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Paraná veta o cultivo de soja por 90 dias

Entre 15 de junho e 15 de setembro fica proibido o cultivo do grão no estado. Produtor pode ter a lavoura interditada.

Redação (04/06/2008)- Os agricultores paranaenses que plantaram soja safrinha correm contra o tempo para colher suas lavouras até o dia 15 de junho, quando começa o vazio sanitário, período de três meses em que fica proibida a presença de soja no campo, sistema adotado pela primeira vez no estado. Até a semana passada, apenas 10% da área, estimada em 51,8 mil hectares, havia sido colhida. Das lavouras que ainda estavam no campo, perto de 75% estão prontas para a colheita e 15% ainda atravessam as fases de floração e frutificação. “Quem tiver soja no campo, em qualquer estágio de desenvolvimento, terá que fazer a dessecação e colher antes da data limite”, alerta Margorete Demarchi, agrônoma do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento (Seab).

Uma das alternativas seria a dessecação da lavoura, para antecipar o ciclo e, conseqüentemente, a colheita. O problema é que a dessecação na pré-colheita é indicada apenas depois que as plantas atingem o estágio de maturação. Aplicações de dessecantes realizadas antes da cultura atingir essa fase do desenvolvimento podem interferir no enchimento dos grãos e aumentar a possibilidade de defeitos como grãos esverdeados. Como 15% das lavouras ainda não amadureceram, quase 8 mil hectares correm o risco de não estar prontos para a colheita antes do início do vazio sanitário.

A situação é mais preocupante na região de Cascavel, no Oeste, onde metade das lavouras está na fase de frutificação e a outra metade sequer saiu do estágio de floração. O município, entretanto, responde por apenas 3% da área cultivada com soja safrinha no Paraná neste ano, com 1,7 mil hectares plantados. Já no Sudoeste paranaense, região que concentra mais da metade da produção de soja de entressafra do estado, o cenário é mais tranqüilo. Isso porque a maior parte das lavouras foi semeada dentro da janela ideal de plantio, em janeiro. Depois disso, o cultivo é considerado tardio e o desenvolvimento da planta e a produtividade deixam a desejar.

Nos últimos anos, a soja vinha ganhando espaço como opção de segunda safra no Paraná, estimulada pelos preços altos do grão. Mas, no primeiro ano de vazio sanitário no estado, a oleaginosa de entressafra ocupa extensão 38% menor que a de 2007. Conforme o Deral, o plantio de 51,8 mil hectares tem potencial para render 95,9 mil toneladas em 2008. No ano passado, foram colhidas 126,2 mil toneladas em 84 mil hectares. Além do vazio sanitário, pesaram para a redução de área os bons preços do milho, do feijão e do trigo, que são as principais culturas de inverno no estado.

De acordo com o agrônomo Carlos Alberto Salvador, chefe da Divisão de Defesa Sanitária Vegetal da Seab, o vazio sanitário é uma medida de consenso entre os setores produtivo e de pesquisa e, por isso, não deverá causar impacto econômico. “Pelo contrário, ele será benéfico porque vai reduzir a incidência da ferrugem asiática, que provoca tantos prejuízos”, afirmou.

Até porque a soja safrinha ocupa uma área considerada insignificante para a produção estadual. Apesar de ter triplicado desde o início da década no Paraná, a produção de soja na entressafra ainda é pequena perto da safra total de inverno. Por ser uma cultura de alto risco, a segunda safra do grão ocupa apenas 1,4% da área cultivada.

Na comparação com a safra de soja de verão, a representatividade da safrinha também é pequena. Neste ano, a extensão cultivada corresponde a 1,3% da área de verão, que, conforme levantamento da Expedição Caminhos do Campo/Gazeta do Povo chegou a 4 milhões de hectares no ciclo 2007/08. A produção esperada equivale a apenas 0,8% das 11,88 milhões de toneladas da primeira safra paranaense do grão na atual temporada.

Penalidades

Quem desrespeitar o vazio sanitário está sujeito a sanções previstas na Lei Estadual de Defesa Sanitária do Paraná. As penalidades são advertência, multa, proibição de comércio, interdição da propriedade agrícola, vedação do crédito rural ou percepção de quaisquer outros recursos, subvenções ou acesso aos programas oficiais do estado. As penas podem ser aplicadas cumulativamente. As multas podem chegar a R$ 5,4 mil.

A restrição é uma determinação da Seab, que, ao lado da Bahia, adota o sistema pela primeira vez. Outros sete estados fazem isso há mais tempo, com redução nos casos de ferrugem asiática.