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Revolução no consumo chinês está só no início

A China, que já influencia o preço dos alimentos no mercado global, está apenas no começo de uma revolução.

Redação (05/05/2008)-  Sua população gigante consumirá cada vez mais comida e comprará produtos até pouco tempo ausentes nas prateleiras dos supermercados, como leite, carne bovina e vinho.

Com mais dinheiro no bolso e uma moeda que ganha peso em relação ao dólar, os chineses diversificam seus hábitos alimentares e freqüentam os sonhos de produtores agropecuários ao redor do mundo com equações do tipo “se cada chinês consumisse…”. Bem, se cada chinês consumisse 1 quilo a mais de carne bovina por ano, o volume seria equivalente ao total das exportações brasileiras do produto in natura em 2007.

Segundo maior exportador de soja, óleo de soja e frango para a China no ano passado, o Brasil se movimenta lentamente para garantir uma fatia do que deverá ser um dos mais promissores mercados de alimentos do mundo. “Quer algo mais estratégico do que vender comida para 1,3 bilhão de pessoas que têm cada vez mais dinheiro para comprar comida?”, indaga o embaixador brasileiro em Pequim, Luiz Augusto de Castro Neves.

Com uma grande área de terras agriculturáveis ainda inexploradas, o Brasil aparece como o candidato óbvio para alimentar os chineses, que ocuparam todo o espaço possível para o cultivo dentro de seu país e perdem a cada ano 404,7 mil hectares de terra no que parece ser um inexorável processo de desertificação. Mas o potencial de vendas brasileiras é limitado por problemas sanitários e pelo pouco número de diplomatas e funcionários públicos que se dedicam às negociações com o país mais populoso do mundo.

Por enquanto, os Estados Unidos lideram a venda de produtos agropecuários para a China e, no ano passado, foram os maiores exportadores de soja, algodão e frango. Também ficaram entre os três maiores exportadores de peixe congelado, óleo de soja, nozes e castanhas, trigo e milho. O porcentual dos bens agropecuários no total das vendas americanas para a China cresceu 200% desde 2002 e atingiu 15% em 2007.

Algumas entidades que representam produtores brasileiros acreditam que o governo não dá a atenção que deveria ao mercado chinês. “A China mereceria um enfoque especial, uma atenção redobrada. O setor privado consegue fazer pouco, pois o diálogo é governo com governo. Falta prioridade, falta empenho, falta entrosamento entre o Ministério das Relações Exteriores e o Ministério da Agricultura”, afirma Pedro de Camargo Neto, presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína.

A carne de porco é a preferida dos chineses, que consomem a cada ano metade da oferta mundial do produto. O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos tem uma equipe 30 americanos e 40 chineses espalhados em seis escritórios ao redor da China. Eles se dedicam somente às exportações de produtos agropecuários e ao acompanhamento de barreiras sanitárias. Ainda que com equipes bem menores, todos os outros grandes exportadores agrícolas possuem há anos em suas embaixadas em Pequim funcionários que cuidam exclusivamente do setor.

Todos os meses, os chamados “adidos agrícolas” se reúnem para trocar experiências sobre as dificuldades que enfrentam e discutir mudanças na política de importação da China. O grande ausente nos encontros é o Brasil, o único produtor de peso a não ter um representante específico para a questão agropecuária em Pequim.

No mês passado, o governo anunciou que mudará essa política e nomeará adidos agrícolas para oito embaixadas, incluindo a China. Os escolhidos ainda passarão por um curso de seis meses no Itamaraty e, na melhor das hipóteses, assumirão os cargos no fim do ano. Além de não ter uma pessoa que cuide apenas de exportações agropecuárias, a Embaixada do Brasil em Pequim está desfalcada, com apenas 8 das 12 vagas para diplomatas ocupadas.

As negociações para permitir a exportação de produtos brasileiros caminham lentamente e o País ainda enfrenta problemas sanitários, que restringiram as vendas de carne bovina e de frango para o país asiático. A demanda por frango na China está em alta e o consumo per capita nas zonas urbanas aumentou 240% entre 1990 e 2006, para 8,34 quilos per capita.

Acordo fechado em 2004 permitiu a exportação do produto, mas ela foi suspensa no ano seguinte depois do registro em algumas granjas da doença de Newcastle, um vírus que é altamente contagioso entre aves. Depois de controlado o problema, enviados do Ministério da Agricultura da China fizeram inspeção preliminar em 22 granjas e deram sua aprovação para a retomada das exportações. Mas apenas duas das 22 chegaram a ser analisadas pela quarentena chinesa, que dá a palavra final para realização do embarques.

Das duas granjas, uma foi suspensa por registrar a presença de bactérias e outra por suspeita de irregularidades nas exportações. Ainda assim, o Brasil conseguiu embarcar no ano passado 163,4 mil toneladas do produto até junho, quando as vendas foram interrompidas, o que representou aumento de 63% em relação ao ano anterior. Em relação à carne de porco, o acordo para exportação do produto só foi assinado em novembro de 2007, mas precisa ser ratificado por autoridades superiores. A idéia era que isso ocorresse na próxima reunião da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível, no segundo semestre, mas o Brasil pediu que formalização do acordo seja antecipada. A China concordou.

“O Brasil tem condições de aproveitar essa enorme demanda, desde que se prepare para um mundo que é cada vez mais competitivo”, avalia o embaixador Castro Neves.