Redação (18/06/2008)- Puxado pelos preços dos alimentos, custos dos fertilizantes e produção recorde, o Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio brasileiro subiu 2,81% no primeiro trimestre deste ano na comparação com igual período do ano passado. A taxa ficou bem acima dos 0,74% apurados no trimestre de 2007 – de acordo com dados da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Universidade de São Paulo (Cepea-USP), divulgados ontem.
Porém, o cenário positivo do campo não representa aumento de renda no bolso do produtor rural diante dos elevados custos de produção, avalia o superintendente técnico da CNA, Ricardo Cotta.
Apenas em março, o aumento do produto agrícola quase dobrou, ao crescer 0,99% em relação aos 0,54% apurados em igual mês de 2007. Os preços pagos aos produtores rurais subiram 15% no trimestre, em média. Paralelamente, os custos dos insumos e fertilizantes aumentaram 5,65%, ambos influenciados pelo mercado mundial. Esses resultados foram responsáveis pelo aumento do PIB agrícola no trimestre, além da produção recorde, avaliou Cotta.
O técnico da CNA acredita que boa parte dos preços no campo ainda não chegou ao consumidor final, o que pode impactar na inflação futura. Apenas nos últimos 12 meses, até abril, os preços dos fertilizantes subiram 75%, para R$ 1,319 mil a tonelada.
Tanto o aumento dos preços dos produtos agrícolas como dos insumos, segundo Cotta, são elevados pelo mercado internacional, cuja demanda permanece aquecida. Na média, as exportações de commodities agrícolas brasileiras crescem 20% em média. "Podemos dizer que 90% do crescimento das exportações é influenciado pelos preços", complementou o assessor técnico da Comissão Nacional de Comércio Exterior da CNA, Matheus Zannela.
O resultado do trimestre confirma a tendência de expansão da atividade no campo para 2008. Com isso, Cotta acredita que o crescimento do PIB do agronegócio brasileiro deverá superar dois dígitos este ano. Ou seja, ficar acima de 10% e superar o crescimento de todo o PIB nacional, cuja previsão do governo é de 5%.
Apenas o valor bruto da produção da agropecuária deve crescer 27,6% para R$ 277 bilhões este ano, conforme estima a CNA.
Apesar da retomada do agronegócio, após sérias crises de renda entre as safras 2004/05 e 2005/06 – Cotta disse existir um descompasso no campo. Isso porque, diz, o bom dinamismo do agronegócio não se reflete em aumento de renda para o produtor rural que continua com "margens de lucro espremidas" em decorrência dos aumentos de preços dos fertilizantes, dólar depreciado e gargalos na infra-estrutura. O algodão é uma das culturas mais prejudicadas porque os preços estão estáveis, segundo Cotta. Ele diz que a rentabilidade do campo, cuja estimativa da Conab para este ano é de um avanço de 6,7%, em média, não acompanha a alta dos preços que subiram 15% apenas no trimestre.
Na região de Sorriso (MT), uma das principais produtoras de soja do País, o custo de produção da commodity estimado para o ano é de 13%, em média.
Para ele, se o crescimento superior a 10% se confirmar este ano os agricultores terão sérios problemas nos portos para escoar a mercadoria, o que deve elevar ainda mais os custos logísticos. "Estamos vivendo um excelente cenário de preços no mundo, mas isso não chega ao bolso do produtor brasileiro. A agropecuária terá que se readequar às novas condições de preços ".