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Produtor estoca milho e prejudica inflação

Como o milho está na base da alimentação de frangos, poedeiras e suínos, a alta no grão será repassada para os preços das carnes e do ovo.

Redação (27/05/2008)- A colheita do milho da primeira safra entrou na fase final, mas o preço do grão não dá sinais de queda, o que é mau presságio para a economia. Apostando numa elevação de preços, os agricultores estocam o grão para vender fora da safra. Como o milho está na base da alimentação de frangos, poedeiras e suínos, a alta no grão será repassada para os preços das carnes e do ovo que têm peso significativo na inflação. No sudoeste paulista, principal região produtora do Estado de São Paulo, os silos e armazéns estão lotados.

De acordo com o engenheiro agrônomo Edgar Petisco, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado na região de Itapetininga, os produtores que possuem silos para estocar o milho são os que têm as maiores áreas de cultivo. Ele sabe que a melhor moeda do momento é o milho no silo.

O agrônomo calcula que aproximadamente 40% da produção estão sendo estocados. O produtor vai escoar de outubro para frente, quando os preços estarão no pico. João Ferreira Cardoso, agricultor de Capão Bonito, encheu o silo com o equivalente a 20 mil sacas de milho e só vendeu o excedente a R$ 25 a saca.

Ele acredita que, em outubro, o preço vai bater em R$ 30. O cenário é favorável, pois o mercado internacional é comprador, disse. A possibilidade de ganho com o milho estocado é maior do que qualquer aplicação financeira, segundo ele. O produtor Valdir Maschetto, de Itapetininga, resistiu ao assédio dos granjeiros e reservou 40% da produção obtida em 160 mil hectares. Ofereceram R$ 25 a saca aqui no sítio, mas se eu esperar um pouco, pego um preço melhor.

Em São Paulo, a colheita deve terminar no final de junho. A safra de inverno, também conhecida como safrinha, será colhida entre julho e agosto. Depois, o mercado só terá milho novo a partir de janeiro. Embora a produção nacional possa chegar a 57 milhões de toneladas, segundo a última previsão da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a escassez de milho preocupa os produtores de frangos e ovos. Precisamos que o governo se conscientize da necessidade de manter os estoques internos, disse José Roberto Bottura, diretor da Associação Paulista de Avicultura (APA).

O problema, segundo ele, é o risco de exportar em excesso e causar falta de milho no mercado interno. No ano passado, as exportações excederam a previsão. O governo só soube depois que o milho estava lá fora. Para Bottura, o granjeiro já paga R$ 29 a saca de 60 quilos e só está conseguindo se equilibrar porque o preço do frango teve alta de 18% entre abril e maio. É um cenário preocupante, pois também não sabemos até que ponto o consumidor vai absorver o repasse desse aumento.

Ele acredita que o consumo pode migrar para a carne bovina de segunda. Isso ainda não aconteceu porque o preço do boi também está elevado. De acordo com o último levantamento da Conab, o Brasil vai produzir na safra 2007/08 cerca de 57,8 milhões de toneladas, 12,7% a mais que na safra 2006/07. A área de plantio cresceu 9,2%, chegando a 14,6 milhões de hectares. A produtividade média por hectare aumentou 6,7% em razão, sobretudo, das boas condições climáticas. Em escala de produção, o milho só perde para a soja, o grão mais cultivado no País.