O Brasil é o maior parceiro comercial da Índia na América Latina. Os países também atuam juntos nas reuniões da Organização Mundial do Comércio (OMC)sobre a Rodada Doha e integram o G-20, o G-4 e o grupo das maiores economias emergentes, conhecido como BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China). "Bom dia. É um prazer estar aqui", disse Patil, em português, na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). "Não poderia haver melhor local para começar minha primeira visita ao exterior como presidente", declarou.
A presidente lembrou que 18 empresas farmacêuticas indianas já abriram escritórios no Brasil e que duas grandes empresas na área de Tecnologia de Informação (TI) têm planos de investir no Brasil. "Empresas petroleiras indianas já investiram no Brasil aproximadamente US$ 750 milhões. Por outro lado, Marcopolo e Gerdau têm investimentos na Índia, e a Embraer possui um escritório de representação", ressaltou.
Madhur Bajaj, vice-presidente da maior montadora de automóveis na Índia, a Bajaj, e ex-presidente da Confederação da Indústria Indiana (CII), disse que a parceria econômica entre Brasil e Índia na era da globalização é estratégica para que os países possam enfrentar os desafios de forma conjunta. "A Índia também gostaria de se beneficiar do acordo com o Mercosul", acrescentou
Bajaj liderou a delegação de empresários indianos, que acompanha a presidente em sua visita ao Brasil. A comitiva chegou com quase uma hora de atraso ao local, em função dos congestionamentos que atingiram São Paulo na manhã dessa terça-feira (15-04). "Graças à minha indústria", brincou o empresário. A Índia é o sexto maior consumidor mundial de energia no mundo e pretende, nos próximos cinco anos, investir em novas usinas para ampliar em 120 mil megawatts o seu parque de geração. Para se ter uma idéia, a capacidade energética instalada no Brasil atualmente é de 100,7 mil MW.
A Índia é fortemente dependente da energia gerada por carvão. Na capital, Mumbai, os níveis de poluição são bastante elevados e as ameaças de blecaute são constantes, uma vez que o equilíbrio entre oferta e demanda de energia está no limite. "Temos muito interesse em aumentar a geração de energia limpa", disse Bajaj. Acordos de cooperação e investimentos em etanol e biocombustíveis devem ser um dos principais assuntos da visita da delegação indiana, composta também pelo ministro de Energias Renováveis do país, Vilas Muttemwar, que também tem forte atuação na área automotiva. Ainda nesta manhã, Muttemwar participou de reunião fechada com a diretoria da Fiesp.
Não por acaso, o diretor do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Fiesp, Roberto Giannetti da Fonseca, lembrou que os portugueses trouxeram da Índia a cana-de-açúcar para o Brasil. O país é o segundo maior produtor de cana no mundo, atrás apenas do Brasil, já conta com a presença de grandes montadoras em seu território e adiciona 5% de etanol à gasolina. "Essa planta se tornou a primeira atividade econômica importante de nosso país e hoje representa uma atividade de primeira grandeza no Brasil, que desponta como uma das grandes esperanças de nossos países na questão do meio ambiente e de energia renovável", citou Muttemwar.
Os investimentos em energia são fundamentais para que o país consiga manter o elevado nível de crescimento econômico registrado no ano passado, de 9,4%. Para este ano e para as próximas três décadas, o governo indiano prevê um crescimento anual médio de 9%. A Índia também tem interesse em atrair investimentos e trocar conhecimento, por meio de joint ventures, nas áreas de mineração, tecnologia de informação, infra-estrutura e alimentos.
Atualmente, a Índia é a quarta maior economia do mundo e deve chegar à terceira posição até 2050, de acordo com previsão da Goldman Sachs. Em 20 anos, a classe média indiana deve saltar dos atuais 5% de toda a população, de cerca de 1,2 bilhão de habitantes, para 40%, segundo a McKinsey. Entre 200 milhões e 300 milhões de pessoas devem migrar para as áreas urbanas do País nos próximos 15 anos – hoje, 70% da população vive em áreas rurais. "Isso deve trazer novos desafios e oportunidades para as empresas brasileiras. Por isso temos de ampliar e melhorar nosso comércio bilateral", afirmou Giannetti da Fonseca.
"Uma corrente comercial de US$ 3,1 bilhões é pouco se comparada à expressão econômica de Brasil e Índia", disse o presidente da Fiesp, Paulo Skaf. O dirigente admitiu que acompanha com preocupação os rumos da Rodada Doha. "Portanto, é muito importante que saibamos combater com firmeza qualquer tentativa de enfraquecimento na operação entre Índia e Brasil no âmbito do G-20", acrescentou.
"Tenho convicção de que nosso melhor parceiro comercial na Ásia é a Índia", disse o presidente da Câmara de Comércio Brasil-Índia, Roberto Paranhos, que, sem citar a China, ressaltou o respeito da Índia por leis e patentes, a estabilidade econômica e política do país e o regime democrático de governo, além da política de juros baixos. "Mas a Índia quer parcerias na área comercial, e não a mera exportação/importação", alertou. "O governo da Índia oferece financiamento para empresas que busquem parcerias com nosso país", confirmou Bajaj, citando também que o país também oferece incentivos fiscais para os investidores estrangeiros.
Pratibha Patil se encontra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Brasília na quarta-feira. Depois de deixar o Brasil, a presidente da Índia viaja para o Chile e o México, que também são grandes parceiros comerciais do país asiático. O presidente Lula, esteve na Índia em junho. Já o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, visitou o país em março.