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Mais carne suína na mesa

Comissão Nacional vai incrementar consumo do produto no País.

Redação (23/06/2008)- Reestruturar a comercialização da carne suína no Brasil, incrementar o consumo interno e obter financiamento para obras de proteção ambiental são alguns dos compromissos da recém-instalada Comissão Nacional de Suinocultura. O novo colegiado foi reativado no âmbito da Confederação Nacional da Agricultura por proposição da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (Faesc).

A Suinocultura brasileira é uma atividade econômica de grande relevância econômica, não tem tido o reconhecimento que merece", observa o vice-presidente da Faesc, Enori Barbieri, eleito vice-presidente da nova Comissão Nacional. O dirigente acredita que a suinocultura necessita, fundamentalmente, de organização para alcançar o reconhecimento dos demais elos da cadeia, do governo e dos consumidores, garantindo a valorização de sua atividade.

Lembra que a carne suína é a mais consumida no mundo, representando 41% do total. No Brasil, a suinocultura apresenta-se como atividade econômica de grande relevância para a economia nacional, gerando cerca de um milhão de empregos diretos e indiretos. O país é o quarto maior produtor exportador mundial. A seguir acompanhe complemento de entrevista feita com Barbieri pela assessoria de imprensa da Faesc.

Qual o propósito de reinstalar a comissão?

Enori Barbieri: A re-instalação da Comissão Nacional de Suinocultura da CNA foi defendida por mim e pelo presidente da Faesc, José Zeferino Pedrozo, porque representa uma instância de defesa dos interesses dos suinocultores brasileiros. A definição das ações da comissão em cada esfera de relacionamento e as suas respectivas prioridades determinará os rumos, a extensão e profundidade dos estudos e trabalhos da comissão.

O que falta para fortalecer a suinocultura nacional?

Barbieri: O incremento no consumo per capita de carne suína é um dos principais elementos para o fortalecimento da cadeia produtiva de suínos. Hoje esse consumo é ancorado principalmente em produtos industrializados, que perfazem 9 quilos de um total de 12 quilos consumidos per capita/ano no Brasil – muito baixo se considerarmos o consumo total de carnes, no país, em torno de 83 quilos/habitante/ano. Veja bem, a carne mais consumida no mundo é a terceira escolha dos brasileiros. Isto ocorre não por preferência, mas por ausência de produtos em formatos práticos e adequados, pelo preconceito ainda existente e pela falta de uma campanha de informação e divulgação adequada.

Como agirá a comissão para mudar esse panorama?

Barbieri: A Comissão de Suinocultura deve coordenar a reestruturação da comercialização da carne suína no Brasil, em parceria com as entidades ligadas ao setor, ABCS, ABIPECS, Sebrae, ABRAS, MAPA e MDIC, que em conjunto formalizaram o "Protocolo de Cooperação para o Incremento do Mercado Doméstico de Carnes Suínas", que desde setembro de 2006 desenvolve ações de marketing junto a redes de supermercados em várias partes do Brasil.

Como a globalização atingiu a suinocultura brasileira?

Barbieri: A suinocultura brasileira vem sofrendo, muito rapidamente, significativas mudanças estruturais. Mudanças nas características de seus produtos, na tecnologia de produção, no tamanho das operações e na sua distribuição geográfica, tudo isso num ambiente mutante de inserção mundial de produção e consumo. O sistema produtivo vem mudando de um quadro de produção predominantemente baseado em unidades familiares, de pequena escala, e unidades relativamente independentes, para uma realidade de grandes firmas que estão cada vez mais interligadas na cadeia de produção e distribuição. O setor está se tornando mais industrializado, mais especializado, mais integrado, mais intenso em aspectos gerenciais. E, a velocidade das mudanças vem aumentando.

Como se dá, na esfera nacional, a produção de suínos?

Barbieri – A atividade de produção de suínos se dá sob diferentes formas de arranjos produtivos. Tem havido crescimento substancial da produção integrada, cujo maior expoente é Santa Catarina. Ao mesmo tempo, existe uma grande variedade de modelos de contrato regulando as relações entre produtores e integradores. A Comissão, em cooperação com os demais setores da CNA, poderá trabalhar o sentido de promover a melhoria qualitativa dessas relações.

Os aspectos ambientais envolvendo a suinocultura ainda preocupam?

Barbieri: As indústrias e produtores estão investindo muito nessa área. Os maiores problemas se dão justamente nos projetos mais antigos, muitas vezes anteriores às legislações ambientais vigentes. Esses projetos em sua maioria são de pequenos e médios produtores rurais, que têm na atividade a fonte principal de renda, e que passaram a trabalhar à margem da lei em virtude de mudanças na legislação e da preocupação cada vez maior com o passivo ambiental gerado pelas atividades produtivas.

Como amparar o pequeno produtor?

Barbieri: Com a criação de uma linha de crédito específica para o tema e que atenda aos pequenos e médios suinocultores há muito tempo é solicitada pelas entidades de classe, visto que o problema ambiental tomou dimensões que ultrapassam a responsabilidade do produtor. A sociedade impõe ao sistema produtivo exigências não levadas em conta no momento que muitas dessas atividades se iniciaram. A busca por modelos menos agressivos ao meio ambiente, que atendam à busca da sociedade por passivos ambientais menores, nem sempre é acompanhada de esforço financeiro da mesma sociedade para a solução do problema. É fundamental que a sociedade compartilhe os custos de adequação das pequenas e médias unidades produtivas mais antigas oferecendo aos seus proprietários linhas de crédito subsidiadas e de longo prazo, a exemplo do que acontece nos países da Europa.

Por que o Brasil vem encontrando dificuldades no mercado mundial para vender sua carne suína?

Barbieri: O acirramento da competição nos mercados internacionais tem levado à crescente aplicação de barreiras não tarifárias, a maior parte delas de natureza sanitária. Os mercados atuais, sobretudo os dos países importadores, estabelecem padrões cada vez mais complexos de exigência quanto à segurança dos alimentos. Santa Catarina está sendo injustiçada, pois tem o melhor status sanitário do país e ainda não conseguiu entrar no mercado europeu e japonês.