Redação (04/04/2008)- A reestruturação da dívida agrícola, proposta pelo governo federal, deverá beneficiar entre 80% e 90% dos produtores rurais endividados. O plano será apresentado no próximo dia 10 e vai contemplar os produtores com descontos que podem chegar a 70% com pagamento em até cinco anos. O valor total da dívida chega a R$ 87 bilhões. O anúncio foi feito ontem pelo ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento Reinhold Stephanes, durante a cerimônia de abertura da 48 Exposição Agropecuária e Industrial de Londrina.
Não foi o produtor rural que se endividou, mas endividaram o produtor, disse Stephanes. Segundo ele, a raiz de muitas dívidas está nos planos econômicos – Cruzado e Real – e foi agravada pelas intempéries climáticas. Conforme a proposta, produtores com dívidas de até R$ 10 mil devem ter 80% de descontos com prazo de pagamento para cinco anos. Quem deve mais de R$ 50 mil deve obter 60% de desconto com o mesmo prazo para quitação. Produtores que optarem pelo pagamento à vista serão beneficiados com um desconto maior.
Fizemos o plano para beneficiar os produtores com dívidas pequenas. Quem deve menos terá mais desconto; quem deve mais terá menos desconto, observou o ministro. Seriam beneficiados com a renegociação cerca de 35 mil produtores rurais. Para formatar a proposta, foram levantadas as fontes de cada dívida (planos econômicos ou problemas climáticas) e a sua situação. Também foram calculadas as gorduras (juros) acrescentadas às dívidas. Para cada bloco (de endividados) foi definido um formato para retirada destas gorduras. Os descontos variam de 30% a 70%, disse.
Este projeto está em estudo há dez meses com participação de equipes dos ministérios da Fazenda, Agricultura, Banco do Brasil, BNDES e representantes da Câmara dos Deputados e do Senado. O projeto não foi divulgado antes por falta de consenso, por divergências e os atrasos ocorreram por ajustes das discordâncias, comentou Stephanes. A cobrança pela renegociação da dívida dos produtores também foi o tom do discurso do presidente da Sociedade Rural do Paraná, Alexandre Kireeff.
Ele cobrou não só mais uma prorrogração de dívidas, mas a renegociação em caráter definitivo. Não pedimos perdão de dívidas, muito menos privilégios. Apenas que as particularidades do processo de construção deste endividamento sejam levadas em consideração, enfatizou.
O ministro lembrou que o Paraná é um grande parceiro comercial devido à forte produção agropecuária. Temos boas safras, bons preços, mas isso não significa que a renda do produtor está sendo boa, observou. Nesta safra o País deverá produzir 140 milhões de toneladas de grãos. No ano passado, o agronegócio contribuiu com US$ 60 bilhões para a balança comercial.
Trigo
Nesta safra, o governo irá incentivar a produção de trigo. A meta do ministério é aumentar em 50% a produção, atingindo cerca de 6 milhões de toneladas. Para isso, o ministro anunciou que será fortalecida uma política de preço mínimo superior aos praticados atualmente, seguro rural e financiamentos. Ele lembrou que o Brasil tem que importar 60% do trigo para consumo interno.