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Perdigão vive o desafio de mudar gestão vencedora

Em 13 anos, o faturamento da companhia cresceu pelo menos 13 vezes.

Redação (23/01/2008)- Não deve ser pequeno o desafio do sucessor de Nildemar Secches na presidência da Perdigão. Depois de 13 anos, período em que o faturamento da companhia cresceu pelo menos 13 vezes e a empresa protagonizou um dos mais importantes negócios do setor de alimentos no país – a compra da Eleva – , Secches deixa o cargo em outubro próximo. Antes disso, irá indicar o nome de seu sucessor, que será submetido ao conselho de administração da empresa, presidido por Secches, em assembléia no dia 30 de abril.

O processo de sucessão, anunciado em abril do ano passado, foi antecedido por uma reestruturação do sistema de gestão da Perdigão, que era dividida em áreas e passou a ter quatro unidades de negócios: Perdigão, Lácteos, Bovinos e Exportação. Houve ainda a realização do chamado "job rotation" (mudança de cargos e funções), no qual executivos da empresa – cerca de 10 – passaram por diferentes áreas da companhia, numa preparação para, eventualmente, assumirem a presidência.

Em sua sala ampla na sede da empresa, Secches não menciona possíveis nomes nem o número de candidatos que "disputam" o cargo dentro da empresa e diz que uma opção externa não está excluída. Segundo apurou o Valor entre fontes do setor, já teriam sido definidos três nomes dentro da Perdigão, entre os quais um pode vir a se tornar o novo presidente. Secches explica que irá trabalhar junto com o futuro presidente até outubro que vem, a partir de quando ficará apenas na presidência do conselho de administração, cargo que acumula agora. Diante do bom desempenho recente da Perdigão, ele admite que uma solução doméstica seria lógica, "mas não necessariamente. (…) Temos que comparar com alternativas externas".

O certo é que o novo presidente deverá ser um "bom operador", nas palavras de Secches, capaz de manter o patamar alcançado pela Perdigão, que após a compra da Eleva superou a Sadia em faturamento e valor de mercado. "Quem acha que vai ter vida fácil, não topa um negócio desses. Se aceita é porque sabe que vai ser difícil", avisa. Ele admite que o executivo que vier a ocupar seu posto irá sofrer a cobrança de acionistas para que o avanço da empresa se mantenha. Mas brinca: "Em compensação, não vai pegar a bucha de canhão que peguei em 95". Naquele ano, Secches assumiu a Perdigão, cujo controle acionário havia sido vendido para fundos de pensão um ano antes, após um período de graves dificuldades financeiras. Na época, "a cobrança era dos bancos", relembra.

Se as dificuldades do novo presidente serão maiores – já que terá de manter o patamar atingido pela Perdigão – , ele também terá meios melhores para lidar com essas dificuldades, diz Secches. O novo presidente, acrescenta o executivo, vai ter mecanismos para dar continuidade ao crescimento da companhia. "Hoje a empresa está muito mais estruturada". À frente do conselho de administração, Secches continuará responsável por questões de estratégia e governança corporativa. Como sempre foi o homem por trás da estratégia da empresa, deve continuar mantendo grande influência nas decisões, diz um experiente executivo, que conhece de perto o setor e prefere o anonimato. "Ele é competente, tem personalidade muito forte e exerce grande influência sobre pessoas e nas decisões", observa.

Isso pode então indicar que pouca coisa vai mudar na Perdigão? Secches responde sem responder: "Vamos ter um bom operador, um cara muito bom de operação. A empresa já tem cultura de trabalhar com planejamento estratégico, e vai ter um conselho, que é um conselho de profissionais independentes, de excelente nível. Então, a empresa tem tudo para continuar a trajetória dela", resume. Para Secches, mais do que continuidade, "uma pessoa nova com mais disposição" pode significar até um melhor desempenho da empresa. "A renovação é importante", completa ele.

O discurso não surpreende, mas não há dúvida de que a atuação agressiva de Secches nos últimos anos e principalmente no episódio da compra da Eleva, mostra que experiência e senso de oportunidade são cruciais para avançar. O executivo, porém, faz questão de dizer que todos os passos recentes, mais ou menos agressivos, fazem parte de uma estratégia de longo prazo dos acionistas. E diz que o controle pulverizado da companhia traz vantagens, como liberdade maior para crescer. "Ela consegue crescer mais solta. Porque quando se tem condições favoráveis de mercado financeiro, você se alavanca, capta recursos no mercado financeiro sem as amarras do controle acionário, no qual você fica muito mais dependente da disponibilidade dos seus principais acionistas". E os planos dos acionistas da Perdigão – entre eles os fundos de pensão Previ , Petros, Fapes, Valia, Sistel, Real Grandeza, Previ-Banerj, PSPP – nunca foram modestos. "Nosso plano era nos tornarmos uma corporation, uma empresa multinacional, que tivesse capacidade de crescer, porque para entrar num mercado desses tem de ter escala e para isso não pode ter amarras (…)".

Desde o projeto de Rio Verde, em Goiás, em 1996, até a compra da Eleva, em outubro passado, nada foi feito de improviso na Perdigão, segundo Secches. Ele observa que o investimento maior em lácteos – a empresa tem o controle da Batávia – já foi definido em plano estratégico aprovado no começo de 2006. Na mesma ocasião também foi definida a internacionalização e o aporte em novos negócios, como bovinos e margarinas. Tudo, até agora, saiu dentro do planejado: a Perdigão adquiriu a européia Plusfood, comprou abatedouro de bovinos em Mirassol d”Oeste (MT) e fez joint venture com a Unilever em margarinas. Além disso, construirá unidade de lácteos em Bom Conselho (PE) e deve implantar outra unidade de abate de bovinos.

A existência de um plano bem definido de investimentos pela Perdigão foi, aliás, uma das razões do insucesso da oferta hostil da Sadia, em julho de 2006. "Havia um consenso entre todos [os acionistas] de seguir pelo caminho do crescimento orgânico e via aquisições", afirma Secches. Pode parecer impossível falar dos últimos passos da Perdigão sem lembrar da Sadia, que tenta recuperar a posição que perdeu e tem feito pequenas aquisições. Mas Secches avalia que é preciso fugir de comparações. Para ele, o fato de a Perdigão entrar em lácteos e a Sadia, não, diferencia as duas empresas. "Eram duas empresas muito parecidas, e a concorrência, às vezes, vai muito para o campo emocional e sai da racionalidade. A diferenciação vai ser benéfica para as duas", acredita.

Assim como planejou a Perdigão nos últimos anos, Secches planeja agora o próprio futuro. Ainda não fala muito, mas diz que não exercerá funções executivas e só falará depois de outubro. Para ele, 13 anos "é um tempo muito mais do que suficiente" à frente de uma empresa. E defende a transição planejada, sem solavancos. "É melhor pra todos, pra mim, que estou me preparando psicologicamente. Vou ter minha vida, eu sei que existe vida fora daqui."