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Produção e consumo de orgânicos crescem no Brasil

Parte desse desempenho foi mostrada ontem em uma reunião na qual se discutiu o papel e também o impacto social que esses alimentos causam.

Redação (29/05/2008)- Cultivados sem agrotóxicos ou adubo químico os alimentos orgânicos conquistam cada vez mais espaço entre os consumidores. Nos últimos anos a produção e a venda praticamente duplicaram em todo o mundo. Em 2003, segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) o mercado desses produtos movimentou R$ 24 bilhões. Só no Brasil foram US$ 200 milhões que ficaram nas mãos de 50 mil agricultores. Com números tão expressivos o governo federal passou a dedicar uma semana à divulgação e reflexão sobre a importância da agroecologia.

Desde a última segunda-feira estão sendo desenvolvidas atividades para propagar a cultura orgânica e estimular mais famílias a se alimentarem dessa maneira. No Vale do Rio Pardo a programação é desenvolvida em Santa Cruz do Sul onde está localizada uma unidade do Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor (Capa) e a Cooperativa Regional de Agricultores Familiares Ecologistas (Ecovale). O trabalho acontece em parceria com alunos e professores da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs). Até amanhã serão apresentadas algumas das vantagens em torno dos orgânicos e divulgadas informações sobre os benefícios que eles trazem, tanto para a saúde quanto para quem os consome.

Parte desse desempenho foi mostrada ontem em uma reunião na qual se discutiu o papel e também o impacto social que esses alimentos causam. Para comprovar os resultados práticos foi organizado um café da manhã com sucos, bolos, doces e até erva-mate produzida sem qualquer tipo de componente químico artificial.

NÚMEROS

Reconhecida como uma das metodologias mais promissoras, a agroecologia conta com um programa específico mantido pelo governo federal. Seu objetivo é fortalecer as iniciativas realizadas pela agricultura familiar, criando condições de estímulo à transição da produção tradicional para modelos sustentáveis. No Plano Safra da Agricultura Familiar 2005/2006 foi anunciada uma linha de crédito de investimento para o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf Agroecologia), aos agricultores que desenvolvem sistemas de produção baseados nos princípios da agroecologia ou que estão em fase de transição para essa atividade.

A opção pelo cultivo orgânico já alcançou mais de 24 milhões de hectares pelo mundo, com crescimento anual de 20%. A Europa lançou um desafio – converter 20% da sua área agrícola em orgânica.

A técnica de se cultivar sem agrotóxicos foi retomada há cerca de 80 anos e ganhou impulso na década de 1970. No Brasil, estimativas apontam que o setor cresce em média 30% a 50% ao ano.

As maiores culturas são de soja (31%), hortaliças (25%) e café (25%). A maioria das áreas plantadas é com frutas (26%), cana-de-açúcar (23%) e palmito (18%). Os produtos processados e exportados com maior destaque são o café, açúcar, castanha de caju e óleos vegetais. Segundo levantamento do Centro Internacional de Comércio (ITC), existem no País mais de 7 mil produtores já certificados ou em processo de certificação, ficando a produção agropecuária como o setor com o maior número de certificados.

Custo mais elevado dificulta acesso
Integrante da Comissão de Produção Orgânica do Rio Grande do Sul (Cporg/RS) a coordenadora do curso de Horticultura da Uergs, Magnólia Silva, salientou que um dos principais desafios à atividade fica por conta do acesso e credenciamento dos produtores. O primeiro corresponde aos custos ­– normalmente maiores – desses produtos. A outra preocupação fica por conta da certificação das áreas em que ocorre o cultivo. Associadas, essas duas situações são consideradas as mais alarmantes, pois ao mesmo tempo em que dificultam acesso do público, fazem com que ocorram problemas para quem pretende conquistar renda a partir desse modelo de cultivo.

Segundo ela, nesta semana se aproveitou para divulgar a importância social do orgânico, que além de gerar renda possibilita maior qualidade de vida. “Procuramos mostrar aos estudantes e comunidade todos os benefícios. Mas sabemos que existem dificuldades quanto o preço final que ainda costuma ser alto. Por esse motivo, se torna um artigo mais elitizado”, reconhece. Considerada a região em que a agricultura orgância é a mais promissora do Brasil, o Sul deve ser beneficiado por meio de uma consulta popular organizada pelo Mapa, com o objetivo de definir novas normas para a produção. “O processo é muito complexo. Não é do dia para a noite que uma lavoura passa a ser considerada orgânica. Os custos são muito elevados para a certificação”, apontou.

Sistema do Capa serve de exemplo mundial
As experiências do Capa na produção de alimentos orgânicos foram apresentadas no Congresso Mundial sobre o Futuro do Alimento e da Agricultura, em Bonn, na Alemanha, de 12 a 16 de maio. O assunto foi relatado pela agrônoma Rita Surita, de Pelotas, que representou a América Latina.

Ela ministrou a palestra Pode a agricultura orgânica alimentar o mundo?. No evento foram apresentados três estudos de caso de parceiros do Serviço de Desenvolvimento da Alemanha (EED) – um da Tanzânia, outro da Indonésia e, pelo Brasil, a experiência do Capa, ONG ligada à Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB). Rita falou sobre o programa de segurança alimentar que, inclusive, foi premiado pela Caixa Econômica Federal, como uma das dez melhores Práticas de Gestão Local do Brasil, e pela ONU como uma das cem melhores práticas mundiais em gestão local.

Através desse programa, há quatro anos, 3,5 mil agricultores familiares, pescadores artesanais e quilombolas fornecem alimentos para 22 mil famílias que fazem parte do Fome Zero em Pelotas, São Lourenço do Sul, Canguçu e Santa Vitória do Palmar, distribuindo 5 mil toneladas de alimentos e gerando renda de R$ 7 milhões.

As reuniões foram preparatórias à 9ª Conferência das Partes (COP 9) no âmbito da Convenção das Nações Unidas sobre a Diversidade Biológica (CDB), e a 4ª Reunião das Partes (MOP 4) sobre o Protocolo de Cartagena para prevenção dos riscos biotecnológicos.

SAIBA MAIS

O Protocolo de Cartagena sobre Biossegurança é o primeiro acordo firmado no âmbito da Convenção sobre Diversidade Biológica. Visa assegurar um nível adequado de proteção no campo da transferência, da manipulação e do uso seguro dos organismos vivos modificados (OGMs) resultantes da biotecnologia, que possam ter efeitos adversos na conservação e no uso sustentável da diversidade biológica.