Redação (07/03/2008)- O Marfrig, um dos maiores grupos do mercado de carnes do país, atravessou o caminho da Tyson Foods e confirmou a aquisição do frigorífico Pena Branca, que pertencia ao Grupo Predileto e estava quase nas mãos da multinacional americana. Ricardo Florence, diretor financeiro e de relações institucionais do Marfrig, informou ao Valor que o negócio foi acertado por US$ 53 milhões, montante que seria ratificado pelo conselho de administração ainda na noite de quinta-feira.
A compra representa a estréia do Marfrig no mercado de carne de frango, e Florence adiantou que os negócios nesta frente não vão parar por aí. Ao mesmo tempo em que fechava a aquisição do Pena Branca, o Marfrig assinava um protocolo para a realização de uma "due dilligence" (auditoria) visando à aquisição do frigorífico DaGranja, controlado pelo empresário argentino Alberto Storni. O valor desta transação, segundo Florence, ainda não foi definido.
Os anúncios do Marfrig mantêm os holofotes voltados aos grandes frigoríficos de carne bovina. Na terça-feria, o rival JBS/Friboi, maior empresa do ramo do mundo, voltou a surpreender o mercado ao anunciar três grandes aquisições no exterior, por US$ 1,7 bilhão. As estratégias, contudo, são diferentes. Enquanto o JBS procura manter o foco em carne bovina e seus produtos – ainda que já opere com suínos -, o Marfrig se reforça em proteínas animais em geral.
"A estréia em frango representa a continuidade de uma política de diversificação em proteínas animais", confirma Florence. Com o Pena Branca, maior companhia avícola do Estado de São Paulo, o Marfrig reforça sua estrutura com dois abatedouros com capacidade para 150 mil aves por dia cada, duas granjas de matrizes e três fábricas de ração.
Conforme dados fornecidos por Antenor de Barros Leal, presidente do Predileto, o Pena Branca representou cerca de 35% do faturamento do grupo em 2007, que no total alcançou R$ 800 milhões. Com a venda, o Predileto vai se concentrar na área de trigo (ver ao lado), como já tinha afirmado Leal no início de fevereiro passado, quando revelou que as negociações com a Tyson Foods estavam prestes a ser concluídas.
A decisão do Predileto de sair do ramo avícola foi tomada há oito anos. O grupo possuía frigoríficos em Belém (PA), São Luís (MA), Recife (PE) e no Rio Grande do Sul. Esses frigoríficos foram vendidos ao longo desses anos para empresários locais.
Por causa da concorrência com os americanos, as negociações entre Marfrig e Predileto duraram mais ou menos um mês. E a Tyson, maior empresa de carne do mundo, com faturamento anual da ordem de US$ 25 bilhões, mais uma vez perdeu a chance de fechar uma aquisição de peso no mercado brasileiro. Nos últimos anos, a múlti tem aparecido com freqüência em listas de companhias interessadas em investir no país. Sondou e analisou diversas empresas, entre as quais a Seara, que depois passou ao controle da Cargill.
Até o fim do último mês de janeiro, o Predileto tinha acordo de exclusividade de venda com a Tyson, com quem negociou por nove meses. Conforme Leal, com a múlti "as negociações eram muito burocráticas". "No caso do Marfrig, foi mais fácil porque os executivos do grupo estão no Brasil".
Se de fato concretizar a aquisição do frigorífico DaGranja – outro que já interessou à Tyson -, o Marfrig incorporará uma capacidade adicional de abate da ordem de 400 mil aves por dia, distribuída por unidades localizadas nos Estados Paraná e Minas Gerais. A DaGranja também possui fábrica de produtos industrializados em São Paulo e no Paraná – onde também mantém uma granja de suínos, perto de onde o Marfrig já conta com um frigorífico arrendado.
Com os novos movimentos, definidos por Florence como uma mistura entre ousadia (pelas aquisições) e conservadorismo (pelo foco em proteína animal), o Marfrig passará a se concentrar em consolidar e integrar suas unidades de negócios, hoje distribuídos nas três carnes e em seis países (Brasil, Argentina, Uruguai, Chile, Estados Unidos e Reino Unido).
Ainda sem o frango, o Marfrig encerrou 2007 com receita líquida de R$ 3,340 bilhões em 2007, 56,8% mais que em 2006. O Ebitda do grupo foi de R$ 380,2 milhões, 53,5% maior, e o lucro líquido aumentou 32,1% na mesma comparação, para R$ 85 milhões.