Redação (24/03/2008)- Os dirigentes da Associação Avícola de Pernambuco (Avipe) terão uma conversa esta semana com o governador Eduardo Campos. Antes de qualquer informação mais detalhada sobre o que foi mesmo oferecido no pacote de incentivos às empresas Sadia e Perdigão, os avicultores estão interessados em saber que ajuda o ex-ministro de Ciência e Tecnologia pode dar para que Pernambuco volte a ter um programa regular de importação de milho capaz de abastecer o parque avícola, que ano passado produziu 300 mil toneladas de carne.
Segundo o presidente da Avipe, Saulo Perazzo Valadares, o setor deseja importar 600 mil toneladas/ano de milho, substituindo as compras que faz no mercado interno pagando 12% de ICMS e 9,20% de PIS/Confins. O setor tem poucas esperanças que o governo troque parte do que é exportado por uma venda desonerada de tributos para a produção de aves, mas acredita que voltando a importar o governo de Pernambuco poderá abrir mão dos 3% de ICMS que cobraria a título de incentivo à produção local. O problema é que a linha sobre qual tipo de milho transgênico o setor poderia importar ainda é muito tênue.
Perazzo, que também lidera o Grupo Serrote Redondo, que além de integração de granjas possui um abatedouro com uma linha de 150 itens nas marcas Do Mato e Da Terra, uma usina de biodíesel e criação de gado bovino, diz que o setor tem expertise para dobrar sua produção, mas o gargalo do milho é quem trava essa perspectiva. E ele vem de muitos anos.
Exportação isenta milho tributado – O caso da exportação de 10,8 milhões de toneladas de milho orgânico brasileiro (especialmente para a Europa), em 2007, num crescimento de 308% sobre 2006, revela enorme contradição na economia brasileira. O milho exportado com dólar baixo e total isenção de imposto é também vendido no mercado interno com 21,2% de imposto para a indústria, que não pode importar por causa das restrições aos transgênicos. No Nordeste, o milho tem que vir de caminhão, cujo frete precisa ser equalizado pelo governo federal.
Tecnologia – O setor, segundo Perazzo, está mais interessado em saber qual será o pacote tecnológico que empresas com essas trarão para melhorar nossa produção, de forma a estimular o aumento dela. Embora até agora nenhum delas tenha procurado a entidade.
Pinto e ração – Um pacote tecnológico no setor avícola quer dizer o que uma empresa integradora oferece ao avicultor para que crie frango para seus abatedouros. Vai do pinto à ração. Do acompanhamento técnico e veterinário ao apoio que permita o máximo de carne. E isso inclui o preço da carne.
Carne disponível – Num cenário em que empresas como Sadia e Perdigão apenas comprassem a carne disponível, a Avipe estima que perto de 120 mil toneladas de carne poderiam adquirir o carimbo do SIF. Mas isso depende do preço que estejam dispostas a pagar para uma carne de qualidade industrial.
Produção não atende mercado – Terão que conquistar corações, mentes e… o bolso. Na verdade, o problema do setor não é de mercado, mas de produção.Toda carne que os frigoríficos locais não compram têm venda assegurada no mercado regional.
Comprar aqui ou importar – No fundo, o que o setor quer saber é se as novas empresas vão oferecer melhores condições financeiras que os abatedouros locais. Até porque elas poderão trazer carne de outras regiões, sem comprar aqui.
Milho de longe – Para um setor que se acostumou a produzir carne e ovos comprando milho colhido a 4 mil km de distância, a chegada de megaindústrias é vista mais como chance de fortalecer a atividade na busca de preços menores de insumos do que uma ameaça.
Incentivo fiscal – Na verdade, tanto Sadia como Perdigão já possuem benefícios fiscais através de suas Centrais de Distribuição, que asseguram diferencial de preço final. E, se o setor local não tivesse sido capaz de responder, já teria sido dizimado. No fundo, não falta cliente, falta é produto.
O gargalo do milho na avicultura pernambucana
O setor deseja importar 600 mil toneladas/ano de milho, substituindo as compras que faz no mercado interno pagando 12% de ICMS e 9,20% de PIS/Confins.