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Safra 2008/09 começa amanhã, mas não há recursos no banco

A previsão é que o dinheiro demore de duas a três semanas, no mínimo, para ser disponibilizado pelo governo federal.

Redação (30/06/2008)- A safra 2008/09 começa oficialmente amanhã, mas só na quarta-feira é que o governo irá anunciar os recursos para o financiamento do plantio e a previsão é que o dinheiro demore, no mínimo, duas a três semanas para chegar ao banco – devido à burocracia. Isto não significa, no entanto, que estará nas mãos dos produtores, pois há ainda a pendência da renegociação do endividamento. Este é o ano em que o anúncio é feito mais tardiamente no atual governo. São esperados R$ 65 bilhões para o setor.

"A condição de o produtor acessar o recurso depende das emendas à MP da Renegociação, que vai ampliar o nível de adimplência", diz Carlos Sperotto, presidente da Comissão de Crédito Rural da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Segundo ele, quem vai se beneficiar com o atraso na liberação dos recursos é o setor de fertilizantes. "Quanto mais tempo passa, mais caro fica o insumo", conclui.

Analistas de mercado acreditam que parte dos insumos já foi contratada. Segundo Carlos Cogo, diretor da Cogo Consultoria Agroeconômica, houve um agendamento grande de compra de adubos e fertilizantes. Ele lembra que, em média, essas negociações são feitas a juros duas a três vezes superiores aos nominais. O diretor da Safras & Mercado, Flávio França Júnior, diz que as vendas de insumos para a soja, neste ano, estão 20% superioras a 2007 e a estimativa do setor é que, ao fechamento de 2008, fiquem 8% maiores. Segundo ele, parte desta diferença é o que deve estar sendo feito antecipadamente. França Júnior acrescenta que a demora na liberação dos recursos deve impactar no aumento dos custos, concentrando a aquisição dos insumos, além de o endividamento feito antecipadamente, teoricamente significa um juro mais alto. Pelos dados do Sindicato Nacional das Indústrias de Produtos para Defesa Agrícola (Sindag), as vendas de agrotóxicos, no primeiro quadrimestre deste ano, cresceram 15% na comparação com o mesmo período de 2007. "Mas isso não chega a ser um exagero, se comparado com 2004", afirma José Roberto da Ros, vice-presidente executivo do Sindag. De acordo com ele, 80% das vendas – que somam R$ 5 bilhões – são feitas com financiamento do setor, pois o agrotóxico é o último insumo que o produtor compra. "Quando chega no defensivo, não tem mais dinheiro oficial", diz. O sindicato ainda não tem previsão de quanto da safra 2008/09 já foi contratada.

"Além disso, no caso dos outros produtos, que não a soja, a dependência dos recursos do governo é maior. E, portanto, o atraso, mais prejudicial, pois muita gente, como o produtor de milho, começa a plantar mais cedo que a soja", afirma França Júnior. O sócio-diretor da RC Consultores, Fábio Silveira, diz que um atraso no liberação dos recursos não é uma boa notícia nem para o produtor, nem para o consumidor. De acordo o economista, a demora na liberação do crédito pode impactar no tamanho da safra e o risco de a safra não ter um crescimento razoável retarda uma possível queda nos preços dos alimentos. "Portanto, haverá uma queda mais lenta na inflação".

"Quanto mais cedo sair o recurso, melhor para o produtor se programar", afirma Cogo. Na sua avaliação, por conta da queda nos depósitos à vista – exigibilidade bancária, em 2007 representou quase metade dos valores anunciados pelo governo – os juros subsidiados não devem ser suficientes nem para um terço da safra. Cogo acrescenta ainda que, para compensar o aumento dos custos de produção – média de 30% – seriam necessários entre R$ 80 bilhões e R$ 100 bilhões – um acréscimo de 37% a 70% em relação a 2007, quando o estimado, por enquanto, é de 12% a mais. O secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Edilson Guimarães, diz que os valores ainda não estão definidos – a previsão é que hoje o Conselho Monetário Nacional (CMN) analise os votos agrícolas do plano. Segundo ele, a queda nos depósitos à vista vai impactar, mas as estimativas iniciais é que não foi tão grande como se esperava. Guimarães diz ainda que o anúncio dia 2 de julho não vai trazer prejuízo ao produtor. "Ele contrata o financiamento com a norma vigente". Ou seja, se houver mudança na taxa de jurou ou no limite de crédito, quem quiser fazer a operação antes do tempo da burocracia entre o Banco Central e os agentes financeiros, pagará pelos valores da safra passada. "O que dá um pouco mais de trabalho é o de investimento, que a norma do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) demora mais", diz.

Por meio de sua assessoria, o Banco do Brasil, afirmou que as agências terão condições de atender as propostas após o anúncio