"Mesmo com a crise internacional, que derrubou boa parte das commodities nas bolsas em janeiro, são os fundamentos que precificam os produtos", observa Leonardo Sologuren, da consultoria Céleres. E no caso do milho e da soja, os fundamentos tiveram um forte peso no comportamento dos preços , afirmam analistas ouvidos pelo Valor. "Os registros de exportação americanos para o milho foram altos em janeiro, superando os volumes do mesmo período do ano passado", diz Flávia Moura, da Fimat Futures, corretora de commodities com sede em Nova York. "Há uma forte demanda pelo grão por parte de Taiwan, Japão e Coréia do Sul."
A maior demanda, combinada com a alta do petróleo, ajudou a sustentar as cotações do milho no mês passado. Segundo cálculos do Valor Data baseados nas cotações médias mensais dos contratos futuros de segunda posição de entrega (normalmente os de maior liquidez), o salto do milho foi de 14,29% no mês passado. Os preços médios da soja subiram 8,78% no mesmo período.
"Os fundamentos para soja também permanecem os mesmos", afirma Sologuren. A área de soja nos EUA só não crescerá mais porque foi limitada pelo milho.
As incertezas sobre os rumos da crise mundial continuam e o mercado ainda se divide sobre o possível recrudescimento da recessão americana. "Se a recessão for realmente confirmada, o cenário para as commodities agrícolas pode mudar radicalmente" afirma Sologuren. Flávia observa que a resolução do Fed, o banco central americano, de reduzir a taxa de juros dos EUA, pode sinalizar cenário positivo para as commodities.
O trigo, que quase dobrou de preço nos últimos 12 meses, registrou apenas leve aumento em janeiro. Apesar ainda dos estoques menores em importantes países produtores do cereal, a commodity foi mais pressionada pelas turbulências, por conta de especulações de recuo de demanda pelo produto.
Já as commodities negociadas na bolsa de Nova York sentiram mais o impacto da crise internacional, com exceção do açúcar, que teve comportamento atípico de alta, mesmo com os fundamentos negativos pesando sobre o produto. As cotações médias dos contratos futuros fecharam com aumento de 12,48% em janeiro.
"Os preços do açúcar subiram impulsionados por compras de fundos no mercado. Havia notícias também de gargalo logístico na Índia, que não conseguia escoar o produto", afirma Rodrigo Costa, da Fimat. A alta do petróleo também ajudou a sustentar as cotações do produto. Mesmo assim, o cenário para a commodity é baixista, considerando a produção recorde de cana no Brasil e na Índia, os dois principais produtores mundiais.
No caso do café, mesmo os fundamentos indicando aumento de demanda, os preços não reagiram motivados pelos fundamentos. As cotações médias do grão subiram 2,53% no mês passado. Os fundos de investimentos também miraram o cacau no mês de janeiro. "De repente, o cacau ficou mais atraente para os fundos. Há um exagero. Os preços podem voltar a ceder", afirma Thomas Hartmann, da TH Consultoria. Os preços médios da amêndoa subiram 5,36% em janeiro. Segundo Hartmann, a falta de chuvas nos países produtores da África também deu suporte aos preços.
As cotações médias do algodão subiram 6,42% no mês de janeiro. O cenário não é tão positivo para a commodity, que em caso de recessão poderá registrar queda da demanda. O suco de laranja pode ter um destino parecido, a não ser que a safra americana de laranja sofra novo revés. No mês passado, as cotações médias da commodity registraram queda de 4,67%.