra que existe um limite para o repasse ao consumidor e que, se a perda para a inflação "real" (dos custos de produção) for grande, pode haver diminuição na tecnologia empregada e, conseqüentemente, na produção – tanto de carne quanto de leite. O analista acrescenta que a partir de agora começa o período de compra de fertilizantes, o que pode elevar ainda mais os valores deste produto. Como a tendência é de preços mais altos também para os grãos – sobretudo em virtude do chamado "mercado de clima" dos Estados Unidos – o analista acredita que os custos pecuários continuarão subindo.
No acumulado do ano, a inflação ao produtor de leite é de 3% e ao de carne, 29%. "A maior parte dos reajustes de preços nos custos da pecuária leiteira ocorreu no ano passado, quando o preço do produto também subiu", afirma Nogueira. No mesmo período, o preço do boi gordo teve reajuste de 23% e o do leite, 12%. Mas, nestes dois casos, houve diferença em relação ao repasse ao consumidor: 15% de alta no preço do leite e 7% na carne bovina. Analistas lembram que o repasse nunca é imediato.
Na avaliação do diretor da AgraFNP, José Vicente Ferraz, quem mais está perdendo margem é o invernista e o recriador, pois o preço do bezerro se valorizou mais que a arroba do boi gordo. "Não se sabe ainda quando é o limite, a retenção que pode estar ocorrendo agora não é suficiente para uma avaliação", conclui Ferraz. "Está tudo mais caro: insumos e reposição. E isso impacta em aumento de custo ao produtor", diz Paulo Molinari, analista da Safras & Mercado. Ele lembra que , se os custos subirem mais que os preços recebidos, o produtor certamente vai reduzir os investimentos e a população de gado nas fazenda. "E se a pecuária se tiver preços baixos não vender boi porque é melhor que ter prejuízo".