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Mudar o modelo de produção é a saída para as crises energética e alimentícia

A agricultura "petrodependente" é a culpada pelas três "grandes bestas" soltas hoje: as crises do petróleo, do meio ambiente e dos alimentos.

Redação (29/05/2008)- Esta é a opinião do frei Sérgio Antônio Grden, diretor nacional do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) e membro da Cooperativa Mista de Produção e Industrialização e Comercialização de Biocombustíveis do Brasil (Cooperbio).

Ao explicar a sua sentença, Grden enfatizou que o petróleo não está apenas no diesel dos tratores da agricultura, mas também nos pneus, no insumo, no caminhão usado no transporte e nos venenos (pesticidas e herbicidas, por exemplo). "Agora pensem essa agricultura com o barril do petróleo em 160 dólares. Este é o principal quesito encarecedor do alimento. O veneno, por exemplo, é tudo petroquímica com conseqüências ambientais gravíssimas", afirmou durante palestra nesta segunda-feira (26) no Sustentar 2008 – Fórum sobre energias renováveis e consumo sustentável, em Florianópolis.

Grden disse que é possível sim aliar alimentos, energia e consumo, mas, para isso, é preciso mudar o modelo de produção atual. "O modelo de produção a partir da cana do interior de São Paulo é limpo do cano de escape para fora e sujo para dentro, na mão de obra explorada, no uso de fertilizantes, etc.", comentou.

O frei trabalha com pequenas comunidades de agricultores na produção de óleo vegetal a partir de oleaginosas como a mandioca e acredita que este é o caminho para o combustível do futuro. "Não vejo outro sistema que não o agroflorestal com plantas perenes", confessou convicto.

"O Bautista [Vidal, idealizador do Pró-alcool] se orgulha da sua criação, mas chora quando vê as sucroalcooleiras hoje", disse Grden.

O presidente do Instituto Ideal, Mauro Passos, concordou. "Temos que repensar o modelo. A regra que foi estabelecida está se exaurindo", enfatizou. Passos acredita que o sol será a energia do futuro e destaca que, para isso, é preciso ter uma mudança de cultura. "Vai ser pelo bolso que vamos ter que mudar nossa consciência e o próprio saber precisa ser estimulado", comentou.

Uma opção de modelo descentralizado em pequenas comunidades já em prática no Brasil foi apresentada pelo presidente da Cooperbio Brasil, Werner Fuchs. A mini-usina comunitária de óleo vegetal é uma solução inovadora e com tecnologia simples para responder ao problema dos biocombustíveis versus alimentos. "É uma questão desfocada. Na verdade, podemos dizer que nossa civilização fóssil se comporta como troglodita diante da natureza e, especialmente, da biomassa", afirmou Fuchs.

Segundo ele, a questão que está em jogo é ´sustentabilidade para quem?´. "Cinco grupos econômicos produzem todo o biodiesel do país, enquanto que cerca de 27 milhões de litros de leite, consumidos pelos brasileiros, é produzido em milhões de comunidades de todo o território. A auto-sustentabilidade é para o pequeno produtor não para a grande empresa", disse.

A máquina desenvolvida no projeto de mini-usinas no Paraná, coordenado por Fuchs, funciona com quatro rodas, onde cada uma extrai um produto: óleo virgem comestível, óleo vegetal comestível, torta e produto orgânico. "As vantagens são que produzimos alimentos realmente de qualidade, os agricultores têm sustentabilidade, não causamos danos ambientais e, tudo isso, com uma tecnologia simples", explicou.

Além disso, o equipamento é multiuso e pode ser usado durante todo ano, alterando o tipo de safra, como soja, algodão, girassol, amendoim, mamona, canola, gergelim e pinhão manso. A prensa extrai o óleo a frio (temperatura de cerca de 35º C), o que traz benefícios para o produto final como baixa acidez (impede o processo de rancificação e deteriorização), conserva as vitaminas (impedindo danos no motor) e produz um óleo claro com pouca goma.

"Na extração a quente, usada para produzir biodiesel, o óleo fica escuro, há um alto teor de potássio e cálcio, que empastam o motor; e fósforo, que corrói. É pedir para acabar com o motor", afirmou Fuchs.

Coordenador do projeto, Fuchs disse que enquanto a produção de etanol da cana produz uma perda de 30% na eficiência e o biodiesel 36%, o óleo vegetal orgânico, consorciado e perene, promove uma perda de apenas 1 a 8%. Fuchs lembrou que um motor John Deere foi lançado neste mês na Alemanha para o uso de óleo vegetal, mas disse que a sua equipe já utiliza uma mistura de 20% sem adaptação no motor de um Toyota Hilux 2.5 Turbo com catalizador. "Também temos uma S10 que usa 100% óleo vegetal, em uma mistura de soja e canola e um pré-aquecimento como adaptação, que já rodou 20 mil quilômetros com o mesmo desempenho", explicou.