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Previsões iniciais da área plantada com milho nos Estados Unidos

Leia publicação de João Carlos Garcia e Jason de Oliveira Duarte, Pesquisadores da área de economia rural da Embrapa Milho e Sorgo.

Redação (10/04/2008)- Situação mundial

No dia 31 março, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos liberou o relatório sobre intenção de plantio das principais culturas na safra que se inicia brevemente. As previsões preliminares sobre as principais culturas são as seguintes:

Área plantada com milho 8% menor do que em 2007.

Área plantada com soja 18% superior à de 2007.

Área plantada com algodão 13% inferior à do ano anterior.

Os produtores de milho pretendem plantar 34,8 milhões de hectares de milho para todos os propósitos no ano de 2008; esta área é 8% menor do que a do ano passado, que foi a maior área plantada desde 1944. A área a ser plantada com milho é menor do que a do ano passado na maioria dos estados americanos. Preços favoráveis para outros grãos, custos de produção mais altos para milho e decisões sobre rotação de culturas estão motivando alguns fazendeiros a plantar menos hectares com milho. Mesmo assim, apesar da diminuição, a área com milho permanece em níveis historicamente altos à medida em que as perspectivas de preço do milho permanecem sólidas, em parte devido ao continuo crescimento da produção de etanol.”

Um dos aspectos preocupantes destas estimativas é que parte desta redução prevista está ocorrendo em estados onde se concentra grande parte da produção de milho e não em estados marginais. Caso isto ocorra, o impacto sobre a redução da produção poderá ser maior em decorrência da maior produtividade normalmente obtida nestes estados.

Deve-se reconhecer que estas estimativas ainda são preliminares e que ajustes podem ser efetuados por ocasião da realização do plantio, mesmo em função de expectativas abertas pela própria divulgação destas informações. Entretanto, esta previsão de área plantada fortalece as perspectivas de um ano difícil em termos de abastecimento de milho no mundo. Em um relatório sobre estoques de milho nos Estados Unidos (liberado no mesmo dia pelo USDA), existe uma indicação acerca da elevação do consumo de milho no período dez/2007 a fev/2008 em cerca de 18% acima do consumo relativo ao mesmo período, um ano atrás. Foram registrados também incrementos na produção de aves e  suínos, o que indica que o consumo de milho está crescendo também em áreas convencionais e não apenas nas relacionadas com a produção de etanol.

Por conta dos fatores anteriormente apresentados, e também por uma certa dose de especulação financeira, o milho quebrou, no dia 9 de abril passado, mais um recorde histórico de preços em bolsas de mercadorias americanas.

Do lado da Europa, dados estatísticos indicam que, pelo terceiro ano consecutivo, a área plantada de milho vem se reduzindo, fato que se agrava com a ocorrência de possíveis acidentes climáticos que reduzem a produtividade das lavouras. Por outro lado, os países da Europa, com receio de aumentar mais ainda o efeito da inflação dos alimentos em seus países, têm reduzido as restrições às importações de milho transgênico. Estas restrições explicaram parte do prêmio recebido pelo milho brasileiro, que é não-transgênico ou apresenta participação desprezível deste tipo de milho. Esta abertura poderá afetar o preço recebido no Brasil, ao abrir possibilidades de importação de países como os Estados Unidos ou a Argentina. Com relação a este último país, as retenções estabelecidas pelo governo federal sobre as receitas de exportação reduzem os incentivos de preços do mercado internacional.

 
Situação interna
A Conab liberou no início de abril o sétimo levantamento da safra de grãos referente à safra de 2007/08. Com a safra de verão praticamente encerrada, estima-se uma produção de cerca de 38,8 milhões de toneladas de milho nesta época de plantio, 6,8% acima da safra de verão do ano anterior. A produção esperada é cerca de 770 mil toneladas superior à do levantamento anterior, sendo que, deste acréscimo, cerca de 570 mil toneladas são referentes à revisão de produção das regiões Norte e Nordeste. Para as atividades de criação animal localizadas nestas regiões isto é uma boa notícia, pois indica uma safra 35% superior à anterior, derivada principalmente do acréscimo de produtividade resultante de condições climáticas mais favoráveis.

No resto do país, com exceção do Rio Grande do Sul, que apresentou redução de produtividade, a safra de verão se mostra favorável. Aliás, o crescimento da produtividade das lavouras de milho é que vem sustentando o crescimento da produção na safra de verão. No Paraná, a produtividade média, segundo o Deral/Secretaria de Agricultura, é a maior já colhida no estado. O mesmo ocorre em outros estados grandes produtores, como Minas Gerais, São Paulo, Santa Catarina e Goiás. Isto fornece uma boa garantia para o abastecimento interno.

Com relação à safrinha, é esperada uma produção de 17,4 milhões de toneladas, um acréscimo de cerca de 2,6 milhões de toneladas em relação à safra de 2007. Deste acréscimo, parte considerável vem do aumento da área plantada (7,2% a mais do que no ano de 2007), o que já está realizado (embora em época mais atrasada). O restante é esperado em função de um aumento de produtividade (10% superior ao da safra de 2007), o que ainda é uma incerteza. O atraso no plantio poderá submeter as lavouras a condições climáticas mais severas e fazer com que o acréscimo de área não resulte necessariamente em um acréscimo equivalente de produção, mesmo que a tecnologia em uso tenha sido superior à de anos anteriores. Deve-se lembrar que os próprios agricultores ajustam a tecnologia a ser utilizada na safrinha à medida em que o atraso no plantio implica em possíveis condições climáticas mais desfavoráveis. Nesta situação, mesmo a migração de plantios de milho para plantios de sorgo pode ser mais recomendável.

Do lado do consumo, as informações são de crescimento das atividades de criação animal, o que fornece suporte para os preços no mercado interno. Existem indicativos de acréscimo na produção de aves e aumento na produção de leite (o país se firma como exportador de produtos lácteos).

Nas previsões da Conab e de consultorias privadas, existiria um montante de cerca de 11-12 milhões de toneladas de milho em condições de serem exportadas. Aos preços esperados no mercado internacional (a conferir o desdobramento da safra americana), esta quantidade poderia ser atingida. Na verdade, ela necessita ser atingida para que os preços internos não transformem a excelente safra em um problema para os produtores de milho no Brasil.