Fonte CEPEA

Carregando cotações...

Ver cotações

Insumos dificultarão plantio em países pobres

Para o representante de FAO, se houvesse interesse político, a produção mundial de grãos poderia crescer no curto espaço de tempo.

Redação (18/04/2008)- O diretor geral da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO, na sigla em inglês), Jacques Diouf, afirmou hoje que é comum a produção de grãos aumentar depois de um período de alta de preço nos mercados internacionais, como está acontecendo atualmente. Mas, segundo ele, a produção no ano que vem não deve crescer porque os produtores dos países pobres terão dificuldades para encontrar sementes, entre outros insumos agrícolas.

De acordo com Diouf, os preços do trigo subiram 72% nos últimos meses e as cotações dos fertilizantes aumentaram 59%. Ele ressaltou que em dezembro de 2007 a FAO deu início a uma campanha que previa a distribuição de sementes e de outros insumos para os países pobres. A meta era arrecadar US$ 17 milhões junto aos países desenvolvidos para iniciar a distribuição do produto antes de março deste ano, o que acabou não acontecendo por falta de participação dos países ricos. Diouf disse que a expectativa é que o programa entre em vigor entre os meses de setembro e outubro deste ano.

Para o representante de FAO, se houvesse interesse político, a produção mundial de grãos poderia crescer no curto espaço de tempo. No entanto, iniciativas precisam ser adotadas. Diouf citou a questão do acesso aos insumos modernos e o melhoramento das condições de logística para escoamento da safra. Segundo estudo da FAO, entre 40% e 60% da produção agrícola mundial é perdida por causa de falta de armazenagem adequada. Além disso, ele acrescentou que é preciso ter uma política adequada de preços para os produtos agrícolas, que mantenham os agricultores em suas propriedades.

Conforme Diouf, "em menos de cinco anos podemos elevar de forma significativa a produção mundial de grãos". Ele disse que em um país da África, sem especificar a nação, a adoção de políticas adequadas resultou em um incremento na produção de milho, que subiu de 1 milhão de toneladas para 3,4 milhões de toneladas.

Alimentos

Em relação à alta dos preços dos alimentos nos mercados internacionais, Diouf lembrou que há um aumento da demanda mundial e avaliou que os fundos de investimento, que estão sendo acusados de estimular alta de preço, estão aproveitando uma "oportunidade de mercado". Em termos de demanda, o representante da FAO salientou que o consumo por habitante de carne na China cresceu de 20 quilos (kg) em 1998 para 50 kg em 2007.

Ele defendeu, ainda, uma proposta apresentada pela FAO em 2006, a qual prevê a ampliação do Programa Fome Zero, desenvolvido pelo governo brasileiro, para os demais países da América Latina e Caribe.

Biocombustíveis

O representante da FAO evitou comentar a polêmica em torno dos biocombustíveis, que segundo críticos do programa brasileiro, seria responsável pela alta dos preços dos alimentos no mercado internacional. Nesta semana, ao participar do evento da conferência da FAO em Brasília, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que os biocombustíveis garantem transferência econômica e social para os países pobres. A declaração não foi comentada por Jacques Diouf.

Ele informou, porém, que o assunto biocombustíveis será tratado oportunamente em uma nova conferência da FAO, que será realizada entre os dias 3 e 5 de junho em Roma, na Itália. O foco do encontro, segundo ele, será "inseguridade alimentar", que avaliará medidas que possam fazer frente à alta de preços dos alimentos no mercado mundial. "Vamos estudar ações que garantam de maneira urgente que as populações pobres tenham acesso aos alimentos", afirmou ele, ao ressaltar que 10% da população mundial é subnutrida.

Sobre os biocombustíveis, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel, que também participou nesta sexta-feira(18-04) do encerramento do evento da FAO, informou que "não se pode perder essa oportunidade". "Precisamos pensar nos biocombustíveis, mas antes está a produção de alimentos", comentou. O ministro observou que os números do governo brasileiro mostram que a cana-de-açúcar não está invadindo as áreas cultivadas com grãos. Ele reafirmou que há espaço no País para produção de cana e de grãos.