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Para EUA e UE, crise pode ajudar Doha

Há possibilidade de maior corte de subsídios agrícolas, notando que a alta dos preços de alimentos reduz a necessidade de ajudar seus produtores.

Redação (25/01/2008)- Os Estados Unidos e a União Européia (UE) trouxeram para o Fórum Mundial de Economia uma clara mensagem: a Rodada Doha precisa ser concluída este ano, porque do contrário pode afundar de vez. E usam dois novos argumentos para tentar fechar um acordo: a turbulência financeira e a alta dos preços das commodities agrícolas. 

Susan Schwab, representante comercial americana, e Peter Mandelson, comissário europeu de comércio, deixaram claro que se a rodada global de liberalização comercial não for fechada em 2008, no que resta do mandato do presidente George W. Bush, será quase impossível retomá-la nas mesmas bases com o novo ocupante da Casa Branca. 

Mandelson acena com maior corte de subsídios agrícolas, notando que a alta dos preços de alimentos reduz a necessidade de ajudar seus produtores. 

Para Schwab, a turbulência que afeta a economia global é motivador adicional para os governos concluírem a Rodada Doha ainda este ano. Disse acreditar que a turbulência será "breve" e que um "bom acordo, particularmente para abrir os mercados e disciplinar subsídios", pavimentará o terreno para crescimento de longo prazo. 

"Os líderes vão tomar consciência de que a Rodada Doha ainda é mais importante agora do que antes, tanto pela simbologia como para aumentar o comércio e ir além da turbulência", disse a representante americana. 

Schwab e Mandelson multiplicaram os encontros ontem em Davos, as vésperas de uma reunião-almoço de 22 ministros para discutir como tentar dar um fôlego final na rodada, no meio de ceticismo generalizado. Com ameaça de recessão e campanha eleitoral nos Estados Unidos, muitos negociadores e executivos apontam mais crescentes pressões protecionistas do que possibilidade de entendimento. 

Mas Schwab reafirmou que "se não fizermos (a rodada) agora, é difícil conseguir fazer isso depois"”. Disse que Doha permanece no topo da agenda americana e que o presidente Bush está comprometido em fechar a negociação até o último minuto de seu mandato, no começo de janeiro de 2009. 

Ela conclamou os países industrializados a se mobilizarem por Doha. "A agricultura é um tema sensível, mas para a maioria dos países é uma parte muito pequena de nossas economias. Devemos nos perguntar por que a agricultura domina o debate. Talvez seja porque os políticos não estejam ouvindo bastante outros setores que vão ganhar com a liberalização"”, argumentou. 

Exemplificou que um dos maiores ganhos para os empresários será facilitação de comércio, tema do qual pouco se fala. Exemplificou que mercadoria retida um dia no porto pode representar custo ainda mais elevado que uma tarifa pesada. 

O principal executivo do grupo DuPont, Holliday Charles, e o presidente da ABB, Kindle Fred, reagiram com dois pontos: de um lado, as condições de negócios são boas e não há problemas. Mas de outro, temem mais protecionismo, a começar nos Estados Unidos, inclusive na demanda para empresários que viajarem ao país transmitirem seus dados 48 horas antes. 

A representante americana deu conta de "progressos em detalhes técnicos" em agricultura, indústria e serviços, que podem conduzir a um "avanço importante"” nos próximos meses. Mas disse que os países emergentes, entre eles Brasil, Índia e China, "”precisam reconhecer que tem de dar uma contribuição compatível com seu desenvolvimento, particularmente em acesso ao mercado". De outro lado, afirmou que os países industrializados precisam "tomar duras decisões", e que Washington está pronto a cortar os subsídios agrícolas mais que mais distorcem o comércio global.

Apesar disso, as dúvidas da representante americana sobre a disposição de países do G-10, o grupo mais protecionista, liderado pela Suíça, podem ter aumentado ontem. A ministra suíça da economia, Doris Leuthard, defendeu o protecionismo agrícola e chegou a pedir novos padrões sanitários, que endureceriam ainda mais o comércio de alimentos. Em vez de concessões, a ministra suíça pediu "por favor" um acordo de liberalização em serviços, o que facilitaria a expansão dos bancos suíços no mundo. 

Schwab reconheceu a dificuldade na agricultura e acusou a União Européia de bloquear a entrada dos principais produtos agrícolas de exportação americana, incluindo frango, porco, carne bovina, soja e milho, tudo por razões ditas técnicas.

Fumando um charuto na rua principal cheia de neve em Davos, o diretor-geral da da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy, disse que a decisão de convocar uma reunião ministerial é só dele, e não sabe quando ela poderá vir.