Redação (17/06/2008)- As fortes chuvas que castigam importantes regiões produtoras de grãos do Meio-Oeste americano voltaram a impulsionar os preços do milho ontem nas principais bolsas internacionais e no Brasil.
Na bolsa de Chicago, referência global mais importante para as cotações das principais commodities agrícolas, o grão atingiu o maior patamar da história pela quarta sessão consecutiva.
Se na sexta-feira as adversidades climáticas nos EUA levaram a soja a também registrar sua máxima histórica em Chicago, ontem quem pegou o mesmo caminho foi o boi, justamente pelo persistentes aumento das matérias-primas que compõem suas rações.
Para soja e trigo, que têm perspectivas de oferta de curto e médio prazos um pouco mais favoráveis que as do milho, ontem foi dia de realizações de lucros e queda moderada em Chicago. A soja, porém, segue suscetível às condições meteorológicas dos EUA, e como o risco de danos sérios à produção do país nesta safra 2008/09, que está em desenvolvimento, traders vêem espaço para novos saltos.
Cálculos do Valor Data mostram que, ao fecharem ontem a US$ 7,4675 por bushel, os contratos de segunda posição de entrega do milho em Chicago (hoje os papéis para setembro) acumularam altas de 21,92% em junho, de 59,99% em 2008, de 75,29% nos últimos 12 meses e de 202,33% em dois anos.
São todas variações maiores que as de soja e trigo, que são igualmente expressivas. Nos últimos 24 meses, os contratos de segunda posição da soja apresentam valorização de 153,50%; os ganhos do trigo ainda chegam a 137,36%.
As três commodities (milho, soja e trigo) entraram em rota ascendente no fim de 2006, puxadas pelo aumento da demanda de alimentos de países emergentes. Logo depois passaram a ser influenciadas pelo "efeito biocombustíveis" e também pelo maior apetite de fundos de investimentos que até então pouco atuavam no mercado agrícola.
A conjunção impulsionou os preços para níveis muito superiores aos até então observados, e passou a exercer forte pressão sobre os principais indicadores inflacionários ao redor do globo.
No Brasil, em grande parte em conseqüência da alta dos alimentos, as estimativas do mercado para a inflação oficial medida pelo IPCA em 2008 já atingiu 5,8%, bem acima do núcleo da meta estabelecida para o ano (4,5%).
Como o Brasil é um dos maiores exportadores de produtos agropecuários do mundo, os preços domésticos têm acompanhado a ascensão internacional, ainda que com variações um pouco menores. Milho e soja subiram ontem na BM&F; o boi, recordista em Chicago, registrou altas e baixas, dependendo do contrato futuro.
Com o salto de 5% ontem, os futuros de segunda posição de entrega do milho passaram a acumular valorizações de 17,51% em junho, de 13,51% em 2008, de 51,31% nos últimos 12 meses e de 71,23% em dois anos.
No caso da soja, carro-chefe da produção e das exportações do agronegócio brasileiro, os ganhos em 24 meses já alcançam 146,67%. Nos índices inflacionários, o efeito dessa disparada aparece tanto nas carnes (por causa das rações, como no caso do milho) como no óleo de soja.
O trigo não é negociado na BM&F, mas apresenta alta de 62% no Paraná em 12 meses, conforme levantamento do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria da Agricultura do Estado.
Mas o boi é, e a arroba para entrega em julho (segunda posição) atingiu R$ 95,66 (US$ 55,68), apresenta alta de 85,24% em dois anos e e caminha para R$ 100, com o aumento de custos e a mudança do ciclo de produção no Brasil, onde a oferta continua restrita.
Nos EUA, o recorde de ontem em Chicago para os contratos de segunda posição foi de 103,45 centavos de dólar por libra-peso (US$ 34,21), com valorização de 23,97% nos últimos 24 meses.
A elevação chamou a atenção da FAO, o braço das Nações Unidas para agricultura e alimentação, que ontem externou sua preocupação com a tendência.